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Dupla cancela show na Argentina após Banco Central restringir saída de dólar

Saída do ministro da Economia do governo de Alberto Fernández agravou crise socioeconômica que atinge país

Dupla cancela show na Argentina após Banco Central restringir saída de dólar
Dupla de pop e reggaeton latino Mau & Ricky
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A dupla de pop e reggaeton latino Mau & Ricky, formada pelos irmãos venezuelanos Mauricio Rodriguez e Ricardo Andrés Rodriguez, compositores de músicas conhecidas como Vente Pa Ca, interpretada por Ricky Martin e Maluma, cancelaram o show que iriam fazer na cidade de Santa Fé, na Argentina. O motivo, segundo a produtora, foram as recentes restrições impostas pelo governo à saída de dólar do país.

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A medida é uma entre várias divulgadas pelo Banco Central argentino nas últimas semanas para lidar com a atual crise socioeconômica que atinge o país, agravada pela renúncia de Martin Guzmán do cargo de ministro da Economia por falta de apoio de um setor da coalizão do governo de Alberto Fernández que responde à vice-presidente e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) por seu plano de redução do deficit fiscal e controle da inflação, que desde o início do ano chegou a quase 30%. 

Substituído por Silvina Batakis, Guzmán era visto como uma voz moderada no governo de esquerda e sua saída coloca um grande ponto de interrogação no recente acordo do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para reestruturar US$ 44 bilhões em dívidas.

A economia argentina já está sobrecarregada com a escassez de combustível, a inflação a uma taxa anual superior a 60% e pobreza que atinge mais de 37% da população. No entanto, a crise não é novidade.

Ao SBT News, Fernando Alfonso Mayor, 61, dono de uma loja de cimento em Buenos Aires, contou que a situação é a mesma, governo após governo. "Sempre foi e sempre será igual."

"A gente aqui vive se esquivando dos problemas dos governos. Desde que eu tenho consciência, dos meus 18 anos para cá, sempre foi igual neste país: um governo um pouquinho melhor, outro mais ou menos, mas um país que era número 1 do mundo, hoje estamos --não quero nem falar -- estamos em ruínas.", lamentou o comerciante.

Devido às sucessivas crises, os argentinos desconfiam tanto de seus governos e sua moeda que economizam em dólares, principalmente em períodos de inflação acelerada e instabilidade política como a atual.

É uma tentativa de preservar o poder de compra: os cidadãos economizam nessa moeda, enquanto empresas e investidores dolarizam seus lucros. O problema é que a escassez de dólar é um problema antigo no país.

Após dar um calote na dívida externa em 2001, a Argentina não consegue acumular reservas internacionais. O controle de capitais durante o período dos Kirchner (2003-2015) no governo limitou o aumento da dívida externa, mas a situação mudou com Mauricio Macri (2015-2019), que liberou o capital, ampliando rapidamente o endividamento externo, sem que houvesse uma recuperação das reservas internacionais.

Na tentativa de controlar as reservas, o governo de Fernández vem impondo uma série de restrições para compra de dólares e, em junho, o Banco Central limitou o uso de moeda estrangeira para diversos tipos de importações.

Apesar de limitar a saída da moeda do país, a medida, ao mesmo tempo, agrava a situação econômica interna, pois causa desabastecimento de produtos e pior: o aumento de preços e consequentemente alta inflação, como explica o professor da Universidade Federal de Sergipe, Corival Alves do Carmo, mestre em Economia 

"Essa restrição gera um outro elemento: no caso de uma situação de hiperinflação, que não é o caso da Argentina, mas você tem uma inflação alta, as pessoas querem proteger a sua riqueza e como na Argentina as pessoas podem transacionar internamente com dólares, o que é que todo mundo faz? Vai comprar dólares, mesmo que seja no mercado paralelo, causando mais uma pressão adicional sobre a taxa de câmbio."

E é esse desequilíbrio que o país parece não conseguir resolver. Dar um novo calote no FMI daria uma margem de manobra ao governo, mas somente de curto prazo. "Em tese, um novo calote dá uma margem de manobra -- é o argumento de quem defende o calote  -- porque aí você não tem que efetuar os pagamentos do acordo com o FMI e tem uma quantidade maior de dólares.

Só que essa quantidade de dólares que você consegue com um calote é pequena frente as necessidades, já que um calote significa novas saídas de capital e desvalorização cambial", explica o economista, que também aponta que a outra opção, continuar com o acordo e aumentar os níveis de exportação, poderia solucionar a crise econômica crônica do país, mas a atual conjuntura internacional não é favorável.

"Não é fácil nem ser presidente nem ser Ministro da Economia da Argentina, não tem uma solução óbvia, não tem uma solução de quatro anos.  É preciso de uma conjuntura internacional favorável, você precisa de um arranjo regional favorável, e nas circunstâncias atuais não tem. A conjuntura não é favorável para a Argentina, pois existem uma série de fatores que tornam difícil definir uma agenda que vai produzir resultados de curto prazo."

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