Lula lamenta que mundo trave guerras "em vez de unir forças"
Em Dubai, na COP28, presidente discursou pela segunda vez na manhã nesta 6ª e afirmou que mudanças climáticas impõem à humanidade "seu maior desafio"
Em seu segundo discurso do dia na COP28, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse à cúpula de líderes da conferência que a humanidade atualmente enfrenta "seu maior desafio" por conta das mudanças climáticas e criticou nações que travam guerras.
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"Em vez de unir forças, o mundo trava guerras, alimenta divisões e aprofunda a pobreza e as desigualdades. O caminho desta COP28 à COP30, no Brasil, ditará nosso futuro. Aqui faremos o primeiro balanço global do Acordo de Paris. Na COP 29, definiremos um novo objetivo quantificável de financiamento. E em Belém formularemos nossas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)", disse o presidente durante a Primeira Sessão do Segmento de Alto Nível para Chefes de Estado e Governo da COP 28.
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Lula também citou metas que o Brasil vem cumprindo ao longo dos anos e alertou sobre o aumento da temperatura global superior a 1,5°C, segundo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). A meta do Acordo de Paris foi manter o IPCC entre 1,5°C e 2°C, para conter o aquecimento global ao nível seguro.
O presidente afirmou que as NDCs não estão sendo implementadas no ritmo esperado e criticou o que entendeu como "inação" e "falta de ambição" de grandes potências para combater o aquecimento do planeta.
"O Brasil ajustou sua NDC e se comprometeu a reduzir 48% das emissões até 2025 e 53% até 2030, além de atingir neutralidade climática até 2050. Nossa NDC é mais ambiciosa do que a de vários países que poluem a atmosfera desde a revolução industrial no século XIX. Mantemos o firme compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. Já conseguimos reduzi-lo em quase 50% nos 10 primeiros meses deste ano, o que evitou a emissão de 250 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, mas muitos países do Sul Global não terão condições de implementar suas NDCs, nem de assumir metas mais ambiciosas", disse Lula, que também defendeu que as nações mais vulneráveis não podem ter que escolher entre combater a mudança climática e combater a pobreza. "Terão que fazer ambos", disse Lula.
Lula definiu como "inaceitável" o não cumprimento da promessa de US$ 100 bilhões por ano assumida pelos países desenvolvidos enquanto os gastos militares chegaram a US$ 2 trilhões e 200 bilhões. Citou ainda que no Brasil a emergência climática já é uma realidade.
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"A Amazônia está atravessando, neste momento, uma seca inédita. O nível dos rios é o mais baixo em mais de 120 anos. Nunca imaginei que veria isso no lugar onde estão os maiores reservatórios de água doce do mundo. Mas o futuro da Amazônia não depende só dos amazônidas. O desmatamento em todo mundo só responde por 10% das emissões globais. Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia poderá atingir seu ponto de não-retorno se outros países não fizerem sua parte. O aumento da temperatura global poderá desencadear um processo irreversível de savanização da Amazônia", disse Lula, que ainda afirmou que setores de indústria e transporte são emissores de muitos gases do efeito estufa.
Por fim, o presidente brasileiro citou a mitologia indígena para fazer um paralelo em prol de "um bem maior". "A mitologia indígena diz que o rio Amazonas nasceu das lágrimas da Lua. A Lua teve de abrir mão do seu amor pelo Sol para que a Terra não fosse destruída pelo calor. Se não deixarmos nossas diferenças de lado em nome de um bem maior, a vida no planeta estará em perigo. E será tarde demais para chorar", concluiu.