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Invasão russa na Ucrânia completa 2 anos: veja 10 perguntas e respostas sobre a guerra

Conflito começou em fevereiro de 2022 e já resultou em impactos significativos para segurança e economia global

Invasão russa na Ucrânia completa 2 anos: veja 10 perguntas e respostas sobre a guerra
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Há exatos dois anos o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizava a invasão militar na Ucrânia, iniciando uma das maiores guerras da Europa nos tempos atuais. A chamada "operação especial", contudo, teve mais resistência do que o esperado, sobretudo devido ao apoio financeiro do Ocidente a Kiev. Desde então, os países brigam por domínio de território — disputa que continua impactando a segurança e economia mundial.

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Para fazer um balanço sobre o que aconteceu até agora, assim como as perspectivas para o futuro, o SBT News conversou com James Onnig, professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais da Faculdades de Campinas (FACAMP). Confira 10 perguntas e respostas sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Qual é o atual cenário da guerra?

"O atual cenário da guerra é bastante peculiar se olharmos as guerras que aconteceram nos últimos 30 anos. Trata-se de uma guerra que congelou. Isto é, existem combates, escaramuças, avanços e retrocessos, porém o quadro geral não muda, continua estático. E o que significa estático? A Rússia mantém as províncias conquistadas, e a Crimeia, e a Ucrânia tenta de qualquer forma avançar para expulsar diretamente as tropas russas de seu território. Do ponto de vista internacional, o conflito na Faixa de Gaza [entre Israel e o grupo extremista Hamas] praticamente tomou a atenção da comunidade internacional e isso ajuda a Rússia no seu intento, porque a Ucrânia precisa de ajuda externa e não consegue objetivar a expulsão dos soldados russos", explica Onnig.

"Então, nós temos praticamente um congelamento do conflito. Caso comecem as conversações de paz, os diálogos começarão a partir do quadro atual, de como está o 'tabuleiro' hoje", completa.

Qual é o objetivo da Rússia em derrotar a Ucrânia? Continuam os mesmos do início da guerra?

Para o especialista, os objetivos da Rússia em dominar o território ucraniano continuam os mesmos: impedir que Kiev faça parte da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em ambos os casos, o governo de Kiev já iniciou os debates iniciais para a adesão, o que vem preocupando ainda mais o governo do presidente Vladimir Putin.

"O interesse da Rússia era evitar que a Ucrânia traísse os tratados que tinha até 2014, que deixavam claro a parceria importante que havia entre Rússia e Ucrânia — parceria essa que não poderia ser afetada por interesses da UE ou da Otan. Com o golpe que derrubou o governo pró-russo em 2014, o governo Putin automaticamente não reconheceu o novo governo, ou o governo atual de Volodymyr Zelensky, já que os considera 'usurpadores'. Isso porque as bandeiras desses governos são de entrar na UE e fazer parte da Otan, coisa que Putin não aceita já que a Ucrânia faz limite com a Rússia, deixando mais tropas da Otan perto do país, o que desequilibraria o jogo geopolítico", diz Onnig.

"Sendo assim, os objetivos da Rússia continuam os mesmos: não permitir que a Ucrânia faça parte da UE e da Otan. Por isso que a luta dos russos é tomar as províncias onde existem maioria russa, com discurso de proteger a população etnicamente russa daquelas regiões, e evitar que a Ucrânia faça parte da aliança militar comandada pela Europa Ocidental e pelos Estados Unidos", acrescenta o professor.

A Ucrânia está recebendo ajuda de outros países para conter a invasão?

A resposta é sim. "O mundo ficou indignado com a invasão russa. Num primeiro momento, o Ocidente, especialmente a Otan, iniciou um processo de suporte à Ucrânia para que o país pudesse enfrentar a força militar russa — que todos nós sabemos ser gigantesca. Acontece que a Ucrânia já gastou boa parte desse armamento, evitando o avanço da Rússia em algumas regiões, e agora necessita de mais armas", conta Onnig.

Não é à toa que Zelensky está correndo contra o tempo para conseguir mais ajuda financeira. Na última semana, o líder ucraniano se reuniu com líderes europeus, garantindo mais 3 milhões de euros em auxílio militar da França e 7 bilhões de euros da Alemanha. Um pacote monetário de 50 bilhões de euros também foi anunciado pela UE.

Por telefone, Zelensky também conversou com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que espera a decisão do Congresso sobre o envio de mais US$ 60 bilhões a Kiev. O projeto de lei enfrenta um impasse entre os republicanos, que criticam a magnitude da assistência militar e monetária à Ucrânia, uma vez que Washington já destinou mais de US$ 111 bilhões para ajudar o país desde o início da invasão russa.

O que podemos esperar das batalhas?

Onnig explica que o quadro da guerra não deve se alterar radicalmente nos próximos meses. Segundo ele, para acontecer uma mudança, teria que haver uma ofensiva de grande porte de um dos lados do campo de batalha, obrigando a um grande gasto de equipamentos e perda de vidas. Atualmente, o cenário não é desejado pelos países.

"Nenhum dos países está disposto a fazer isso, pois representaria um ônus num momento em que a comunidade internacional está preocupada com outros conflitos, como é o caso de Gaza. Mas não podemos prever o que vai acontecer. Nos últimos meses, Zelensky vem sofrendo grande pressão interna [devido à guerra], sobretudo por generais ucranianos que criticam abertamente a liderança do político. Portanto, a Ucrânia é que pode lançar uma ofensiva, porém os russos têm todas as condições militares para voltar a avançar", explica o especialistas. "Para os próximos meses são esperados ataques pontuais de ambos os lados, tentando abrir brechas para, talvez a médio prazo, iniciar uma ofensiva", completa.

Quantas pessoas já morreram na guerra?

O último relatório da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) verificou que 10.582 pessoas foram mortas desde o início da invasão russa, enquanto 19.875 ficaram feridas. Outros 4 milhões de moradores foram deslocados internamente, precisando se abrigar em tendas de organizações humanitárias.

Casos de tortura generalizada, maus-tratos e detenção arbitrária de civis pelas forças armadas russas também foram documentados pela entidade, principalmente em territórios ocupados. As práticas representam graves violações do Direito Internacional dos Direitos Humanos e do Direito Internacional Humanitário pelos soldados de Moscou.

Qual é o impacto dos refugiados de guerra no mundo?

Com o avanço da ofensiva russa na Ucrânia, o número de civis que cruzam a fronteira do país não para de crescer. Ainda conforme dados da ONU, pouco mais de 6,3 milhões de ucranianos já deixaram a nação e estão em situação de refúgio, sendo a maioria no continente europeu, em países como Polônia e Moldávia.

A marca supera a previsão feita por membros da ONU, que, inicialmente, esperavam a movimentação de 4 milhões de refugiados. Com isso, o número é considerado como a maior movimentação migratória na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

“Eu chamo a atenção para a Polônia, onde temos hoje o lugar mais importante de abrigo de refugiados ucranianos. Isso é uma situação temporária, porque não podemos classificar os ucranianos como os refugiados sírios, iraquianos ou de outros países do Oriente Médio que sofrem com a islamofobia. Esse não é o caso. Os ucranianos recebem apoio da União Europeia e da Otan, além de fazerem parte da Europa”, pontua Onnig.

À medida que o conflito se arrasta, no entanto, a infraestrutura da Ucrânia vai se deteriorando ainda mais, fazendo com que a chance das pessoas se deslocarem e não voltarem aumente. Isso porque, além do futuro incerto, pode levar anos para que o país consiga se reestruturar completamente, uma vez que os bombardeios russos já destruíram milhares de casas, escolas, hospitais e centros comerciais. Com isso, é provável que as necessidades humanitárias no território permaneçam altas.

Já conseguimos ver as consequências da guerra na segurança na Europa?

Sim. De acordo com Onnig, a segurança no continente europeu está sendo abalada pelo conflito, resultando em respostas pragmáticas, inclusive da Otan.

"Como a Ucrânia não consegue desatar o nó do ponto de vista militar — já que os russos avançam, resistem e mantém as províncias dominadas — houve uma reação militar da Otan em território europeu, organizando um grande treinamento para uma possível guerra contra a Rússia. Essa foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que um contingente militar se encontrou para se preparar para uma possível guerra com a Rússia. O que nós estamos assistindo é uma preparação da Otan para caso a Ucrânia não consiga mais sustentar a guerra, mostrando força para que a Rússia desista de avançar em outras regiões", explica o professor.

E para a economia mundial?

"Para a economia mundial, as consequências são das mais variadas. Com as sanções impostas contra a Rússia pelos países da Europa e Estados Unidos e aliados, as nações deixaram de comprar mercadorias russas, fizeram bloqueios contra o comércio russo e não permitiram a Rússia de operar financeiramente em seus territórios. Isso fez com que a Europa Ocidental precisasse buscar fornecedores de energia mais distantes e com preço mais caro, impactando, portanto, a geração de energia. A transferência desse alto custo foi para os produtos, estagnado a economia europeia", diz Onnig.

As sanções contra a Rússia também resultaram em contratos vantajosos. Segundo o professor, um dos países mais beneficiados foi a Índia, que assinou uma série de contratos para comprar o gás e o petróleo que não estavam sendo enviados para a Europa. Apenas em 2022, por exemplo, as exportações dos materiais para a Índia aumentaram 22 vezes.

Outro país que se beneficiou foi o Brasil, que renovou o contrato com Moscou para a compra de óleo diesel. No ano passado, o mercado brasileiro terminou como segundo maior cliente do produto russo, atrás apenas da Turquia. Ao todo, de todo o diesel importado pelo Brasil em 2023, 50,5% vieram da Rússia e 24,5% tiveram origem dos Estados Unidos.

A guerra afeta o Brasil de alguma maneira?

Assim como a maioria dos países, o Brasil teve que buscar alternativas por segurança. Onnig explica que, num primeiro momento, houve o temor de escassez de fertilizantes, já que a Ucrânia e a Rússia são países exportadores do produto. O cenário, no entanto, acabou se estabilizando. "Com essa mudança geopolítica do petróleo e do gás, o Brasil também sentiu um pouco aumento dos preços, mexendo com a vida econômica brasileira, mas não de forma central como na Europa", completa o especialista.

Podemos considerar a guerra na Ucrânia como estagnada? Há previsão de um fim?

Mesmo com a pressão internacional, ainda não há previsão para o fim da invasão russa na Ucrânia. A projeção de Onnig é que os países tentem retomar o diálogo, congelado há meses, ainda neste ano devido ao desgate na guerra. Diversos países, incluindo o Brasil, já enviaram propostas de paz para as nações, mas a exigência da Ucrânia para que a Rússia retire todas as tropas do país e devolva as regiões ocupadas continua resultando num impasse entre Putin e Zelensky.

"Apesar da política internacional estar cheia de surpresas, eu acredito que, a médio prazo, num período de seis meses, algumas mudanças devem acontecer. Negociações devem ser travadas dos dois lados para que efetivamente os países estabeleçam uma abertura para o diálogo para que alguma luz apareça no final do túnel", projeta o professor.

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