Presidente da CNI diz que Brasil e EUA têm a oportunidade de serem os maiores produtores de etanol
Ao SBT, Antonio Ricardo Alban destacou a intenção da indústria do Brasil para o trabalho conjunto com os EUA para o mapeamento das terras raras brasileiras

Patrícia Vasconcellos
Washington DC – Um dia antes da audiência pública que reuniu 130 representantes da indústria brasileira e de organizações norte-americanas, o SBT conversou com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Antonio Ricardo Alvarez Alban. Ele está nos Estados Unidos acompanhado de líderes de associações de diversos setores para duas missões: participar da audiência na Comissão Internacional de Comércio Exterior e realizar reuniões com representantes do governo e da iniciativa privada. No Capitólio, os grupos iniciaram nesta quarta-feira (3) o primeiro dia de encontros.
+Português oferece dinheiro para matar brasileiros e expõe aumento da xenofobia em Portugal
A audiência pública na Comissão Internacional de Comércio Exterior é uma das etapas da investigação iniciada pelos Estados Unidos no começo de julho a mando do presidente norte-americano que acusa o Brasil de práticas comerciais desleais.
"O importante é mostrar a preocupação dessas cerca de cento e trinta pessoas representando empresas e instituições”, disse Antonio Ricardo Alban.
Na entrevista ao SBT, o presidente da CNI falou sobre diálogo e destacou os setores que, segundo sua perspectiva, podem se beneficiar se acordos econômicos vencerem os desafios políticos. Ele citou, por exemplo, as terras raras.
“O Brasil é considerado hoje a segunda maior reserva, mas não temos nem o nosso país totalmente mapeado geologicamente. Nós podemos desenvolver em conjunto, não só essa exploração”, afirmou.
+Microfone capta Putin e Xi-Jinping discutindo transplantes de órgãos e vida até os 150 anos
Confira a íntegra da entrevista:
São 130 empresários. Qual a importância dessa representação aqui na capital americana nesse momento?
O importante é mostrar a preocupação desses cerca de 130 pessoas representando empresas e instituições. Nós temos 80 representando empresas ou instituições brasileiras e 50 representando instituição e ou empresas americanas. Mostrar o grau de preocupação e da necessidade que nós temos de efetivamente negociar, de compor uma mesa de negociação onde os princípios econômicos, comerciais e racionais devam prevalecer.
Representantes da Fiesp, Fiemg e também das associações como Abrinq já estão presentes aqui na capital americana. Há um setor específico da indústria brasileira que está mais preocupado ou é uma preocupação geral?
É uma preocupação de alguns setores. Temos o pessoal de aviação que mesmo com 10% é algo ainda muito pesado para o setor de aviação, onde ele é isento em qualquer lugar do mundo. Mas nós temos setores que são bem significativos pela transversalidade e por representarem produtos de valor agregado maior, com tecnologia embarcada, que é o setor de máquinas e equipamentos.
Esse além de ser muito transversal, ele foi atingido sobre todas as hipóteses, porque inclusive nós temos a própria Seção 212, onde nós temos o detalhe de que produtos que têm aço ou alumínio também ficaram taxados em 50% e existe uma séria discussão qual é o TO do aço, qual é o TO do alumínio e todas as máquinas e equipamentos, além de que nesse setor também nós temos as empresas intercompany, nós temos muitas empresas americanas, bastante conhecidas, que operam no Brasil e operam nos Estados Unidos, fazendo complementariedade de suas produções. Essa transversalidade é muito importante, mas temos também setores pequenos, de empresas pequenas que por serem pequenas, elas têm pouca capacidade de mobilização, mas que representam às vezes a economia daquele município. Nós temos, por exemplo, o setor de carnaúba, uma coisa tão singela, mas os Estados Unidos não tem a opção de comprar e pode representar às vezes a vida daquela atividade econômica daquele município.
Nós temos setores também de perfis, molduras de madeira, que preparam para aquelas casas americanas feitas de madeira, que muitas cidades do sul do país, alguns municípios vivem em função dessa exportação e assim sucessivamente, como alguns setores de pescado, como os setores de mel, tem uma série de produtos que não são tão significativos, mas para aquelas empresas, ou talvez para aquelas comunidades, eles são bastante representativos e não existe a facilidade tão ampla de se poder trocar de mercado de uma forma ágil ou de uma forma que evite talvez uma situação mais grave para a empresa.
Na audiência que vai acontecer nesta quarta-feira (3) no que se baseia a defesa da CNI e no que vai ser exposto lá?
Na realidade dos fatos. Eu acho que essa é a melhor resposta que eu posso dar porque na verdade são seis itens que a investigação da Seção 301 aborda, que seria para o país, onde tem muitas coisas que nós precisamos desmistificar. Dentre elas o desmatamento. Dentro delas, essa discussão etérica sobre o etanol. Nós temos tantas oportunidades do etanol. Discutir o etanol porque nós temos o etanol de milho que traz uma taxa do americano, o americano cobra uma taxa do etanol de milho se for para lá, a cana-de-açúcar. Nós temos a oportunidade de sermos o maior produtor de etanol do mundo, Estados Unidos e Brasil, onde o mundo demanda cada vez mais combustíveis autossustentáveis e combustíveis para fazer o SAF, que é o Sistema Aviation Fuel, que serve para fazer os combustíveis de aviação sustentáveis. Nós podemos estar estabelecendo verdadeiras parcerias de ganha-ganha. Nós estamos desenvolvendo no Brasil o SAF a partir da Macaúbas, que é uma tecnologia nova que está sendo feita lá com o fundo Mubadala, nós estamos falando no Brasil de fazer SAF também através do etanol, através do Agave, que poderá ser transformada em SAF. Nós agora estamos fazendo uma pesquisa que vem de uma tecnologia de fora para também implantar eucalipto e produzir etanol do eucalipto. Nós temos tantas complementaridades que precisamos sair dessa discussão de décadas e que talvez não seja um dom mais importante, nós temos muito mais que agregar.
Qual a sensação em relação ao resultado dessa audiência? Qual o ânimo dos senhores que estão aqui? É realmente debater ou os senhores acreditam que é realmente possível sair com resultado positivo?
Eu acredito que nós possamos trazer, digamos naquela linguagem mais singela, uma luz no final do túnel desse imbróglio político e geopolítico. Com relação à seção 301, podemos esquecer que ela está começando, ela tem um prazo de até um ano. Esse é um processo longo, burocrático e técnico, e isso vamos atuar. O que nós também estamos motivando a vir aqui é para fazer a discussão através do escritório que nós contratamos, para fazer o lobby, para começar um processo de sensibilização e se montar uma mesa, uma mesa de negociação com relação às tarifas de 50%.
Essa é a nossa expectativa, nós tivemos hoje em janeiro já com o histórico Ballard, tivemos agora com o West Chamber, vamos começar as reuniões bilaterais na quarta-feira, vamos estar também no Capitólio, para que a gente possa sensibilizar da importância dessa relação bilateral. Não só apenas pela história do Brasil, mas pelo potencial que ela representa, até mesmo geopolítico, para um país, uma maior economia do hemisfério sul, digo, da América do Sul, que nós temos para fazer, tem o México também campeão, nós estamos fazendo a semana passada uma reunião bilateral no México com o Brasil, que promete bons resultados. Então nós temos muito mais do que somar, do que ficar preso às questões políticas ou geopolíticas, que podem até não ser proveitosas. Nós precisamos fazer a relação comercial de nós estamos desenvolvendo, nós estamos trazendo os três temas para colocar na mesa, o tema do SAF, que envolve o etanol, o tema dos data centers, que envolve a nossa grande vantagem competitiva que são as energias renováveis e a mudança que nós temos hoje, para poder fazer essa utilização do principal insumo que é dos data centers, que são a energia, principalmente a energia renováveis. E estamos terminando de trazer também aqui um outro ponto que é muito importante para que nós possamos discutir a relação Brasil-Estados Unidos, que vai ser colocado na mesa como aspectos novos, a fazerem parte de um entendimento e o que nós queremos, que o ganha-ganha. Qual é esse outro ponto? Minerais críticos, as terras raras. Nós também temos aqui as terras raras, o Brasil é considerado hoje a segunda maior reserva mas não temos nem o nosso país totalmente mapeado geologicamente. Nós podemos desenvolver em conjunto, não só essa exploração.
Os Estados Unidos podem ajudar nisso?
Podem ajudar muito e nós vamos também ajudar na tecnologia, a tecnologia de escalar a parte do beneficiamento, depois da produção de ímãs, que as terras raras são muito usadas para ímãs, principalmente para ficar relé, para a nova tecnologia, ela é muito importante para que nós possamos fazer esse desenvolvimento de pesquisa, de inovação e tecnologia em conjunto, agregando valor no Brasil e agregando valor também nos Estados Unidos, porque em toda área que você tem de beneficiamento de minério, você tem um consumo de energia. Então nós podemos fazer isso dentro de uma vantagem competitiva que nós temos de energia limpa, agregar um valor e até para posterior, pode ser feito nos Estados Unidos como no Brasil. São oportunidades ímpares que nós não podemos perder.
Para finalizar, que mensagem os representantes da indústria do Brasil, tantos setores aqui, dão ao público brasileiro, que estão talvez um pouco apreensivos com esse momento da economia global, que mensagem o senhor quer dar?
Olha, que vale a pena manter o processo de política industrial que se iniciou recentemente, mesmo com todos esses contratempos e que nós vamos ser resilientes, mas persistentes e que temos certeza que vamos conseguir encontrar essa mesa de negociação, uma grande válvula de escape para essa relação bilateral Brasil-Estados Unidos, através do comércio bilateral, buscando deixar a política no lugar onde ela tem que deixar, a geopolítica dentro da estratégia de nação, para que a gente possa construir esse país, essa relação, não só com os Estados Unidos, como no mundo. O que o Brasil precisa é manter o que ele sempre foi até hoje, um país friendly, um país que relaciona com todo mundo, que tem relação com todo mundo.