Por mais Richarlisons e Rashfords no futebol
Atletas se destacam não só pelo futebol, mas por suas causas humanitárias
Os 3 gols marcados por Marcus Rashford na Copa até agora - 2 deles contra o País de Gales - ajudaram não apenas a seleção inglesa. Também foram fundamentais para centenas de milhares de crianças britânicas que tem nele mais que um exemplo, mas uma voz.
Como muitas estrelas do futebol, ele não teve vida fácil. Cresceu em Wythenshawe, subúrbio de Manchester, em uma casa cedida pelo governo para famílias em situação de vulnerabilidade. Recentemente, revelou a jornalistas britânicos que "se esforçava pra dormir logo pra evitar sentir fome".
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Foi essa lembrança que levou Rashford a marcar um dos gols mais importantes dos seus 25 anos de vida. O menino de Manchester encarou a retranca dos especialistas em imagem, driblou os conselhos de neutralidade e liderou uma campanha para que o governo britânico não cortasse refeições para crianças britânicas que, como ele foi, ainda são ameaçadas pela fome.
Não escapou das caneladas dos críticos, mas seguiu no ataque até fazer o governo britânico reverter uma decisão que já tinha sido anunciada. Era junho de 2020. O vírus matava como nunca. Ainda não havia vacina. O então primeiro-ministro britânico Boris Johnson ligou para o jogador para avisar que um vale-refeição de 15 Libras (R$ 94,00) por semana seria mantido enquanto as escolas estivessem fechadas.
No ano passado, o atacante da seleção inglesa foi uma das vítimas de uma série de ataques racistas, que também incluíram Jadon Sancho e Saka. Os 3 perderam pênaltis na decisão da Eurocopa, no estádio Wembley, em Londres, onde a Itália ficou com o título que a Inglaterra nunca conseguiu. "O pênalti deveria ter entrado, mas nunca pedirei desculpas por ser quem eu sou", disse ele na época.
Como Rashford, nosso Richarlisson também já foi vítima de racismo e, como o inglês, não se acovarda diante de criminosos ou quando a maré não está a favor. No momento em que até o governo brasileiro colocava a eficácia das vacinas e a validade das medidas de restrição em dúvida, nosso craque tornou-se o primeiro embaixador do programa USP Vida, voltado a pesquisas sobre a Covid-19.
Como Rashford, Richarlison também tem 25 anos, mas já era maduro o suficiente pra entrar pra história por defender a ciência e não o charlatanismo. Ele ainda usou sua voz pra defender a Amazônia e cobrar as autoridades pelo desaparecimento do indigenista Bruno Fernandes e do jornalista Dom Phillips.
Marcus e Richarlison poderiam ter evitado polêmicas, preservado e reforçado as suas imagens em fundações, institutos ou campanhas, em que o marketing pesa tanto ou mais do que o propósito. Como a maioria dos jogadores profissionais, poderiam ficar ter optado pela segurança do silêncio, mas enxergaram causas humanitárias onde muitos veem apenas posicionamento político.
Quiseram Alá e os deuses do futebol que os dois começassem bem essa Copa do Mundo. É um presente pra quem gosta de futebol e pra quem também se importa com quem são aqueles caras de uniformes e chuteiras. Richarlison e Rashford nos oferecem mais do que gols. São seres humanos por quem é muito fácil ter um pouco de admiração.