Roteiristas de Hollywood entram em greve por melhores salários
Paralisação deve resultar em atrasos de séries de televisão e filmes programados para estrear esse ano
Mais de 11 mil roteiristas de cinema e televisão de Hollywood iniciaram sua primeira greve em 15 anos nesta 3ª feira (2.mai), depois que as negociações com estúdios e plataformas de streaming sobre salários e condições de trabalho fracassaram.
A paralisação resultará na interrupção imediata de programas de sucesso, como os "late-night shows", e em atrasos de séries de televisão e filmes que devem estrear este ano.
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"Não chegamos a um acordo com os estúdios e plataformas", disse o sindicato de roteiristas dos Estados Unidos (WGA) em um e-mail enviado a seus membros, ao qual a AFP teve acesso. As respostas às reivindicações foram "totalmente insuficientes, dada a crise existencial que os roteiristas enfrentam", disse o WGA, acrescentando que a greve havia começado.
A medida foi tomada depois que a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), que representa a Disney e a Netflix, entre outros, disse que as negociações "acabaram sem um acordo".
Os apresentadores de talk shows noturnos Stephen Colbert e Jimmy Fallon endossaram os roteiristas. Colbert chamou suas demandas de "razoáveis", enquanto Fallon expressou apoio à sua equipe. "Eu não poderia fazer o show sem eles", disse ele à Variety.
Os membros do WGA pediram solidariedade aos colegas de profissão. "Larguem suas canetas!", tuitou Caroline Renard, roteirista de vários programas e séries de TV.
Espera-se que as greves comecem em Los Angeles às 13h (17h no horário de Brasília), com manifestações semelhantes em Nova York, de acordo com o Hollywood Reporter.
A última vez que os roteiristas de Hollywood entraram em greve, em 2007-2008, a paralisação durou 100 dias e custou à indústria cerca de US$ 2 bilhões (R$ 3,5 bilhões, nos valores da época).
Desta vez, os roteiristas reivindicam maiores salários e uma parcela maior dos lucros gerados pelo "streaming" enquanto os estúdios dizem que precisam cortar custos devido às pressões econômicas.
Os roteiristas afirmam que seus salários estão estagnados ou desvalorizados pela inflação, enquanto seus empregadores lucram e aumentam os salários de seus executivos. Além disso, alegam que nunca houve tantos roteiristas trabalhando pelo salário mínimo estabelecido pelos sindicatos e denunciam que as redes de televisão contratam menos pessoas para escrever séries cada vez mais curtas.
"Acabar com esse impasse"
A AMPTP afirma os pagamentos de "direitos residuais" aos roteiristas atingiram um recorde de U$$ 494 milhões em 2021 (cerca de R$ 2,78 bilhões em valores da época), contra US$ 333 milhões dez anos antes (cerca de R$ 620 milhões em valores da época).
Após os gastos elevados dos últimos anos, quando plataformas de streaming concorrentes tentavam a todo custo aumentar seus assinantes, os estúdios agora estão sob intensa pressão dos investidores para cortar gastos e obter lucro. E negam que as dificuldades econômicas sejam um pretexto para não atender às reivindicações dos roteiristas.
"Você acredita que a Disney demitiria 7.000 pessoas por diversão?", questionou uma fonte próxima à AMPTP. "Há uma única plataforma [de 'streaming'] que é lucrativa neste momento, e esta é a Netflix. A indústria cinematográfica também é um setor bastante competitivo", afirmou.
Os estúdios argumentaram que estão "dispostos a iniciar em discussões com o WGA em um esforço para acabar com o impasse".
Mas a indústria teme um efeito dominó. Outros sindicatos de Hollywood expressaram solidariedade aos roteiristas, como o SAG-AFTRA dos atores e o DGA (diretores).
* Com reportagem de Andrew Marszal, da AFP