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O plano da China para aproveitar o vácuo deixado pelos EUA

País investe em diversas áreas e tenta mudar balanço global de forças

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Montadora de carros elétricos na China: país avança em transição energética enquanto EUA suspendem estímulos na área | Leandro Fonseca/Exame

Desde a segunda metade do século 20, os Estados Unidos foram o principal defensor global do livre-comércio, da cooperação entre os países e de entidades internacionais. Em 2025, o presidente Donald Trump resolveu mudar tudo isso: retirou verbas da ONU, atacou fóruns como o Brics e impôs tarifas para quase todos os países.

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Com isso, a China se tornou uma das principais defensoras do multilateralismo, em um momento que busca ampliar sua força externa. "Trabalharemos duro para que a influência internacional [da China] seja mais forte", disse o Comitê Central do Partido Comunista da China, que comanda o país, em comunicado após sua reunião anual, em outubro. O comitê prepara um novo plano geral para a China, que será anunciado em março de 2026 e definirá a estratégia chinesa para os próximos cinco anos.

A China busca ocupar o vácuo de poder deixado pelos EUA, mas de modo mais discreto e pontual, como parte de uma estratégia maior. "Vemos a China em uma nova era de desenvolvimento, indo de alta velocidade para alta qualidade", diz Henry Huiyao Wang, ex-assessor do Conselho de Estado da China e presidente do think tank Center for China and Globalization (CCG).

A lista de áreas é ampla, e inclui avanços em inteligência artificial, conexões 5G e transição energética. O país lidera a produção de itens como painéis solares e carros elétricos, enquanto Trump retirou incentivos ao setor nos EUA.

O país asiático também ampliou cooperações de saúde na África, com o envio de médicos chineses para áreas pobres, em um momento em que os EUA encerraram a agência de apoio Usaid e se retiraram da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Reduzir uso do dólar

Há, ainda, uma campanha para reduzir a dependência do dólar. Nos primeiros nove meses de 2025, o yuan foi usado em 30% das transações comerciais da China, segundo o Banco Central chinês.

Em 2022, esse percentual era de 20%. A China também lançou uma Iniciativa Global de Governança, para criar regras para finanças, IA, clima e exploração espacial. "Neste momento de transição, não podemos deixar um vácuo no mundo. Temos de usar a influência positiva da China para expandir a cooperação econômica", diz Wang.

O avanço dos planos chineses, no entanto, depende do rumo que os EUA vão tomar e da situação da economia chinesa. Trump, não raro, muda de posição de forma brusca. Além disso, a China precisa resolver questões internas, como reforçar o consumo das famílias para reduzir a dependência das exportações.

"As políticas recentes foram eficazes em antecipar a demanda interna, mas o impacto está diminuindo e a confiança permanece baixa", diz Lynn Song, economista-chefe para a China do grupo financeiro ING. Os passos da China em 2026 ajudarão a definir como será a divisão de poder global pelas próximas décadas do século 21.

(Por Rafael Balago)

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