A história das meninas venezuelanas separadas da família na fronteira teve um desfecho positivo em Nova York
Entre os migrantes dos hotéis de Nova York, uma venezuelana buscava notícias das sobrinhas que haviam sido separadas na fronteira.
Patrícia Vasconcellos
Atualização: após a publicação do SBT, a história da família de Osleydy Alvarez foi acompanhada pelo jornal norte-americano New York Post. De acordo com reportagem publicada nesta sexta-feira, 1º de setembro, a venezuelana se reencontrou com as sobrinhas no dia 31 de agosto, em Nova York, uma semana apos a entrevista concedida à coluna.
Washington DC - A mãe e o casal de filhos estavam na frente do 'The Redbury', um dos hotéis que recentemente fecharam um acordo com a prefeitura de Nova York para receber migrantes que entraram nos Estados Unidos de forma não legal e agora aguardam a concessão de asilo. A família chegou a Nova York há vinte e um dias e deixou Caracas há dois meses. "Foi muito difícil, vimos pessoas morrer no trajeto, sofremos ameaça de abuso no México" relata Osleydy Alvarez. Ela conta que trabalhava em uma escola na capital venezuelana mas já estava sem condições de sustentar a casa. Em junho, ela reuniu os dois filhos e outras seis pessoas da família. O grupo foi para a Colômbia. Todos cruzaram a Selva de Darien até o Panamá e de lá - quase sempre a pé - atravessaram a América Central. "Vendemos picolés nos semáforos para conseguir dinheiro para a viagem. Foi muito difícil ", ela relata, afirmando que os atravessadores cobraram muito dinheiro. Apesar do risco, Osleydy diz que estava determinada a buscar uma nova realidade. Entre o grupo familiar, estavam duas crianças, sobrinhas de Osleydy: Yugleydis Villa Alvarez e Isabella Villa Briseno. Uma tem apenas dez anos de idade. A outra tem dezesseis anos. A mãe das meninas, irmã de Osleydy, tinha câncer e faleceu em janeiro, ela conta.
Ao cruzar a fronteira, no Texas, as meninas foram separadas da família porque não estavam com os pais, relata a tia, em prantos. "São nosso sangue e agora estão sofrendo", diz Osleydy. A venezuelana conta que as meninas menores de idade não estavam com a autorização por escrito da mãe porque a mesma faleceu em janeiro. "Minha irmã não sabia que ia morrer", conta Osleydy, dizendo que recebeu recentemente um telefonema de alguém informando que as crianças estão no Tennessee mas ela não sabe exatamente onde. "Me falaram que não estão com a imigracão então onde estão exatamente e por que este mistério?" ela questiona.
Na frente do 'The Redbury' a reportagem do SBT também entrevistou Pablo Henrique, a esposa Zoryelis e os três filhos. Essa família teve outra sorte. Todos estão juntos, mas relatam o trajeto perigoso de quatro meses ao cruzar tantos países na América do Sul e Central. "Quando chegamos ao primeiro hotel aqui em Nova York, roubaram nossa sacola com todos nossos pertences. Estamos agora sem qualquer documento nosso ou das crianças ", diz Zoryelis. Eles cruzaram a fronteira do México com os Estados Unidos no dia primeiro de agosto e foram levados do Texas até Nova York de ônibus.
Entre o vai e vem de histórias que se cruzam, a prefeitura de Nova York busca soluções a curto e médio prazo e enquanto isso lida também com protestos em algumas regiões da cidade. No último fim de semana, um grupo de americanos foi à porta da residência do prefeito Eric Adams questionar a montagem dos abrigos para imigrantes nos bairros de Nova Iorque. Segundo a prefeitura, além dos hotéis, há cerca de duzentos abrigos temporários abertos nas últimas semanas para acomodar em torno de sessenta mil pessoas.
A administração Biden tem se esforçado para reunir crianças separadas dos pais na era Trump. Migrantes que haviam sido deportados foram trazidos de volta aos Estados Unidos na tentativa de reaver os filhos, levados para abrigos ou adotados. Em Nova York, todos os pais migrantes hospedados em hotéis com os quais conversamos estavam com os filhos. O caso das sobrinhas de Osleydy foi único e levanta uma questão: o destino de menores de idade que chegam à fronteira e não estão acompanhados dos pais mas de outros integrantes da família. A separação das meninas, da forma relatada pela entrevistada, revela uma falha nos mecanismos de checagem para garantir um acolhimento menos traumático. As meninas Yugleydis e Isabella perderam a mãe, enfrentaram meses de uma travessia que não foi escolha delas e que poderia ter lhes custado a vida e agora estão em um local distante das poucas referências que tem como casa. São duas crianças venezuelanas sobreviventes de uma crise quase sempre relatada em números.