Queda de McCarthy é reflexo de um partido que se recusa a ser governável
A Casa Branca pede celeridade na eleição de um novo líder da Câmara no momento em que o Partido Republicano revela desarmonia quase irreparável
Washington DC - Eram cerca de cinco da tarde de 3ª feira (03.out), quando a notícia correu o mundo. O líder da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos - que equivale à Câmara dos Deputados no Brasil - já não estava mais no cargo. Foi retirado do posto por uma votação expressiva. Duzentos e dezesseis votos a favor da saída de Kevin McCarthy, duzentos e dez contra. Sete não votaram.
Na 2ª feira (02.out) a notícia era a de que um grupo mais radical e Trumpista - liderado pelo Republicano Matt Gaetz - era quem mais desejava a saída de McCarthy. Foi Gaetz, inclusive, que logrou atenção da mídia ao entrar com um pedido formal de votação para o sim ou não da permanência do líder - algo permitido pelas regras da Casa. Mas o que a votação da última terça-feira mostrou foi não só uma ruptura dentro do Partido Republicano. Além do grupo que se rebelou contra McCarthy, 208 deputados Democratas votaram pela saída dele.
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Os votos do Partido Democrata - do presidente Biden - foram decisivos para a retirada do californiano que chegou à liderança da Casa em janeiro após quinze tentativas de votação. No começo do ano, McCarthy já demonstrou dificuldade em conseguir o sim da maioria necessária para ser eleito. Para conseguir a posição de líder fez concessões, não as cumpriu e desagradou integrantes do partido oposto. A votação expressiva dos Democratas contra McCarthy demonstra que metade dos deputados do partido do presidente americano desejou a mudança. Os motivos? McCarthy sempre foi muito vocal ao criticar o envio de verbas extras a Kiev em um momento que - segundo ele - as atenções deveriam estar voltadas para a crise na fronteira com o México. O ex-líder da Câmara também foi a favor da abertura do pedido de impeachment de Joe Biden, que segue sob análise de um Comitê.
Do outro lado, a ala trumpista Republicana de oito integrantes mostrou força. Os votos do partido Republicano contra McCarthy foram de: Andy Biggs (Arizona), Ken Buck (Colorado), Tim Burchett (Tennessee), Eli Crane (Arizona), Matt Gaetz (Florida), Bob Good (Virginia), nancy Mace (Carolina do Sul) e Matthew Rosendale (Montana). Oito integrantes que são o reflexo de um partido que demonstra desejo de ser ingovernável. McCarthy não conseguiu em nove meses domar a ala mais radical nem governar sob consenso. Também fez concessões ao grupo mais extremista do mesmo partido em Janeiro mas, segundo o grupo dissidente, não as cumpriu. Na 3ª feira (03.out), Gattz disse aos jornalistas do Capitólio que entrava com o pedido de saída do líder da Câmara porque ele havia negociado nos bastidores uma forma de financiar a ajuda militar a Kiev apesar do orçamento temporário aprovado às pressas no fim de semana não contemplar isso. Ja McCarthy afirmou que a motivação do oponente e colega de partido é pessoal.
Surpresa e dúvidas sobre o futuro da Câmara dos Representantes
Se a queda de McCarthy era um cenário possível na última terça-feira, sua saída era dúvida ao menos entre parte dos correspondentes estrangeiros que cobrem a capital americana. Quando a notícia veio, no fim do dia, trouxe algo de surpresa. Além de narrar os fatos - quantos votos contra McCarthy, porque o líder saiu, o que acontece agora - o desafio era entender a motivação principal dos Democratas que votaram contra o californiano. Se é certo que os acontecimentos dos últimos meses, incluindo o pedido de impeachment de Biden, irritaram parte da Casa, também é verdade que o partido do presidente do país desejava uma Câmara em pleno funcionamento especialmente depois do último fim de semana, quando o orçamento para o próximo ano fiscal foi aprovado no laço - na noite do último sábado. A falta de harmonia já era evidente pelas opiniões contrárias de como o país deve gastar o que tem.
Trocar o líder da Câmara neste momento significa paralisar temporariamente as atividades. Na próxima semana, quando a Câmara estiver reunida, o foco nao será a votação de projetos para o país, mas a eleição de um novo líder. Sos Democratas que votaram contra McCarthy realmente desejam um presidente da Câmara mais alinhado aos interesses do governo federal e mais firme em sua postura ou se o interesse foi escancarar a desunião Republicana no ano anterior às eleições presidenciais, não saberemos. A dúvida se o cálculo eleitoral pesou no drama vivido na última terça-feira é tema para análises futuras, mas nao invalida a realidade de que o partido Republicano que é maioria na Câmara dos Estados Unidos se demonstra, hoje, disfuncional.