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Olimpíada

Boxeadora argelina vítima de polêmica sobre gênero aciona Justiça contra ataques virtuais

A atleta, que conquistou a medalha de ouro na categoria até 66kg, foi vítima de fake news que questionavam seu gênero

Imagem da noticia Boxeadora argelina vítima de polêmica sobre gênero aciona Justiça contra ataques virtuais
A argelina foi alvo de polêmicas sobre seu gênero nas Olimpíadas| Instagram
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A boxeadora argelina Imane Khelif, alvo de uma das maiores controvérsias da Olimpíada de Paris, recorreu à justiça francesa após sofrer ataques virtuais nos últimos dias. A atleta, que conquistou a medalha de ouro na categoria até 66kg, foi vítima de fake news que questionavam seu gênero, o que gerou uma onda de assédio cibernético.

A queixa formal foi apresentada a uma unidade especializada do Ministério Público francês, responsável pelo combate ao ódio online. Nabil Boudi, advogado de Khelif, descreveu o caso como "um grave assédio cibernético" e afirmou que a boxeadora foi alvo de uma "campanha misógina, racista e sexista".

+ Boxeadora argelina não é transexual, mas pessoa intersexo; entenda diferença

A decisão de abrir uma investigação agora está nas mãos dos promotores franceses. A denúncia de Khelif não nomeia suspeitos específicos, deixando a cargo dos investigadores a identificação dos responsáveis pelos ataques.

A promotoria de Paris confirmou que recebeu a queixa de Burrows no dia 4 e que a Unidade Nacional de Luta contra o Ódio Online está investigando as ofensas, incluindo ameaças de morte, incitação ao ódio e cyberbullying. De acordo com a lei francesa, esses crimes podem resultar em penas de prisão de dois a cinco anos e multas que variam de 30 mil a 45 mil euros (aproximadamente R$ 180 mil a R$ 270 mil).

A argelina foi alvo de polêmicas quando venceu a italiana Angela Carini no dia 1º de agosto. Após 46 segundos de luta, a italiana abandonou o confronto após tomar um soco "que a machucou muito", segundo ela declarou depois. Há uma particularidade na luta que levantou polêmica: como Imane não passou no teste de gênero do boxe, a disputa foi considerada injusta.

+ Pessoas intersexo: relembre atletas que tiveram participação questionada em competições esportivas

O caso ganhou proporção porque Imane Khelif não passou no teste de gênero do boxe. Muitos acreditaram que a argelina era uma pessoa transexual e criticaram sua participação nos Jogos de Paris. No entanto, ela é uma pessoa intersexo, termo bem menos conhecido, usado para designar pessoas que não se encaixam perfeitamente no sexo masculino ou no sexo feminino.

O que é uma pessoa intersexo?

O sexo é definido pelos cromossomos, órgãos genitais, órgãos reprodutivos internos e hormônios. Porém, um a cada 10.000 bebês nascidos, segundo dados divulgados pela ONU, pode apresentar uma divergência entre esses fatores. É possível, por exemplo, que os órgãos sexuais externos sejam femininos, mas os internos masculinos, ou vice-versa. Ou que os níveis de hormônios masculinos (testosterona) e femininos (progesterona e estrogênio) estejam em desacordo com o sexo da pessoa.

A atleta argelina foi autorizada a competir pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), apesar de ter sido desclassificada de outras competições pela International Boxing Association (IBA), que mediu seus níveis de testosterona. O COI não mede os níveis de testosterona, que podem, justamente, ser um sinal de intersexualidade. A boxeadora taiwanesa Lin Yu-Ting, que também participa das Olimpíadas de Paris, enquadra-se no mesmo caso

Intersexo é diferente de transexual?

Apesar dessa condição, Imane é uma mulher cis, que se identifica com o gênero atribuído a ela ao nascer. Já as pessoas transexuais são aquelas que têm uma identidade de gênero divergente do sexo biológico atribuído no nascimento.

Segundo o urologista Ubirajara Barroso Júnior, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado no tema, pessoas intersexo são diferentes de transexuais, mas pode haver pessoas intersexo que também se identificam como transexuais. "Como a pessoa se identifica é uma questão particular de cada um", ressalta.

Apesar dos ataques, Khelif manteve o foco durante a Olimpíada e conquistou a medalha de ouro, tornando-se uma heroína na Argélia. No domingo, durante a cerimônia de encerramento dos Jogos, ela foi a porta-bandeira de seu país.

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