"Clima de ódio foi nosso trabalho coletivo", diz presidente da Eslováquia
País de 5 milhões de habitantes está mergulhado em onda de extremismo impulsionada pelas redes sociais
A presidente da Eslováquia, Zuzana Caputova, fez um raro mea-culpa ao afirmar que a divisão política de seu país é um dos fatores que contribuíram para a tentativa de assassinato do premiê Robert Fico.
"O que aconteceu ontem foi um ato individual, mas o clima tenso e de ódio foi nosso trabalho coletivo".
Os dois decidiram conjuntamente convocar todos os partidos eslovacos para uma demonstração de união e rejeição à violência.
Segundo o governo, o atirador agiu sozinho e não pertence a nenhum grupo político ou criminoso.
Há evidências de que a radicalização dele tenha sido impulsionada pelo conteúdo das redes sociais.
O homem que atirou no primeiro-ministro tem 71 anos. Trabalhou como segurança privado e também se identifica como escritor e já manifestou várias opiniões contrárias ao governo nas redes sociais.
Mas nem os vizinhos que o conhecem há décadas imaginavam que a discordância poderia transformar o homem tido como "calmo e educado" em um criminoso.
O que aconteceu na Eslováquia é um crime grave, fruto de uma sociedade profundamente dividida, onde os discursos de ódio e a desinformação foram normalizados e pouco combatidos pelas redes sociais.
Já aconteceu no Brasil, poderia acontecer em vários países do mundo que passam pela mesma situação.
No caso dos eslovacos, foi necessário um crime grave contra o chefe do governo para que políticos fizessem mea-culpa e começassem a trabalhar para definir as necessárias fronteiras entre debater visões diferentes de mundo e impulsionando ondas de ódio e desinformação.
O próprio premiê, agora vítima de um crime hediondo, é uma das vozes mais controversas da cena política europeia não apenas por suas visões pró-Russia, mas pela maneira como conduz o debate.
Fico também contribuiu para o clima de ódio contra estrangeiros com sua visão anti-imigração. Durante a pandemia, chegou a fazer campanha contra as vacinas, usando informações falsas.
O ministro do Interior, Matus Sutaj, afirmou que a polícia está investigando aqueles que espalham desinformação e apoiam atos de violência na internet.
"Digo a todos, especialmente para os 'mestres do universo' atrás dos teclados, que nós vamos agir firme e intransigentemente".
O primeiro-ministro Robert Fico está internado no Hospital Universitário Franklin Delano Roosevelt, em Banska Bystrica, em situação "estável, mas muito séria", disse a diretora do hospital Miriam Byustrica.