Trump traiu seu juramento, afirma comitê que investiga invasão do Capitólio
Em audiência, ex-funcionários da Casa Branca afirmaram que o ex-presidente queria ir ao Capitólio mas foi impedido pelo Serviço Secreto
Washington DC -- Pouco antes das oito da noite, horário marcado para o começo da audiência pública, os corredores e a rotunda ao redor da sala de audiência do edifício Cannon -- ao lado do Capitólio -- estavam cheios. Testemunhas, funcionários públicos e jornalistas se preparavam para a oitava audiência que investiga o ataque à sede do legislativo americano, em 6 de janeiro do ano passado. Do lado de fora do prédio, na entrada, apenas um manifestante solitário que carregava no pescoço as cores da bandeira da Ucrânia e um banner que dizia: "Trump, o mais perigoso vendedor de óleo de cobra do mundo".
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Segundo os legisladores que apuram o que aconteceu naquela tarde, o ex-presidente teve total responsabilidade pelo ataque ao Capitólio naquele dia 6. O presidente do comitê Bennie Thompson afirmou que Trump abriu o caminho para a anarquia e deve ser responsabilizado. Entre os que compareceram presencialmente para depor, dois destaques: Matthew Pottinger que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional na administração Trump e Sarah Matthews, ex-secretária adjunta de imprensa da Casa Branca. Sarah teve grande destaque. A antiga funcionária do governo americano pediu demissão do cargo naquela mesma noite da invasão porque, segundo ela, "o que Donald Trump fez foi indefensável". Ela narrou momentos como o que antecedeu a volta do ex-presidente à Casa Branca depois dele discursar para os apoiadores num palco externo. No carro junto ao Serviço Secreto, o republicano quis ir ao Capitólio segundo Sarah Matthews, mas foi proibido por questões de segurança. Trump, naquele momento, se enfureceu, segundo a ex-secretária de imprensa.
Matthew Pottinger também deixou o cargo em 6 de janeiro do ano passado. Ele conta que tomou a decisão imediatamente depois de receber o rascunho de um texto de um tweet que estava por ser publicado pelo ex-presidente. Nele, Trump dizia que "Pence não teve coragem de fazer o que deveria ter sido feito", se referindo à seu desejo de que o ex vice-presidente não validasse ou impedisse a validação dos votos pelo Colégio Eleitoral.
A demora do ex-presidente Trump para parar os invasores
O foco da última audiência foram as mais de três horas que Donald Trump levou para se pronunciar sobre a invasão do Capitólio. Naquela tarde, o ex-presidente estava na Casa Branca e permaneceu quase todo o tempo na sala de jantar, acompanhando pela tevê o que acontecia a poucos quilômetros dali. Testemunhas ouvidas pelo comitê narraram que o vídeo publicado nas redes sociais, no qual Trump pede que os invasores sigam o caminho de casa, gerou controvérsias internas e que o script passado ao ex-presidente não foi seguido por ele. Trump, segundo os depoentes, não queria incluir a palavra "paz" no pronunciamento. Só depois de uma intervenção da filha Ivanka, o republicano concordou em dizer aos invasores para "irem embora pacificamente". Trump ainda adicionou por conta própria no texto a frase dita aos invasores: "Nós amamos vocês. Vocês são muito especiais".
Áudios do Serviço Secreto
As mensagens trocadas pelo rádio das equipes que faziam a proteção do ex vice-presidente Mike Pence, em 6 de janeiro de 2021, puderam ser ouvidas durante a audiência pública. Em um momento, um dos agentes diz: "Temos que nos mover. Se perdemos mais tempo poderemos perder a habilidade de fazê-lo". Enquanto eles conversavam sobre retirar ou não o então vice-presidente americano dali, uma nuvem de fumaça invadia os corredores do Capitólio. Um oficial de segurança da Casa Branca que depôs em condição de anonimato monitorava o tráfego de áudio das equipes do Serviço Secreto. Ele afirmou que os agentes que protegiam Pence temeram pela própria vida, porque alguns fizeram ligações para familiares como um último adeus.
Próximos passos
Desde que as investigações começaram, cerca de 850 pessoas foram presas pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro do ano passado. Cinco pessoas morreram e 140 policiais ficaram feridos. O comitê do Congresso pretende emitir um resumo das conclusões obtidas com as oito audiências em agosto e um documento final deve sair em dezembro. É possível que audiências extras sejam convocadas mais para o fim do ano, afirmou uma legisladora. Ao fim, a Comissão do Congresso poderá enviar recomendações de ações criminais para o Departamento de Justiça. Caberá ao procurador-geral decidir se o ex-presidente Trump deverá ser processado judicialmente.