Brasil e escuridão na chegada a Kiev
Rodei por uma cidade condenada à escuridão e conversei com um soldado que quer conquistar corações no Brasil
SBT News
Se o dia tinha deixado em evidência uma cidade perseguindo uma normalidade que perdeu há quase 1 ano, a noite revelou a escuridão que a guerra trouxe pra Kiev. Boa parte da iluminação pública está desligada. Na luta dos ucranianos, faltam armas e energia também.
Desde que os russos começaram a bombardear a infraestrutura de energia do país, a capital da Ucrânia está no modo racionamento. A tática de Moscou é mais uma entre as muitas provas de que seus alvos não são apenas militares, mas também a população civil.
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Uma fonte do governo ucraniano revelou à coluna que além do racionamento, há também uma estratégia dos ucranianos pra dificultar a observação dos russos. Não há como comprovar essa teoria e nem as 2 hipóteses por trás do alarme de ataques aéreos que soou nesta quarta-feira em Kiev.
Segundo o Ministério da Defesa, 6 balões russos foram interceptados sobre a capital ucraniana. Podem ser balões de espionagem, instrumentos mais baratos do que os drones usados pra este propósito, mas que custam mais caro e são frequentemente abatidos pela Ucrânia.
Ou podem ser, segundo o governo ucraniano, uma estratégia russa pra estressar o sistema de defesa antiaéreo da capital. O "falso ataque" faria os ucranianos gastarem o armamento limitado que tem à disposição e ficarem mais vulneráveis quando ataques de verdade acontecerem.
No momento em que as sirenes tocavam, nós estávamos em um Café, na região central de Kiev, pra encontrar com um soldado de 26 anos, que também é o deputado mais novo da história da Ucrânia. Yurash Sviatoslav é do 'Servos do Povo', mesmo partido do presidente Volodomyr Zelenskyy.
Desde o início da invasão em larga escala pela Rússia, no início do ano passado, ele passou 2 temporadas nas trincheiras. Lutou na região de Bakhmut, hoje a batalha mais sangrenta e letal do conflito e, em março do ano passado, estava nos pelotões que impediram que os russos chegassem à capital Kiev.
No Parlamento, preside uma comissão de amizade entre Brasil e Ucrânia. Ele sempre se interessou por países de fora da Europa. Estudou Relações Internacionais em Mumbai, na Índia. Nunca esteve no Brasil, mas acha que a maior economia da América Latina é importante para os planos da Ucrânia.
Em 2 horas de conversa, falamos sobre a resistência de parte do público e da classe política do Brasil em assumir uma postura pró-Ucrânia. "Eu não diria que o Brasil não é pró-Ucrânia. Eu diria que o Brasil não sabe o suficiente sobre a Ucrânia".
Ele acha que a análise deve ser mais simples do que a complexa história que envolve Rússia e Ucrânia. "Essa luta não é sobre a Otan, sobre os Estados Unidos ou sobre a Rússia. É sobre o direito dos ucranianos definirem seu próprio futuro. É sobre a nossa nação se definindo na luta como uma nação independente".
"Nós nos tornamos independentes em 1991 e desde então vínhamos experimentando um processo de paz e estabilidade. Minha geração não imaginava que uma guerra seria possível, que essa realidade de invasão e anexação aconteceria na Europa. Essa tornou-se uma luta da minha geração, defender a independência e nosso Estado".
Yurash prepara-se pra voltar pra linha de frente do conflito e diz que a batalha com armas é tão dura quanto a conquista de corações e mentes mundo afora. No caso dele, o alvo são os corações e as mentes do Brasil. "Nós estamos tentando dizer a eles (brasileiros) a história de que a Rússia invadiu ilegalmente um país soberano com a ideia fixa de anexá-lo (ao seu território)".
Antes de encerrar a entrevista, ele me conta dos planos de um dia conhecer o Brasil e visitar o Paraná pra conhecer a comunidade ucraniana. Mas sabe que a sua missão não pode ficar restrita àqueles que já conhecem a Ucrânia. "Pra nós, contar essa história para o Brasil é fundamental".