Fungo de "The Last of Us" não é perigoso e pode ser usado em remédios
Na vida real, fungo consegue infectar apenas formigas, lagartas e outros insetos
Camila Stucaluc
O fungo do gênero Cordyceps, utilizado como base para o jogo e série "The Last of Us", realmente existe. A diferença é que na vida real o fungo consegue infectar apenas formigas, lagartas e outros insetos, o que exclui o perigo, pelo menos por enquanto, de que a humanidade seja dizimada por uma pandemia causada pelo fungo.
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Pesquisadores do Instituto Butantan explicam que o fungo não é capaz de infectar humanos devido à alta temperatura corporal. Apesar de sofrerem mutações, ainda não há dados apontando que uma infecção fúngica possa causar uma pandemia, resultando em "zumbis" e em um cenário apocalíptico, assim como retratado na série.
"Este fungo realmente transforma a formiga em um zumbi porque secreta neurotoxinas dentro do animal, que então comprometem o funcionamento dos músculos do inseto. Após ser infectada, a formiga fica desnorteada e começa a procurar por locais mais iluminados, e acaba saindo do formigueiro. Nesse processo, ela espalha os esporos do fungo que já tomam o seu corpo", explica a biotecnologista Tainah Colombo Gomes.
A infecção pelo fungo, com duração de dois a cinco dias, torna o corpo da formiga esbranquiçado, com aspecto semelhante ao mofo, e causa esporos microscópicos por dentro e por fora. Paralisada, a formiga morre, mas os resíduos do corpo continuam sendo úteis como alimento para o fungo. Este processo garante a sobrevivência do fungo.
"Este fungo faz com que a formiga tenha um comportamento muito específico: ao sair do formigueiro, ela se agarra a uma planta próxima e, já fixada, cresce em sua cabeça o corpo frutífero, que é o órgão reprodutor do fungo. É por onde o Cordyceps libera seus esporos, que podem infectar outras formigas ali mesmo, serem depositados no solo, ou serem levados pelo vento ou insetos para outros locais", descreve Rafael Conrado, técnico sênior do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação (LDI).
Para evitar novos contágios, os especialistas contam que as formigas, apesar de não serem racionais como os seres humanos, retiram os insetos infectadas do formigueiro. "As operárias percebem o comportamento estranho das formigas que agem como zumbis e então as retiram do formigueiro para que elas não tenham contato com as outras."
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Descoberto em 1859, o Cordyceps é encontrado predominantemente em florestas tropicais, como na Amazônia. Algumas espécies, como Cordyceps cicadae, o Cordyceps sinensis e o Cordyceps militaris, têm qualidade benéficas para a saúde humana e são amplamente usados pela medicina tradicional chinesa. Entre as propriedades farmacológicas estão anti-inflamatórias, antitumorais, imunomoduladoras, nefroprotetoras e hepatoprotetoras.