Caso Pelicot: a pedido de vítima de estupro, juíza na França autoriza exibição de vídeos ao público
Gisèle Pelicot se tornou um símbolo na luta contra a violência sexual no país e afirmou que as imagens são "provas incontestáveis"
Um juiz na França autorizou, na última sexta-feira (4), a exibição de alguns dos vídeos dos estupros sofridos por Gisèle Pelicot, a pedido da própria vítima.
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Pelicot, hoje com 72 anos, foi estuprada múltiplas vezes ao longo de quase uma década, entre 2011 e 2020, pelo ex-marido, Dominique Pelicot e outras 72 pessoas — mas apenas 50 foram identificados e processados. O ex-cônjuge confessou que colocava drogas na comida de Gisèle e convidava outros homens para estuprar a esposa desacordada em sua própria casa, em Provença. Dominique também tirava fotografias e fazia filmagens dos crimes.
Gisèle se tornou um símbolo na luta contra a violência sexual no país e, desde o começo, pediu que o julgamento fosse público — contra a sugestão da corte de mantê-lo em sigilo —, para prevenir que outras mulheres passassem por situações semelhantes.
“Desde que cheguei a este tribunal, sinto-me humilhada por me chamarem de alcoólatra e dizerem que sou cúmplice do senhor Pelicot. Fiquei em coma e os vídeos podem atestar isso. Até os especialistas, todos homens, ficaram chocados com esses vídeos. Tenho a impressão de que sou a culpada e que os 50 são vítimas”, disse Gisèle.
A decisão da exibição das filmagens foi feita pelo juiz Roger Arata e foi vista como uma vitória pela vítima. Segundo ela, a exibição dos registros era necessário, pois as imagens "são provas incontestáveis".
"É um caso único: nós não teos uma representação de estupro. Nós temos dezenas, centenas de vídeos de estupros. [...] Gisèle Pelicot acredita que essa onda de choque é necessária, para que ninguém possa dizer depois 'eu não sabia que isso era estupro'", disse Stéphane Babonneau, advogada da vítima.
Com a decisão da última sexta-feira, o juiz revoga a medida anterior, de 20 de setembro, que estipulava a exibição dos vídeos em sigilo. Até então, toda vez que uma gravação era colocada, jornalistas e membros do público tiveram que deixar a corte.
Caso Gisèle Pelicot
Em 2020, Dominique Pelicot, até então marido de Gisèle, foi denunciado por tentar filmar as partes íntimas de três mulheres em um supermercado. Durante a investigação, policiais encontraram milhares de fotos e vídeos da esposa, visivelmente inconsciente, sendo abusada por estranhos na casa da família.
Ao revistar o computador de Dominique, os investigadores descobriram que o homem oferecia sexo com a esposa por meio de um site. Diversos estupradores foram identificados, com idades entre 21 e 68 anos — que sabiam que a mulher estaria inconsciente. Ao todo, foram registrados 92 estupros.