Caso Emmily: família irá acusar Juliana como cúmplice de assassinato
Novas provas mostram que seringa encontrada na casa do empresário Francisco Sáenz continha cetamina
Buenos Aires - Uma nova prova pode agravar o caso do empresário Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, processado por homicídio culposo e por facilitação de drogas contra a brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, de 26 anos, morta em 30 de março ao cair do sexto andar no vão interno de um luxuoso edifício de Buenos Aires. Uma seringa recolhida no apartamento do empresário continha cetamina, uma droga que, para a acusação, pode ter sido injetada em Emmily, quem antes de cair pela janela chegou a gritar: "Me furaram".
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"Esse resultado implica que, quando Sáenz Valiente ficou sozinho com Emmily e com Juliana, tentou abusar sexualmente de Emmily, quem se resistiu e começou a gritar, chamando pela Polícia. Quiseram sedá-la com cetamina. Foi quando ela gritou que tinha sido furada. Isso muda a perspectiva porque uma coisa é ela ter se drogado; outra, que tenha sido injetada com droga", descreve ao SBT News, o advogado da família de Emmily, Ignacio Trimarco.
O exame toxicológico de Emmily confirmou a presença de álcool, maconha, cocaína, MDMA (metilenodioximetanfetamina, um dos componentes do ecstasy e da cocaína rosa) e cetamina. Por sua vez, os exames realizados no empresário revelaram que só consumiu cocaína.
"Já estamos trabalhando para pedir, nesta semana, novos processamentos, incluindo o de Juliana. A situação dos dois pode se agravar. No caso de Sáenz Valiente, vamos pedir que ele passe de ser acusado de homicídio culposo a feminicídio. O crime começa com o fornecimento de drogas, passa a uma tentativa de abuso sexual e termina com um homicídio", interpreta Trimarco.
A brasileira Juliana, de testemunha a acusada
A também brasileira Juliana Mourão foi quem levou Emmily à casa de Sáenz Valiente. Embora Juliana estivesse com Sáenz Valiente e com Emmily no apartamento, até agora só declarou como testemunha. Como médica, Juliana tem conhecimento sobre injeções.
"E também tem acesso a esse tipo de drogas nos hospitais", ressalta Trimarco.
O departamento de Criminalística e de Estudos Forenses da Gendarmaria argentino concluiu que a seringa continha cetamina como princípio ativo. Participaram da perícia os peritos tanto da acusação quanto da defesa.
O próprio laudo, ao qual o SBT teve acesso, define a cetamina como "um anestésico dissociativo com efeitos alucinógenos, que pode induzir a um estado de sedação, imobilidade e amnésia, além de aliviar a dor".
"De acordo com relatórios da DEA (Drug Enforcement Administration), a cetamina se tornou popular entre adolescentes e jovens adultos em boates e festas por sua capacidade de produzir sensações dissociativas e alucinações. Também tem sido usado para facilitar a agressão sexual", descreve o laudo.
Seringa, sangue e sêmen
Nas chamadas ao serviço de emergências por parte do empresário, pode-se ouvir ao fundo Emmily gritar: "Me furaram". O grito está em espanhol "me pincharon" (espetaram-me), um verbo em espanhol mais especificamente usado para agulhas. Os áudios também passaram por perícias.
A seriga foi encontrada no mesmo quarto onde estava o bustiê rosa choque que Emmily usava antes de morrer nua. Há uma semana, a Polícia Científica confirmou a presença de sangue e de sêmen em 25 objetos recolhidos do apartamento como preservativos, lençóis, edredom, fronhas e o top de Emmily, machado de sangue.
No dia seguinte, a Câmara de Apelações Criminais processou Francisco Sáenz Valiente por homicídio culposo ao entender que o acusado não teve intenção de matar a brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, mas proporcionou os elementos para que a jovem caísse do sexto andar: "a facilitação de drogas e um lugar para o consumo", acusações pelas quais o empresário também foi processado e obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica.
"Com as provas até então, a classificação legal aplicável era homicídio culposo, mas a Câmara deixou as investigações abertas para que seja num julgamento quando se determinará se Emmily se jogou ou se foi empurrada. Ou seja: abriu a possibilidade para que as investigações provem a nossa teoria: a de que existiu uma tentativa de abuso sexual e que, quando Emmily pediu socorro, Sáenz Valiente jogou-a pela janela. Nesse caso, teríamos um feminicídio (cuja pena é perpétua)", descreve Trimarco.
Defesa quer anular acusação de "facilitação de drogas"
A defesa não concorda com esse ponto. O advogado do empresário, Rafael Cúneo Libarona, entrou com um recurso nesta 2ª feira (3.jul), discordando da acusação de facilitação de drogas; o que implicaria eliminar a razão para a acusação de homicídio culposo.
"O consumo pessoal abusivo de drogas por parte de Emmily é responsabilidade dela, não de Sáenz Valiente, porque o consumo pessoal não é punível na Argentina. Então, o meu cliente também não é autor do delito de homicídio culposo. Por outro lado, a Câmara erra porque Sáenz Valiente nunca convidou Emmily para a casa dele. Nunca a convidou porque não a conhecia. Então, não pode tê-la convidado para lhe oferecer droga", avalia o advogado em entrevista ao SBT News.
Na madrugada de 30 de março, havia cinco pessoas no apartamento. Além de Francisco Sáenz Valiente e de Emmily Gomes, Dafne Gutiérrez Santana, Lía Figueroa Alves e a brasileira Juliana Magalhães Mourão, amiga do empresário.
Durante horas, todos consumiram drogas. Dafne e Lía saíram antes. No momento da morte, apenas Francisco estava no quarto de onde Emmily caiu. Juliana estava em outro ambiente do apartamento. O empresário alega que as mordidas e os arranhões são consequência da sua luta por evitar que Emmily pulasse, a partir de um surto psicótico provocado pelo excessivo consumo de drogas.
O médico legista responsável pela autópsia, Héctor Di Salvo, declarou que todas as feridas e politraumatismos eram compatíveis com a queda e que não havia lesões compatíveis com abuso sexual. A autópsia não encontrou nenhum vestígio compatível com uma agulha.
"Também vamos pedir perícias de DNA e das manchas de sangue. Vamos pedir ainda uma nova autópsia no corpo de Emmily para determinar se há outras lesões que não tenham sido descritas", aponta o advogado da família, Ignacio Trimarco.
A reportagem do SBT News tentou entrar em contato com Juliana, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para futuras declarações.