Saiba quem é O.J. Simpson: Da glória nos campos ao julgamento do século
Ex-astro do futebol americano será lembrado por uma carreira brilhante e pelos tumultuados eventos que o seguiram
O.J. Simpson, cuja notoriedade no futebol americano foi obscurecida por controvérsias extracampo, morreu na quarta-feira (10), aos 76 anos, conforme anunciado por sua família. O ex-astro norte-americano, Orenthal James Simpson, sucumbiu a um câncer, de acordo com declarações de familiares nas redes sociais nesta quinta-feira (11).
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Nascido em 1947 em São Francisco, Califórnia, Simpson alcançou o estrelato durante a trajetória universitária na Universidade do Sul da Califórnia (USC), onde conquistou o Troféu Heisman (prêmio anual dado para o melhor jogador da temporada do futebol americano universitário) em 1968. Toda essa habilidade o impulsionou para a National Football League (NFL), onde se destacou como "running back", especialmente no Buffalo Bills.
Simpson teve uma carreira reconhecida na liga profissional, estabelecendo diversos recordes. Ele também foi selecionado várias vezes para o Pro Bowl, o jogo que reúne os melhores jogadores da liga, e foi introduzido no Pro Football Hall of Fame, criado para homenagear os maiores da história, em 1985.
Suspeito de assassinato
No entanto, foi após a aposentadoria do esporte que a vida de O.J. Simpson tomou um rumo sombrio. Em 1994, a ex-esposa dele, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ronald Goldman, foram encontrados mortos do lado de fora da residência de Nicole em Los Angeles. O.J. Simpson logo foi apontado como o principal suspeito dos assassinatos a facadas. Cinco dias depois, O.J. Simpson tentou fugir e a perseguição por quase 100 km ao seu carro, um Ford Bronco, foi televisionada para todo os Estados Unidos.
As emissoras de TV interromperam a cobertura das finais da NBA de 1994 e da abertura da Copa do Mundo para transmitir a perseguição ao vivo. Ela foi assistida por cerca de 95 milhões de pessoas.
O julgamento ficou conhecido como "O Julgamento do Século". Durante o processo, a defesa de Simpson alegou que ele foi vítima de preconceito racial e lançou dúvidas sobre a integridade das provas apresentadas pela acusação. O julgamento foi televisionado ao vivo, atraindo uma audiência global, se tornando um fenômeno cultural.
O "Caso O.J. Simpson" rapidamente se transformou em um dos mais notórios julgamentos criminais da história norte-americana, desencadeando um frenesi midiático e debates acalorados sobre raça, celebridade e justiça. Transmitido ao vivo, o julgamento dividiu a opinião pública e gerou controvérsias sobre a integridade do sistema judiciário.
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Durante o julgamento, tanto a defesa quanto a acusação adotaram estratégias meticulosas para persuadir o júri e moldar a narrativa em torno do caso de O.J. Simpson. A defesa, liderada por advogados renomados como Johnnie Cochran, Robert Shapiro e F. Lee Bailey, centrava-se na ideia de que Simpson havia sido alvo de preconceito racial e de uma investigação policial enviesada. Eles exploraram lacunas nas evidências apresentadas pela acusação e levantaram questões sobre a integridade das provas encontradas no local do crime.
Por outro lado, a acusação, liderada pela promotora Marcia Clark, procurou apresentar um caso sólido baseado em evidências forenses e testemunhos de especialistas. Eles tentaram estabelecer uma linha de tempo dos eventos na noite dos assassinatos e conectar Simpson aos crimes por meio de provas físicas e testemunhos de testemunhas oculares.
Além disso, o julgamento foi marcado por momentos dramáticos, como a famosa luva encontrada na cena do crime, que supostamente pertencia a Simpson. Durante uma demonstração perante o júri, Simpson foi instruído a experimentar a luva, que parecia não caber, levando Cochran a proferir a famosa frase: "Se a luva não cabe, você deve absolver".
Essas estratégias complexas e os momentos de alta tensão durante o julgamento contribuíram para a repercussão mundial e para a divisão da opinião pública sobre a culpabilidade ou inocência de O.J. Simpson.
A absolvição de Simpson em 1995 foi uma surpresa para muitos e gerou debates intensos sobre o sistema de justiça americano, o papel da raça e da celebridade nos julgamentos, e a qualidade da investigação policial.
Séries e Filmes
Em janeiro de 2022, a Netflix lançou a série "The People v. O.J. Simpson: American Crime Story", que recontou os eventos do julgamento de forma envolvente, conquistando elogios da crítica e diversos prêmios, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Minissérie ou Filme para Televisão.
Em maio de 2016, a ESPN produziu um documentário intitulado "O.J.: Made in America". Dirigido por Ezra Edelman, o documentário não apenas aborda o julgamento de O.J. Simpson, mas também examina seu contexto histórico e cultural mais amplo, explorando questões de raça, celebridade, violência doméstica e justiça nos Estados Unidos.
"O.J.: Made in America" é uma série documental em cinco partes, originalmente transmitida pela ESPN em junho de 2016. O documentário recebeu aclamação da crítica e ganhou vários prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem em 2017. Ele oferece uma visão abrangente e aprofundada do caso O.J. Simpson, desde sua ascensão ao estrelato no futebol até seu julgamento e suas consequências.
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Nova prisão
Apesar de ter sido considerado inocente do crime penal, Simpson não escapou de problemas legais. Em 1997, foi considerado responsável pelos assassinatos em um julgamento civil e foi ordenado a pagar uma indenização de US$ 33 milhões às famílias das vítimas. Isso se tornou apenas uma nota de rodapé em um dos julgamentos criminais mais famosos da história estadunidense.
O.J. Simpson continuou a atrair a atenção da mídia e do público ao longo dos anos, principalmente por suas aparições na mídia, incluindo um livro polêmico intitulado "If I Did It", no qual especula sobre como teria cometido os assassinatos "se" fosse culpado. Ele também foi preso em 2007 por sua participação em um incidente armado em um hotel em Las Vegas e foi condenado por roubo à mão armada e sequestro.
Reação do público
Após cumprir parte de sua sentença na prisão, Simpson foi libertado condicionalmente em 2017 e permanecia em liberdade condicional desde então.
Após sua libertação condicional, a reação pública à nova fase da saga de O.J. Simpson foi intensa e polarizada, refletindo as divergentes opiniões que cercam o caso desde o início. Para muitos, sua libertação representou um retorno à liberdade após anos de prisão, enquanto para outros foi uma lembrança perturbadora dos eventos que o absorveram até aqueles que o levaram à prisão.
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Aqueles que acreditavam na inocência de Simpson o receberam com celebração, vendo sua libertação como um passo em direção à justiça novamente restaurada. No entanto, para os que o consideravam culpado, sua liberdade condicional foi vista como um revés na busca pela verdade e pela responsabilização pelos novos crimes e os assassinatos de Nicole Brown Simpson e Ronald Goldman.
As redes sociais e os meios de comunicação foram inundados com opiniões conflitantes, alimentando debates acalorados sobre a natureza da justiça e sobre a pessoa de O.J. Simpson. Alguns expressaram esperança de que ele pudesse aproveitar a segunda chance para se redimir e reconstruir a vida, enquanto outros permaneceram céticos quanto às intenções e ao caráter.