Promessa de emprego na Rússia levanta suspeita de tráfico humano e alerta autoridades
Empresa russa oferecia salários altos e benefícios a jovens brasileiras, mas proposta é investigada pela Interpol como aliciamento

Flavia Travassos
Leonardo Ferreira
Em busca do sonho de mudar de vida, viajar para o outro lado do mundo por uma boa proposta parece tentador: salário alto, passagem aérea e moradia pagas para trabalhar na produção de drones. A oferta foi divulgada por uma empresa russa. Mas havia um detalhe: as vagas eram destinadas apenas a mulheres entre 18 e 22 anos.
A companhia em questão é a Alabuga Start, localizada no Tartaristão, região central da Rússia. Ela é investigada pela Interpol sob suspeita de aliciar mulheres para o tráfico humano.
No Brasil, a divulgação chegou a ser feita em perfis de influenciadores com milhares de seguidores. Foi o caso da cantora e influenciadora MC Thammy, que publicou o anúncio em suas redes sociais. “Então, se você está esperando um sinal para mudar de vida, esse é o sinal”, dizia o vídeo compartilhado por ela.
Menos de 24 horas depois, a publicação foi apagada e a influenciadora pediu desculpas. “Eu jamais imaginaria que seria uma coisa nesse nível, então, eu peço desculpas”, afirmou.
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Em entrevista, MC Thammy explicou que também foi enganada. “Meus próprios seguidores começaram a comentar na publicação que eu tinha postado, então, eu já comecei a desconfiar. Nem nós influencers estamos livres de ser enganados pelas pessoas e eu me coloco como vítima nessa situação porque eu também fui enganada.”
Tráfico de pessoas
Segundo uma organização internacional de combate ao tráfico de pessoas, a promessa de tantos benefícios já indica suspeita de crime.
“A estratégia é sempre pelas mídias sociais, oferecendo trabalhos que parecem incríveis, com passagem, moradia, com tudo. Então, tudo isso configura e dá sinais claros de tráfico de pessoas”, alerta a diretora da The Exodus Road Brasil, Cíntia Meirelles
De acordo com a ONG, o tráfico humano é o terceiro crime mais praticado no mundo. Atualmente, 50 milhões de pessoas são vítimas, exploradas em trabalho escravo, adoção ilegal e tráfico de órgãos.
O crime movimenta 150 bilhões de dólares por ano, o equivalente a mais de 800 bilhões de reais. Um terço das vítimas é formado por crianças, cerca de 17 milhões de meninos e meninas levados para outros países, muitos deles para exploração sexual.
A Ásia é o continente com maior incidência, mas brasileiros também estão na mira dos criminosos. Nesta semana, um relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos apontou que o Brasil foi rebaixado de nível em relação ao combate ao tráfico humano.
Cíntia Meirelles ponta falta de ações práticas: “Quantas vítimas resgatou? Quantas campanhas de prevenção foram feitas? Qual é a capacitação das forças policiais? Qual é o sistema de acolhimento dessas vítimas? Essa resposta o Brasil não está dando de forma prática.”
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Em nota ao SBT, o Ministério da Justiça e Segurança Pública disse que o documento americano é unilateral, baseado apenas na legislação dos Estados Unidos, sem critérios embasados em organismos internacionais como a ONU.
O governo informou ainda que já tem conhecimento da suposta oferta de vagas feita pela empresa russa e que as autoridades competentes trabalham na apuração dos fatos.
MC Thammy afirma que aprendeu com o episódio: “Agora eu estou pagando esse preço para aprender essa lição. Queria dizer para todas as pessoas tomarem cada vez mais cuidado, não só com a internet, mas com tudo o que veem, porque a gente nunca sabe ao certo a veracidade dos fatos.”