Kamala e Trump conseguiram ir além dos ataques pessoais no debate das eleições nos EUA
Com afirmações como "nosso país será Venezuela com esteroides" se Kamala ganhar, Trump evitou contato visual com a oponente, que cresceu nos noventa minutos
Eles nunca haviam se encontrado pessoalmente. Quando Trump foi presidente dos Estados Unidos, Kamala era senadora. No entanto, os dois nunca haviam estado no mesmo lugar ou tinham sido apresentados. Na noite desta terça-feira (10), a atual vice-presidente americana quebrou o gelo com um aperto de mãos: "Muito prazer, sou Kamala Harris", ela disse, ao entrar no palco. Foi a única vez que eles tiveram contato visual. No restante do debate, a democrata quase sempre respondeu virada para o concorrente, enquanto Trump olhava firmemente para os dois moderadores.
Muito menos agressivo que o tom dos vídeos da campanha republicana, Trump seguiu a orientação dos assessores e não fez comentários diretos pessoais em relação a Kamala Harris. "Construímos o melhor pais deste país e o faremos logo de novo", arrancou Trump, confrontado por respostas de Kamala como: " Trump nos deixou o pior índice de desemprego, a pior pandemia, ele só fala mentiras e o que ele prepara é um projeto chamado 2025". " Não tenho nada a ver com este projeto, isso foi inventado", respondeu o republicano.
Como o esperado, Trump defendeu sua política econômica e social durante a pandemia de covid-19 e tentou, ao longo de uma hora e meia, dizer ao telespectador que Kamala é uma extensão de Biden. "Ele deve saber que está concorrendo contra mim e não contra o presidente", disse Kamala em um momento. O ex-presidente retrucou: " Ela não tem um plano. Ela copia o de Biden."
Além de tentar colar a imagem da democrata a do atual presidente, Trump usou toda a oportunidade que teve para falar sobre imigração ilegal. Ao ligar Kamala Harris ao fato de os Estados Unidos terem uma crise nas fronteiras, o ex-líder americano falou algo inédito de forma pública. Disse que imigrantes ilegais estão comendo animais de estimação como cães e gatos. A frase foi contestada pelos apresentadores, que afirmaram não haver evidências de que isso aconteça. Como previsto, Donald Trump falou na democrata extremista que trará, segundo ele, valores ultra liberais. "Seremos a Venezuela com esteroides se ela vencer", ele afirmou em um momento.
+ Quem foi melhor? O primeiro debate entre Trump e Kamala
A escolhida de Joe Biden para seguir na disputa presidencial chegou à Filadélfia no dia cinco de setembro. Para confrontar Trump ao vivo, de pé, sem contato com assessores durante o debate, Kamala treinou em uma espécie de "estúdio recriado", uma réplica do cenário da rede de TV ABC. Um integrante da campanha democrata treinou e ensaiou com Kamala durante dias, fingindo ser Trump.
O ex-presidente esteve concentrado em Nova Jersey e focou, segundo a campanha, em políticas de campanha. A maior preocupação dos assessores de Trump era que ele – se falasse muito de improviso – pudesse parecer agressivo contra uma candidata mulher. A orientação parece ter surtido efeito. Com o áudio do microfone fechado enquanto a oponente falava, os adjetivos foram reduzidos, apesar de o telespectador ter ouvido palavras como "fraca" e "incompetente". Sem poder ter acesso a anotações escritas e sem poder falar com os assessores nos dois intervalos – algo bem diferente dos debates brasileiros – os candidatos à presidência dos Estados Unidos foram vistos pelo telespectador em sua forma bruta. Ensaiados, mas sem a possibilidade de ajustes de fala com integrantes das campanhas.
Imigração, economia interna e guerras tiveram destaque
Em temas delicados para a administração Biden, como a retirada das tropas do Afeganistão e as guerras entre Ucrânia e Rússia e Gaza, Trump soube tirar proveito. Disse que, se eleito, vai acabar com o conflito entre Zelensky e Putin antes mesmo de tomar posse. Disse que Kamala não gosta de israelenses porque, segundo ele, não compareceu ao discurso de Netanyahu ao Congresso americano há alguns meses. Sobre a China, mais do esperado. Deu a entender que ele está mais preparado para conversar com líderes como Xi-Jinping.
O aborto, agora liberado ou não pelos estados, levou minutos a mais para discussão. Trump conseguiu justificar o banimento nacional de forma a não parecer extremista no assunto que divide conservadores e liberais. Assim como no debate contra Joe Biden, pouco foi dito sobre os processos criminais que Trump enfrenta. Sobre o tema, o republicano foi sucinto: "vou ganhar nos recursos". E acusou o Departamento de Justiça de estar vinculado à gestão Biden nessas acusações.
Ao fim, foi um debate energético, em que Trump e Kamala demonstraram estar bem preparados e lidaram bem com as emoções. Apesar do convite de outras emissoras de tevê, esse provavelmente será também o último encontro televisionado entre os oponentes políticos. Trump deve entrevistado pela rede de TV Fox News sem a presença de Kamala, que não confirmou presença no debate sugerido pelo canal.