Moderado e discreto, novo papa já fez críticas a Trump e defendeu imigrantes; veja o perfil de Leão XIV
Apesar de rebater vice dos EUA e defender 'amor ao próximo', Prevost demonstrou oposição a relações homoafetivas, mas é sensível em relação aos pobres
SBT News
O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito nesta quinta-feira (8) como o novo papa, chamado Leão XIV. Ele foi eleito por pelo menos 89 dos 133 cardeais votantes, atingindo dois terços do colégio eleitoral do conclave. Com dupla nacionalidade — estadunidense e peruana —, será o primeiro pontífice norte-americano.
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O perfil de Leão XIV é considerado moderado e discreto e um pouco mais conservador que seu antecessor, embora o novo pontificado possa ter semelhanças com o do Papa Francisco, segundo o New York Times.
Apesar de ser norte-americano, Robert Francis Prevost demonstrou oposição a posicionamentos políticos e ações do presidente Donald Trump. Em suas redes sociais, ele fez críticas ao atual vice-presidente dos EUA, JD Vance, que é católico.
No dia 3 de fevereiro de 2025, Prevost compartilhou um artigo publicado pelo National Catholic Reporter com o título: “JD Vance está errado: Jesus não nos pede para graduar nosso amor pelo próximo”.
A publicação foi uma resposta às declarações feitas por Vance durante uma entrevista à Fox News, em que o político afirmou que "existe um conceito cristão de que você ama sua família, depois ama seu próximo, depois ama sua comunidade, depois ama seus concidadãos e, depois disso, prioriza o resto do mundo. Boa parte da extrema esquerda inverteu completamente isso". Prevost foi direto ao contestar a afirmação.
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Preocupado com as questões migratórias, dez dias depois, o então cardeal divulgou uma carta do papa Francisco endereçada aos bispos dos Estados Unidos, na qual o pontífice criticava duramente a política migratória adotada por Trump.
Mais recentemente, Prevost voltou a se manifestar nas redes, desta vez fazendo críticas à visita do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, aos EUA, além de condenar a deportação de um imigrante em situação irregular.
Apesar das críticas, JD Vance divulgou uma nota parabenizando Leão XIV, destacando o fato de ele ser “o primeiro Papa norte-americano”. Donald Trump também seguiu o mesmo tom, declarando que “deseja conhecer o novo pontífice."
Mais conservador que Francisco, porém alinhado nas pautas sociais
Embora tenha uma postura mais tradicional em temas doutrinários, Leão XIV é visto como alguém de perfil reservado e com sensibilidade social, seguindo os passos do papa Francisco ao acolher grupos marginalizados.
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Durante seu tempo à frente de importantes funções no Vaticano, Prevost liderou uma das reformas mais significativas promovidas por Francisco: a inclusão de três mulheres no grupo responsável por votar as indicações de bispos que seriam enviadas ao papa, de acordo com a Associated Press.
No início de 2025, Francisco reafirmou confiança em Prevost ao nomeá-lo para o cargo mais elevado entre os cardeais, o que foi interpretado por muitos como um indício de que desejava vê-lo como sucessor.
De acordo com o jornal The New York Times, o novo papa já criticou a imprensa por favorecer visões que, segundo ele, contrariam os ensinamentos do evangelho, citando entre os exemplos o “estilo de vida homossexual” e as “famílias alternativas formadas por casais do mesmo sexo com filhos adotivos”.
Posição crítica às relações homoafetivas
Ainda não se sabe se o novo Papa adotará postura tão aberta em relação à comunidade LGBTQIA+ quanto a de Francisco.
Em 2012, ao discursar para bispos, Prevost lamentou a forma como a cultura ocidental e a mídia promovem “simpatia por práticas e crenças que contradizem o Evangelho”, ainda conforme o The New York Times.
Ele se referia diretamente às relações homoafetivas e aos lares formados por casais do mesmo sexo com filhos adotados.
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Além disso, o novo pontífice foi alvo de críticas por sua conduta diante de casos de abuso sexual envolvendo padres, uma das crises mais graves da Igreja nos EUA nas últimas décadas.
Em 1999, Prevost foi eleito 'prior' provincial dos agostinianos no Centro-Oeste dos EUA. Um ano depois, ele enfrentou acusações — que nega — de permitir que um padre, fora da ordem agostiniana e acusado de abusar de menores, residisse em uma reitoria em Chicago localizada a poucos metros de uma escola católica.
Em 2022, enquanto servia no Peru, foi acusado de omissão ao não abrir investigação sobre denúncias de abuso envolvendo dois sacerdotes. A diocese refutou com veemência as acusações, e uma apuração conduzida pela Congregação para a Doutrina da Fé concluiu que as alegações não tinham fundamento.
Pena de morte
Em uma publicação no X (antigo Twitter), Prevost divulgou um vídeo em que condena a pena de morte, ainda válida em diversos estados norte-americanos, classificando-a como “inaceitável”.
“Pessoalmente — e proclamarei isso na Santa Missa — acredito que devemos sempre estar do lado da vida, em todas as circunstâncias. Isso significa, não apenas no plano pessoal, mas como Igreja, afirmar que a pena de morte não é admissível”, declarou em entrevista ao jornal La República, do Peru, em 19 de abril de 2022.