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Quem se emociona por Elizabeth II ?

Pesquisa publicada após a morte da monarca aponta que não é o caso da maioria dos britânicos

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Rainha Elizabeth
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As imagens dos últimos dias mostram a comoção dos britânicos com a morte de Elizabeth II. Não há dúvidas de que milhões de pessoas sentiram a perda daquela que é vista por muitos como a vovó do país. Mas há um Reino Unido das lágrimas, outro da indiferença, um do silêncio e outro das críticas.

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O Instituto Yougov fez uma pesquisa com quase quatro mil britânicos e descobriu que 54% não se emocionaram, em nenhum momento, depois da morte da Rainha. No estudo, publicado nesta 2ª feira (12.set), 44% disseram que choraram ou lacrimejaram em algum momento. 2% não souberam responder. Os que mais sentiram - 48% - estão no sul da Inglaterra. Na Escócia, estão aqueles que menos se emocionaram: apenas 36%. Quando o recorte é por idade, nota-se que 67% daqueles que têm entre 18 e 24 anos também estão neste grupo, contra 45% daqueles com 65 anos ou mais. É nesta faixa que a monarquia tem historicamente o maior apoio.
Monarquia ou República: eis a questão.  

Uma das últimas pesquisas feitas com o público britânico sobre um ponto crucial - o apoio à continuidade da monarquia - foi feita em maio, pouco antes das celebrações do Jubileu de Platina de Elizabeth II. O estudo foi encomendado pelo nanico movimento republicano do país. Trata-se de uma pesquisa menor, feita com 1.600 adultos e que não capta, portanto, os efeitos nem das comemorações do Jubileu, nem da morte da Rainha Elizabeth.

Na amostra, 60% dos britânicos dizem ser favoráveis à continuidade da monarquia. 27% defendem a abolição da instituição e a transformação do Reino em República. 13% não souberam responder. Apesar da ampla vantagem pela continuidade da Realeza, o apoio é menor do que na década passada, quando a monarquia tinha o apoio de mais de 70% dos britânicos.

A Realeza tem mais apoio entre aqueles que se declaram apoiadores do Partido Conservador (84%), da saída do Reino Unido da União Europeia (73%), entre as mulheres (65%) e entre aqueles com menor nível de educação e renda (62%). Entre os mais jovens (18-24 anos), o apoio é de apenas 37%, contra 79% no grupo que tem 65 anos ou mais. Entre todas as regiões do país, o sul da Inglaterra, exceto Londres, tem o grupo mais monarquista: 66%. O menos monarquista está na Escócia: 45%.

O Futuro

As últimas pesquisas também mostram que, por uma pequena margem (37% a 34%), o público britânico prefere que o Rei seja o Príncipe William e não Charles III, que acaba de ser proclamado. Aos 73 anos, o novo monarca terá o grande desafio de preencher a lacuna deixada por sua mãe.

Se Elizabeth II, tinha 75% de aprovação, o atual Rei tem apenas 42%, segundo pesquisa feita no segundo trimestre deste ano. Charles III é apenas o sexto na lista dos mais populares da Realeza britânica, atrás de Kate Middleton, a nova duquesa Cornuália (título herdado da mulher de Charles, Camila, atual Rainha Consorte), com 68% e de seu marido, o Príncipe William e novo duque de Gales, com 66%.

O Príncipe Phillip, marido de Elizabeth II, que morreu no ano passado, continua o quarto mais popular, 64% de aprovação, à frente da filha, a Princesa Anne, 53% e de Zara Phillips, atleta de hipismo e filha de Anne, que tem, segundo o Yougov, 49% de aprovação do público. Em sétimo, depois de Charles, aparece a mulher dele, a Rainha Consorte Camila, com 40% de popularidade.

Não é política

"Em tempos modernos, hiperdemocráticos, como os atuais, a monarquia também teve de se adaptar, fazer concessões", afirma Dawisson Belém Lopes. Professor de Relações Internacionais da UFMG e pesquisador visitante da Universidade de Oxford, ele lembra, no entanto, que não dá para usar a métrica dos políticos eleitos com a monarquia.

Os monarcas não estão sujeitos à vontade das urnas, mas não estão isentos da pressão popular. O grande desafio de Charles III será levar adiante uma instituição que, sem Elizabeth II, perde em apoio e em credibilidade. Algumas cenas dos últimos dias podem tornar a missão do novo Rei ainda mais difícil.
Embora não tenha sido registrada nenhum ato de protesto contra Elizabeth II, o mesmo não pode se dizer contra a monarquia nem contra Charles III. Em Londres, a polícia retirou pessoas que protestavam pacificamente com cartazes em que se lia "não é o meu Rei". Um advogado foi alertado por um policial que poderia ser preso caso escrevesse a mensagem na folha em branco que segurava.

Hoje, a Scotland Yard, polícia metropolitana de Londres, divulgou um comunicado que contradiz a postura do policial, para dizer que "todos tem o absoluto direito de protestar". Em Edimburgo, durante o cortejo com o caixão de Elizabeth II, um jovem de 22 anos foi detido após protestar contra o Príncipe Andrew. "Você é um doente", gritou, antes de ser retirado pela multidão e, depois, por policiais.

O Príncipe Andrew foi afastado de todas as suas funções na Realeza depois dos muitos indícios e acusações de envolvimento numa rede de exploração sexual de menores e do abuso de uma adolescente que, na época, tinha 17 anos. Andrew não é a face principal da monarquia, mas ajuda a compor o desgaste que Charles terá de enfrentar. O próprio Rei também enfrenta acusações recentes de relações espúrias com ditaduras do Oriente Médio.

Elizabeth II não foi uma unanimidade, mas Charles III, seus sucessores e a própria monarquia dependem, mais do que nunca, do espólio emocional que ela deixa. Na próxima segunda-feira, dia 19, a Rainha será enterrada ao lado do marido, o Príncipe Phillip, na capela de São Jorge, no Castelo de Windsor. Será também o sepultamento de uma era e o início, de fato, de outra, que já começa com uma pressão nunca antes enfrentada pelos donos da Coroa.

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