Eleição na França: partidos de esquerda e de centro formam aliança "ampla" contra a extrema-direita
Reunião Nacional de Marine Le Pen liderou o primeiro turno do pleito no país; franceses voltam às urnas neste domingo (7)
Os eleitores franceses irão às urnas novamente neste domingo (7) para o segundo turno da eleição parlamentar, que deve ter como grande vencedor o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, o Reunião Nacional (RN).
Ao menos 200 candidatos da Nova Frente Popular, que une os partidos de esquerda na França, e da coalizão centrista liderada pelo partido Renascimento, do presidente Emmanuel Macron, saíram da disputa, para apoiar o concorrente com maior chance de derrotar os nacionalistas de Le Pen no segundo turno.
Um dos motivos para isso é justamente a forma como funciona a eleição parlamentar na França. Para ser eleito diretamente, um candidato precisa obter mais de 50% dos votos. Caso nenhum atinja a maioria absoluta, os dois principais candidatos, juntamente com qualquer outro que tenha recebido o apoio de mais de 12,5% dos eleitores registrados no distrito, avançam para o segundo turno. Em alguns casos, três ou até quatro candidatos podem avançar para o segundo turno.
Segundo estimativas do jornal Le Monde, em 30 de junho, dos 496 distritos eleitorais, 306 teriam três candidatos na disputa deste domingo, cinco teriam quatro candidatos disputando e 190 distritos teriam duelos diretos entre um candidato da esquerda ou de centro contra um candidato do Reunião Nacional.
Nesta quarta-feira (3), um dia após o prazo para os políticos desistirem de suas candidaturas ou não, o número de distritos que terão disputas entre dois candidatos aumentou para 405. Desses, 159 colocam o RN contra a aliança de esquerda Nova Frente Popular. Nos outros 133, a disputa será entre um candidato macronistas contra um de extrema-direita. Ainda segundo o Le Monde, 94 distritos continuam com três políticos na disputa e somente um terá quatro candidatos no pleito.
Aliança contra o avanço da extrema-direita
As desistências acontecem após apelos de figuras proeminentes da centro-direita e da esquerda. Tanto Macron como o seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, passaram a última semana pedindo para que candidatos do Renascimento que estavam em terceiro deixassem a disputa. O mesmo aconteceu na esquerda, com o líder do partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, apoiando a desistência de candidatos da aliança de esquerda em distritos onde há maior chance dos centristas vencerem os de Le Pen.
O objetivo é impedir que o Reunião Nacional obtenha os 289 assentos necessários para uma maioria absoluta na câmara baixa, que tem 577 cadeiras.
Se o partido de Marine Le Pen conseguir a maioria parlamentar, isso obrigará Emmanuel Macron a nomear um primeiro-ministro do partido adversário. Le Pen já confirmou que o escolhido para o cargo será Jordan Bardella, seu protegido de 28 anos sem experiência governamental.
Esse cenário, conhecido como "coabitação" na política francesa, significa que Macron terá que governar ao lado de um primeiro-ministro cujas políticas podem ser significativamente diferentes das suas. Enquanto o presidente ficaria responsável pela política externa e questões de segurança, Bardella seria responsável por decidir questões de política interna. Ele já disse que irá usar o papel para contestar políticas de Macron, como o apoio militar e financeiro à Ucrânia.
Turbulência política
A turbulência política que vive a França foi causada pelo próprio Macron, que dissolveu a Assembleia e antecipou a eleição parlamentar no país, após a derrota de seu partido para a extrema-direita nas eleições que elegeram os novos eurodeputados do Parlamento Europeu, em junho.