Em meio ao "tarifaço", economia global pode desacelerar para 2,3% e entrar em recessão, diz ONU
Relatório prevê nações vulneráveis enfrentando desafios acentuados; Brasil deve sentir impacto com crescimento menor, de 2,2%

Beto Lima
Projeções para 2025 da Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) soam o alarme para uma possível recessão mundial. Em meio ao "tarifaço" do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a intensificação das disputas comerciais e a instabilidade no cenário internacional são apontadas como os principais vetores dessa desaceleração. O estudo da Unctad estima que o avanço da economia global deve perder força, atingindo um patamar de 2,3% neste ano.
O documento da agência da ONU enfatiza a crescente ameaça representada por choques na política comercial e pela instabilidade financeira. Segundo a Unctad, as recentes implementações de tarifas estão desorganizando as cadeias de produção e comprometendo a capacidade de antecipação do mercado. Essa conjuntura desfavorável já se reflete em adiamentos de aportes financeiros e em um ritmo menor de admissões de trabalhadores.
A retração da economia, conforme aponta o relatório, não poupará nenhuma nação, atingindo com maior intensidade as economias mais frágeis. Esses países terão de enfrentar simultaneamente o agravamento das condições financeiras externas, o peso de dívidas insustentáveis e um enfraquecimento do crescimento em seus próprios territórios.
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No contexto da América Latina, a análise da Unctad indica que a maioria dos bancos centrais deverá manter a estratégia de flexibilização monetária, acompanhando a tendência de queda da inflação. O Brasil, contudo, surge como uma exceção notável, tendo iniciado um ciclo de maior rigor na política monetária.
A projeção da Unctad para o Brasil em 2025 é de uma considerável freada no ritmo de sua economia, com um crescimento estimado em 2,2%, reflexo do aperto monetário que deve restringir tanto o investimento quanto os gastos dos consumidores.
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Em 2024, a economia brasileira avançou 3,4% e chegou a R$ 11,7 trilhões, maior taxa desde 2021. Mesmo assim, o contexto foi de perda de fôlego no quarto e último trimestre do ano passado, com crescimento de 0,2%.
Em contrapartida, o estudo da agência da ONU vislumbra no fortalecimento do comércio entre as nações em desenvolvimento um elemento de resiliência. A integração econômica Sul-Sul, que atualmente representa cerca de um terço do comércio global, apresenta-se como uma oportunidade valiosa para diversos países.