Médicos Sem Fronteiras critica Fundação Humanitária de Gaza: "Laboratório da crueldade"
Relatório aponta que palestinos desarmados são alvos de tiros em locais de distribuição de alimentos; MSF pede fim da atuação da GHF e retorno da ONU

Vicklin Moraes
O relatório, intitulado "Não é ajuda, é um massacre orquestrado", pede o fim imediato da atuação da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) e defende o retorno da coordenação da ajuda humanitária pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A MSF afirma que famílias famintas estão enviando seus filhos adolescentes, muitas vezes os únicos homens fisicamente capazes, para buscar comida nesses locais, mesmo com o risco extremo. Um dos casos mais graves é o de um menino de 12 anos atingido no abdômen, além de cinco meninas feridas a bala, incluindo uma de apenas oito anos, baleada no peito.
"Crianças baleadas no peito enquanto tentavam coletar comida. Pessoas esmagadas ou sufocadas em tumultos. Multidões inteiras mortas a tiros em pontos de distribuição. [...] Em quase 54 anos de MSF, raramente vimos tamanha violência sistemática contra civis desarmados", diz Raquel Ayora, diretora da organização.
Entre os relatos de vítimas está o de Mohammed Riad Tabasi, que contou ter sido baleado dez vezes: "Vi com meus próprios olhos cerca de 20 corpos ao meu redor. Todos baleados na cabeça ou no estômago", disse.
Dados médicos reforçam a suspeita de violência deliberada: em Al-Mawasi, 11% dos feridos tinham lesões na cabeça e pescoço, e 19% no tórax, abdômen e costas, áreas vitais. Em Khan Yunis, os disparos atingiram majoritariamente os membros inferiores.
"A precisão anatômica desses ferimentos sugere fortemente ataques intencionais contra civis nos pontos de distribuição, e não disparos acidentais ou indiscriminados", afirma trecho do relatório.
Fome em Gaza
A crise humanitária se aprofunda com a desnutrição em massa. Nessa quarta (6), 20 pessoas morreram esmagadas após um caminhão de ajuda humanitária capotar sobre a multidão em Nuseirat, no centro de Gaza.
No domingo (3), ao menos seis mortes por fome foram registradas em 24 horas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Desde o início da guerra, 175 pessoas já morreram por inanição, incluindo 93 crianças, segundo dados de agências internacionais.
Organizações humanitárias alertam que o risco de fome generalizada cresce a cada dia, com bombardeios atingindo infraestrutura civil e restrições severas à entrada de insumos básicos no território.









