Venezuela, comércio e parcerias: Lula faz visita oficial ao Chile e será 2º presidente recebido por Boric
Aliados, Boric e Lula possuem posições e discursos opostos sobre Nicolás Maduro e Venezuela; assunto deve ser debatido fora da agenda oficial
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz visita oficial ao Chile nos dias 5 e 6 de agosto. Ele sairá de Brasília para Santiago no domingo (4), mas só terá agendas a partir do dia seguinte. Durante o encontro, os dois governos vão assinar 17 acordos de cooperação e de mercado. Nicolás Maduro e Venezuela devem ser debatidos, mas fora da agenda oficial.
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Lula será o segundo chefe de estado recebido pelo presidente chileno, Gabriel Boric, desde sua posse em março de 2022. A outra visita foi do ex-presidente da Argentina, Alberto Fernandez, em abril do mesmo ano. A visita de Lula estava marcada para maio, mas devido à tragédia climática no Rio Grande do Sul, foi adiada para este final de semana.
A viagem da comitiva brasileira ao Chile tratará exclusivamente de agendas relacionadas às relações comerciais e acordos de cooperação entre os dois países, mas assuntos da agenda internacional, como as eleições da Venezuela, combate à fome mundial e temas relacionadas à governança das Nações Unidas também devem ser abordados durante uma reunião particular somente entre os presidentes.
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Durante a apresentação da agenda de Lula no Chile - o briefing - realizada no Palácio do Itamaraty na quinta-feira (1º), a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE), frisou que a agenda não prevê o debate sobre as eleições venezuelanas, assunto em alta no momento. No entanto, afirmou que é natural que os chefes de estado falem sobre diversos assuntos fora da pauta durante as reuniões.
“É mais do que natural que dois presidentes conversem sobre a região, principalmente no encontro privado. É natural que falem sobre, mas não tem nada na agenda. A agenda é 100% bilateral [de assuntos relacionados estritamente aos dois países]. Teremos um comunicado conjunto com temas de diversas áreas, mas não inclui nada especificamente sobre Venezuela”, disse a embaixadora.
Apesar do Brasil ter assinado uma nota conjunta com México e Colômbia com um pedido de divulgação pública dos dados de votação nas eleições venezuelanas, falas recentes de Lula mostram o presidente brasileiro em cima do muro. Em alguns casos, as declarações mostram até mesmo uma certa inclinação para o lado de Nicolás Maduro.
“O Tribunal Eleitoral [venezuelano] reconheceu o Maduro como vitorioso, e a oposição ainda não. Então, tem um processo. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial, mas não tem nada de anormal”, disse Lula em entrevista no começo da semana.
Enquanto Lula e Maduro possuem uma relação próxima e longa, Boric é um dos líderes da esquerda mais críticos ao regime venezuelano.
"O regime de Maduro deve entender que esses resultados são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e sobretudo o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigimos total transparência das atas do processo, e que observadores internacionais não comprometidos com o governo atestem a veracidade dos resultados", escreveu Boric na rede social X após o anúncio dos resultados das eleições na Venezuela.
Após a polêmica vitória no pleito, Maduro expulsou o corpo diplomático do Chile e de diversos países, como Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Uruguai, Peru e Argentina, por adotarem postura rígida contra o resultado das eleições. Os dois últimos países, inclusive, pediram para o Brasil se responsabilizar pelas sedes diplomáticas na Venezuela.
Agenda
Lula chega ao Chile na noite (horário local) de 4 de agosto e não terá compromissos oficiais. Na segunda-feira (5), o presidente brasileiro participará da Oferenda Floral, no monumento do Libertador Bernardo O'higgins, uma cerimônia típica para chefes de estado no país. Em seguida, Lula se encaminha para o Palácio de La Moneda - a sede da Presidência da República -, onde vai tirar uma fotografia oficial com Boric. Na sequência,
Na sequência, os presidentes partem para uma reunião bilateral com a comitiva, seguida de uma reunião privada seguida de uma cerimônia de assinatura de atos. Logo após, Lula e Boric realizam declaração conjunta à imprensa e cerimônia de troca de condecorações. Também está prevista uma entrevista coletiva aos jornalistas presentes.
Depois, Lula participa do almoço oficial, também no Palácio de La Moneda, oferecido pelo presidente Gabriel Boric a ele e à primeira-dama Janja Lula da Silva.
Encerradas as atividades no Palácio, Lula visita os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados do Chile, além da Corte Suprema. No fim da tarde, está prevista audiência com o CEO da Latam e com o secretário-executivo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), José Manuel Salazar-Xirinachs. Em seguida, o presidente participa do encerramento do Fórum Empresarial e de um jantar oferecido pelo embaixador do Brasil em Santiago. Na terça-feira (6), a agenda de Lula prevê reuniões com a prefeita de Santiago, Iraci Hassler - que é filha de brasileira - e outra com o ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos.
Balança comercial
As relações bilaterais entre os dois países foram estabelecidas há 180 anos, e o Brasil é o terceiro maior sócio comercial do Chile, com relação comercial de US$ 12,25 bilhões. "Nós exportamos basicamente petróleo, automóveis e carne, e importamos cobre, pescados e minérios.
Então há espaço para diversificar. Uma boa notícia foi a recente conclusão da discussão sobre regras de origem do Acordo de Livre Comércio, que permitirá exatamente o aumento das exportações de automóveis que são relevantes para o lado brasileiro", destacou a embaixadora Padovan, ao frisar que o Brasil também é o principal destino dos investimentos chilenos no mundo.
A visita ocorre em momento de marcada convergência em temas como a retomada do processo de integração da América do Sul, o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos, o combate à pobreza e à desigualdade, e o enfrentamento da mudança do clima. Os dois países também compartilham posições similares sobre crises de paz e segurança em outras regiões e sobre o enfrentamento aos desafios do multilateralismo econômico e ambiental.
O Brasil é o principal destino dos investimentos chilenos no exterior, com quase 30% do estoque total, e é o principal investidor latino-americano no Chile. O Chile também se tem consolidado como o terceiro maior emissor de turistas para o Brasil, que, por sua vez, foi o segundo maior emissor de turistas para o Chile, em 2023.
Acordos
Serão assinados 17 acordos de cooperação para diversas áreas, como turismo, militar, agricultura, saúde, transição energética, pautas de gênero, direitos humanos, etc. Também serão assinados tratados de extradição, de conversão de carteiras de documentos e de segurança cibernética.