Países da União Europeia defendem negociação, mas não descartam retaliar tarifa de Trump
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, diz que vai salvaguardar interesses do bloco; presidente do México diz ter certeza de acordo

SBT News
com informações da Reuters
O anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, neste sábado (12) de tarifar em 30% os produtos europeus a partir de 1º de agosto, repercutiu entre autoridades do continente.
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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que poderão ser tomadas medidas proporcionais, mas que vai trabalhar para chegarem a um acordo até a data definida para o começo das sobretaxas.
"Tomaremos todas as medidas necessárias para salvaguardar os interesses da UE, incluindo a adoção de contramedidas proporcionais, se necessário", disse. "Poucas economias no mundo se equiparam ao nível de abertura e adesão da União Europeia a práticas comerciais justas".
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse que tem certeza de que um acordo pode ser alcançado com os Estados Unidos antes que as tarifas de 30% anunciadas pelo presidente Donald Trump entrem em vigor, em 1º de agosto. Durante um evento no Estado mexicano de Sonora, Sheinbaum acrescentou que a soberania do México não é negociável.
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Apoio de líderes
Líderes europeus rapidamente seguiram a mesma linha.
"Como parte da unidade europeia, cabe mais do que nunca à Comissão afirmar a determinação da União em defender os interesses europeus de forma resoluta", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, no X.
A ministra da Economia da Alemanha, Katherina Reiche, pediu em uma declaração um "resultado pragmático para as negociações".
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"As tarifas atingiriam duramente as empresas exportadoras europeias. Ao mesmo tempo, elas também teriam um forte impacto sobre a economia e os consumidores do outro lado do Atlântico", disse ela.
O Ministério da Economia da Espanha apoiou novas negociações, mas acrescentou que a Espanha e outros países da UE estavam prontos para tomar "contramedidas proporcionais, se necessário".
Trump x UE
Trump tem se insurgido periodicamente contra a União Europeia. Ele chegou a dizer, em fevereiro, que ela foi "formada para ferrar os Estados Unidos".
A maior queixa do norte-americano é o déficit comercial de mercadorias entre o país e o bloco, que em 2024 chegou a US$235 bilhões, de acordo com dados do U.S. Census Bureau. A UE tem apontado repetidamente para o superávit dos EUA em serviços, argumentando que ele, em parte, reequilibra a balança.
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Combinando bens, serviços e investimentos, a UE e os Estados Unidos são, de longe, os maiores parceiros comerciais um do outro. A Câmara de Comércio Americana para a UE disse em março que a disputa comercial poderia comprometer US$9,5 trilhões em negócios na relação comercial mais importante do mundo.
Repercussão
"A Europa não deve se deixar intimidar por isso, mas deve buscar sobriamente uma solução na mesa de negociações em termos iguais", disse Dirk Jandura, presidente da associação de exportadores alemães BGA, acrescentando que as últimas ameaças eram uma parte "bem ensaiada" de sua estratégia de negociação.
Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING, disse que a ação de Trump sugeria que meses de negociações permaneciam em um impasse e que as coisas estavam se aproximando de um momento decisivo para a relação comercial transatlântica.
"A UE agora terá que decidir se vai ceder ou jogar duro", disse ele. "É difícil tirar conclusões reais neste momento, a não ser que isso trará volatilidade ao mercado e ainda mais incerteza."
Cyrus de la Rubia, economista-chefe do Hamburg Commercial Bank, observou que o peso das tarifas dos EUA, se implementadas, seria sentido pelos consumidores americanos.
"A UE deve adotar uma linha dura nas negociações, porque os cálculos do modelo mostram que as tarifas contra a UE têm um efeito negativo mais forte nos EUA do que na zona do euro."
Dito isso, também haveria repercussões claras para a economia da zona do euro, que já está lutando contra um crescimento fraco.
O Banco Central Europeu utilizou uma tarifa de 10% sobre as exportações da UE para os Estados Unidos como base de referência em suas últimas projeções econômicas, que colocam o crescimento da produção na zona do euro em 0,9% este ano, 1,1% no próximo e 1,3% em 2027.
Segundo o relatório, uma tarifa de 20% imposta pelos EUA reduziria o crescimento em 1 ponto percentual no mesmo período e também diminuiria a inflação para 1,8% em 2027, de 2,0% no cenário de referência. O relatório não apresentou sequer uma estimativa para a possibilidade de uma tarifa de 30%.