Com substituta a Villavicencio, Equador segue em tensão e vai às urnas no dia 20
País passa por momento conturbado, que se intensificou após assassinato de candidato à presidência
Lis Cappi
A crise política equatoriana aumentou nos últimos dias após o atentado contra o candidato à presidência, Fernando Villavicencio. Morto a tiros após divulgar ser alvo de ameaças, o ataque sofrido por ele representa um período de indefinição política e do aumento do narcotráfico no país, conforme avaliam especialistas em política internacional ao SBT News. Em meio às indefinições, o partido confirmou uma substituta a ele: Andrea González Náder. E o país mantém as eleições daqui a duas semanas, em 20 de agosto.
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Villavicencio foi alvo de diversos tiros ao deixar um comício na cidade de Quito, capital do Equador, na última 4ª feira (9.ago). Ele tinha um passado de denúncias contra a corrupção em diferentes partidos do país e de críticas ao narcotráfico, e era a escolha do "Movimiento Construye" para as eleições.
"[Como jornalista, ele fez uma] série de denúncias contra corrupção dos mais diversos partidos políticos do país. Então ele tanto denunciou corrupção no governo de Rafael Correa quanto denunciou outros casos de corrupção de diferentes partidos. Com isso, ele passou a ser perseguido e ficou um ano e meio vivendo em uma floresta junto a indígenas. A partir daí, ele assume a causa indígena como causa política. Depois, ele assume também a causa ambientalista. Então, ele é uma pessoa que trabalhava por essas causas e já sofria perseguição antes mesmo de entrar na política. Com isso, ele virou alvo fácil de facções e daqueles que não têm interesses comuns a essas pautas", conta Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais da Unifesp e especialista em América Latina.
Com o destaque de que o Equador passou por muitas fragilidades políticas ao longo da história, como golpes de estado ao longo do último século em situações em que presidentes não conseguiram terminar os mandatos ou nem tomaram posse, o doutor em ciência política e professor adjunto de Política Internacional da UERJ Janeiro Paulo Velasco considera que a ação contra Villavicencio é diferente de outras situações pelas quais o país passou. E atribui o aumento do narcotráfico ao atentado contra o candidato à presidência.
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"Temos uma instabilidade política importante quando pensamos na fragilidade do governo do Guillermo Lasso [atual presidente], e isso claro que é um fator complicador da situação equatoriana hoje, mas temos visto algo que não é tão comum no Equador que é o avanço da violência urbana, da criminalidade. O Equador era, comparativamente a outros países da região latinoamericana um país muito mais tranquilo, com indicadores de violência mais baixos, muito inferiores [...] Tem havido um avanço dessa violência desde o momento em que o Equador passou a ser um país importante para os grandes quartéis", explica Velasco.
Interesse do narcotráfico
Por ter uma posição geográfica estratégica, o país tem sido alvo do tráfico de drogas. O acesso a portos no Oceano Pacífico e a falta de políticas contra quartéis de drogas - por esse não ser um problema originário do país - provocaram o interesse de facções que produzem substâncias em outros países, como México, Colômbia, Peru e Bolívia.
"A partir do momento que existe uma carterização dentro do Equador, com a presença de quartéis mexicanos de drogas, isso acaba levando à violência, inclusive violência política, coo assassinato de prefeitos, de vereadores e, agora, de um candidato à presidência. É um fato novo, não de instabilidade política, mas o avanço da violência e os crimes políticos que eram comuns em outros países, como na Colômbia, agora são muito comuns no Equador", diz o professor.
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Velasco ainda afirma haver um impacto de um "efeito balão", quando a repressão à drogas em outros locais fazem com que movimentos mudem de região, e considera que isso também provocou o aumento do narcotráfico no Equador. Para o próximo dia 20, Velasco destaca que a liderança em pesquisas eleitorais está com Luisa Gonzáles, candidata que conta com o apoio do ex-presidente equatoriano Rafael Correa.
Assista a programa especial que explica a questão política do Equador: