Os três amigos mexicanos que conquistaram Hollywood e o mundo
Cineastas dizem que a chave do sucesso é a amizade e a união da classe artística
Cleide Klock
Alejandro González Iñárritu, Alfonso Cuarón e Guillermo Del Toro são amigos de longa data. Em Hollywood são conhecidos como os "Três Amigos" responsáveis por construir uma nova era de ouro do cinema mexicano. Tudo começou há duas décadas, mas se intensificou nos últimos anos. Enquanto o ex-presidente americano Donald Trump pensava em criar muros para se afastar do país vizinho, eles construíam pontes, e arrecadavam estatuetas do Oscar.
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Alfonso Cuarón foi o primeiro a chegar à festa. Há 20 anos teve a primeira das 11 indicações que já recebeu (Melhor Roteiro por "E sua mãe também"). Mas, foi em 2014 que o jogo começou a mudar, quando ganhou suas duas primeiras estatuetas por "Gravidade" e se tornou o primeiro mexicano a se consagrar como Melhor Diretor. O filme, protagonizado por Sandra Bullock, ganhou sete prêmios.
No ano seguinte, o outro amigo: Alejandro Iñárritu repetiria o feito. "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", lhe coroou melhor diretor, além de receber Melhor Filme, Fotografia e Roteiro Original. Em 2016, Iñárritu, recebeu seu segundo Oscar de direção com "O Regresso".
Em 2018, foi a vez de Guillermo Del Toro arrecadar duas estatuetas: Melhor Diretor e Melhor Filme por "A Forma da Água".
Em 2019, com "Roma", drama autobiográfico, em espanhol e língua indígena, Cuarón conquistou seu segundo Oscar como Melhor Diretor, e assim confirma a solidez dos cineastas mexicanos em Hollywood.
É sucesso atrás de sucesso: neste ano, filmes feitos por cada um deles estão indicados. Guilherme Del Toro, com seu "Pinocchio", favorito disparado na categoria de Melhor Animação; "Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades", dirigido por Iñárritu concorre em Melhor Fotografia e "Le Pupille", produzido por Cuarón, está indicado como Melhor Curta-Metragem.
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O SBT News conversou com o trio, em Los Angeles, em um evento da Netflix pré-Oscar. E quando indagados sobre qual o segredo para ter sucesso em Hollywood?
"Desodorante e chicletes de menta", brinca Del Toro.
"A amizade", responde rapidamente Iñárritu.
"Acredito que não há nada em torno da percepção de sucesso. Éramos amigos antes de termos sucesso. Então é mais em torno da amizade, e também das coisas boas, já que o sucesso aconteceu em momentos diferentes. Por muito tempo o Iñárritu aparecia mais, nós ficávamos de fora assistindo. Em outros momentos nós três tivemos indicações. Então são coisas que aconteceram de tempo em tempo", completa Cuar'n.
"O mais bonito é que dezesseis anos depois continuamos sendo amigos, ligo mais para eles que para a minha família", conta Del Toro que diz ainda que "o cinema latino-americano cresceu sob o sufoco brutal do cinema industrial americano. Portanto, para crescer é preciso determinação, proteção e vontade artística. Não é por acaso que é difícil para o cinema local na América Latina florescer, é intencional. Se não for protegido culturalmente, está em perigo", diz o diretor de Pinocchio, o grande favorito na categoria de animação".
Ninguém solta a mão de ninguém
"Mas independente da amizade que nós temos, no México o que ajudou muito no desenvolvimento da indústria, foi que a comunidade de cineastas, atores, diretores de fotografia, roteiristas, é uma comunidade muito unida. Não são necessariamente amigos, mas são unidos. Então são muito solidários uns com os outros e creio que isso é fundamental", diz Cuarón quando indagado sobre o que o Brasil poderia fazer para se solidificar também em Hollywood.
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Inspiração
O trio é sinônimo de inspiração. O diretor brasileiro Daniel Rezende, que já foi indicado ao Oscar pela edição de "Cidade de Deus", falou sobre o sucesso dos mexicanos e como os brasileiros, agora, tentam seguir esse exemplo.
"Os três amigos não inspiraram a gente, inspiraram o mundo inteiro. Aqui no Brasil a gente está conversando entre os cineastas da minha geração para saber o que cada um está fazendo. Eu estou escrevendo um roteiro agora e mando para um outro colega ler para dizer o que acha. É esse tipo de coisa que os mexicanos começaram a fazer muito lá atrás e a gente demorou. Quando você começa a dividir um pouco, juntos somos mais fortes. Então essa é a primeira vez depois de tantos anos que eu vejo diretores trocando informação e eu acho que isso reflete no cinema, mas demora, porque o cinema é uma arte cara e que demora", diz Rezende.
(Na reportagem de 6ª feira (10.mar), Daniel Rezende contará um pouco sobre o processo de votação do Oscar, do qual participa).