Família de brasileira morta pelo marido na Itália luta pela guarda das crianças
Ana Cristina Duarte, de 38 anos, foi assassinada a facadas. Filhos dela estão em abrigo na Itália sem contato com avó e tia brasileiras
Um feminicídio ocorrido na cidade de 12 mil habitantes de Colli al Metauro, na Itália, tem tirado o sono de Dalva Duarte Santos, uma senhora de 73 anos de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ). A vítima, a carioca Ana Cristina Duarte, é filha dela.
O assassinato aconteceu há pouco mais de um mês, na noite de 7 de setembro, quatro dias depois de Ana Cristina sair de casa e pedir o divórcio após mais um episódio violento do marido, o italiano Ezio Di Levrano, de 54 anos. Ao retornar ao local para ver os filhos, a mulher de 38 anos foi atacada com cinco facadas, todas no abdômen.
Gravemente ferida, ela foi encaminhada de helicóptero para o hospital Tourette, em Ancona, onde faleceu. As crianças, de 6, 12 e 14 anos, presenciaram tudo e foram as responsáveis por acionar os vizinhos e a polícia, que prendeu o pai delas em flagrante.
Contudo, desde então, os filhos de Ana Cristina estão abrigados em uma estrutura do estado, sem contato com os familiares no Brasil, enquanto aguardam a finalização do processo. A burocracia também atrasou o enterro da brasileira, que só foi marcado pela prefeitura da cidade italiana para a próxima terça-feira (15).
Ao SBT News, Dalva afirma não querer nada além da guarda dos netos. “Eu quero os meus netos de volta. Não quero pedir nada além de meus netos e ajuda, porque o que eles viram, o que eles passaram, foi muito doloroso”, lamenta.
“Eu não posso ver, eu não posso falar, porque eu não sei qual é o procedimento lá. Mas já tem mais de um mês que eu não posso falar com as crianças", afirma Dalva.
Ana Cristina vivia na Itália há 16 anos
A brasileira estava na Itália há 16 anos. Ela foi para o país depois de conhecer Ezio no Brasil. Os filhos do casal nasceram na Itália e esse, segundo a irmã de criação de Ana, era o motivo dela permanecer na relação abusiva com o marido.
“Ela morava na Itália já tinha 16 anos, era uma pessoa muito extrovertida, brincalhona. Nós temos fotos dela da última vez que ela esteve aqui no Brasil, iria fazer três anos, e ela já demonstrava que era uma relação doentia, de ciúmes”, conta Monique Matos. “Quantas e quantas vezes falei para ela vir e ela falava que não tinha como vir com as crianças.”
Três feminicídios de brasileiras na Itália em 2024
A morte de Ana Cristina é o terceiro caso de feminicídio envolvendo uma brasileira na Itália neste ano de 2024, segundo a advogada ítalo-brasileira Renata Bueno, que assumiu o caso com a advogada italiana Francesca Conte.
“Ela [Ana Cristina] tinha essa exigência de se separar, e a família no Brasil já dizia para ela voltar, só que ela não pode voltar com os filhos da Itália se o pai não autoriza, não pode sair do país”, explica Renata.
“Essa é a grande dificuldade que muitas mulheres brasileiras enfrentam aqui: elas vêm para a Itália e ficam reféns, porque elas não podem levar os filhos e não vão abandonar os filhos."
Marido italiano tinha passagem por tráfico
De acordo com a advogada da família de Ana Cristina, o processo contra Ezio Di Levrano está correndo, na fase de investigação do Ministério Público. O italiano tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas, em 2004, e deve pegar, pelo assassinato, a condenação máxima, de 30 anos. O processo de guarda dos filhos deles, no entanto, corre paralelamente, no Tribunal de Menores, sem previsão de conclusão.
“O nosso esforço é conseguir ter as crianças, apesar de elas terem nascido aqui na Itália. Sabemos que a família do pai não tem condições de ficar e, agora, a nossa briga vai ser realmente pela tutela”, explica a advogada.
O encontro da família brasileira com as crianças deve ocorrer no enterro de Ana Cristina, na próxima semana. A irmã Monique viajará ao país para acompanhar o velório e obteve autorização para ver os menores.
“É uma luta muito grande, porque você imagina o desespero. A vó já perdeu a filha na situação que perdeu, e as crianças do outro lado, sozinhas. Somos a única família por parte de mãe.”, conta Monique.
Questionado pela reportagem, o Itamaraty informou que acompanha o caso, em contato com os advogados e familiares da vítima — a quem ofereceu orientações jurídicas e apoio psicológico especializado — e com as autoridades italianas.