Fome em Gaza mata 113 palestinos; pelo menos 21 vítimas tinham até 5 anos
Mais de 3 mil crianças foram internadas com desnutrição aguda grave no território; ONU diz que estoque de alimentos terapêuticos vai esgotar em agosto

Emanuelle Menezes
com informações da Reuters
Mais dois palestinos morreram de fome durante a noite desta quinta-feira (24), segundo o Ministério da Saúde de Gaza, elevando para 113 o número total de mortos pela fome generalizada que assola o enclave. A maioria das vítimas era criança e pelo menos 21 delas tinham até 5 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
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O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) informou que, de abril a meados de julho, 20.504 crianças foram internadas com desnutrição aguda. Desses pacientes, 3.247 estão sofrendo de desnutrição aguda grave, quase o triplo do número registrado nos primeiros três meses do ano.
Segundo Salim Oweis, porta-voz da Unicef na Jordânia, somente nas duas primeiras semanas de julho, 5 mil crianças com desnutrição aguda foram tratadas em território palestino.
Oweis informou que Gaza está prestes a ficar sem alimentos terapêuticos prontos para uso (ATPU). Eles são usados em casos de grave desnutrição e devem ter os estoques esgotados até meados de agosto. "Estamos agora enfrentando uma situação terrível, pois estamos ficando sem suprimentos terapêuticos", disse.
🔎 Os ATPU são ricos em nutrientes e com alto teor calórico. Eles são uma mistura de manteiga de amendoim, leite desnatado em pó, vitaminas e minerais, e podem ser pastosos ou sólidos, como biscoitos.
Grande parte das mortes por desnutrição aconteceu nas últimas semanas, quando uma grave onda de fome causada pelo bloqueio de ajuda humanitária se abateu sobre o território palestino. O chefe da agência de refugiados palestinos da ONU disse, na terça-feira (22), que até funcionários, médicos e trabalhadores humanitários estão desmaiando durantes os serviços por fome e exaustão.
"Ninguém é poupado: os cuidadores em Gaza também estão precisando de cuidados. Médicos, enfermeiros, jornalistas e humanitários estão famintos", disse o comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini.
Israel mantém o controle de todos os suprimentos de ajuda para a Palestina, onde a população enfrenta deslocamentos frequentes e escassez extrema de itens básicos desde outubro de 2023. Em março, autoridades israelenses bloquearam totalmente a entrada de ajuda humanitária e, no fim de maio, após muita pressão internacional, um grupo apoiado pelos Estados Unidos e por Israel passou a administrar os centros de distribuição – o que tornou a busca por alimentos uma atividade de risco, com mais de mil pessoas mortas desde então.
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Crianças esqueléticas

Samah Matar luta para alimentar seus seis filhos em Gaza e sobreviver à fome. Um deles, um bebê de 10 meses que ela ainda amamenta, sofre de desnutrição. Outros dois, que têm paralisia cerebral, estão esqueléticos.
"O peso das crianças é muito baixo, os ossos estão salientes, não posso dar leite, nem mesmo pão, açúcar para fazer chá, não posso dar nada", disse a mãe.
Ameer Matar, de 4 anos, deveria pesar 10 quilos. Atualmente, o garoto está com 7,4 kg – no nível mais alto de desnutrição. Youssef, de 6, que também tem paralisia cerebral, está definhando desde o início do conflito: "Youssef, antes da guerra, pesava 13 quilos. Agora ele tem 9. Ele é um esqueleto", diz Samah.
A família de oito pessoas mora em uma escola transformada em abrigo na Cidade de Gaza. A mãe pede que as crianças não se mexam tanto, "para não desperdiçar calorias e ficar com fome".
"Eles não entendem, passam o tempo chorando", lamenta Samah.