Fome crescente na América Latina aumenta migração, alerta ONU
Região tem 11% das pessoas em situação de insegurança alimentar moderada e grave
Pablo Valler
Um número cada vez maior de pessoas está arriscando suas vidas em rotas migratórias perigosas na América Latina. Elas são forçadas a deixar suas comunidades por causa da crise global de segurança alimentar. A ameaça de fome foi agravada com taxas altas de inflação e as consequências da guerra na Ucrânia.
A afirmação é da diretora regional do Programa Mundial de Alimentos na América Latina e Caribe, Lola Castro. Nesta 3ªfeira (15.jun, ela falou a jornalistas em Genebra, na Suíça.
Tendência negativa
Lola Castro afirma que América Latina e Caribe já mostravam sinais de recuperação no fim de 2021 e o número de pessoas em insegurança alimentar grave havia caído para 8,3 milhões após chegar a 17,2 milhões durante a crise da covid-19.
Atualmente, dos 2,3 bilhões de pessoas em insegurança alimentar moderada e grave no mundo, 11% vivem em países latino-americanos e caribenhos.
Os dados mais recentes do PMA indicam que 9,7 milhões de pessoas estão em extrema insegurança alimentar nos 13 países onde o PMA tem presença.
Segundo Lola Castro, a tendência aponta que esse número pode subir para até 14 milhões de pessoas, se aproximando dos níveis máximos alcançados no auge da pandemia.
Ela lembra que os preços do combustível e da energia são "um grande problema" para quem vive em condições precárias. Nos últimos dois anos, o custo no frete de uma tonelada de alimentos na região aumentou em sete vezes.
O efeito combinado de múltiplos fenômenos climáticos, com a pandemia em curso e a crise alimentar, de combustível e financeira ligada à Ucrânia criam dificuldades para atender a necessidade urgente de assistência alimentar nos países.
Migrantes desesperados
De acordo com a diretora do PMA na América Latina e Caribe, a deterioração das condições de vida deixou pouca opção às pessoas a não ser fugir de suas comunidades mesmo com risco de morte. Um desses grupos são migrantes haitianos que, durante a pandemia, foram para Brasil e Chile à procura de trabalho. Muitos fizeram caminhos perigosos.
Lola Castro citou casos de uma migração hemisférica com todas as Américas em movimento e não somente a rota que levava à América do Norte.
Perigo na selva de Darien
Para a representante do PMA, um dos sinais mais claros do desespero das pessoas é o fato de que elas estão dispostas a arriscar suas vidas atravessando a Passagem de Darien, uma rota de floresta fechada, árdua e perigosa na América Central que permite o acesso do sul do continente ao norte.
Lola Castro afirmou que em 2020, 5 mil pessoas fizeram esse caminho, migrando da América do Sul para a América Central. No ano seguinte, foram 151 mil pessoas na perigosa travessia de 10 dias.
Ela explicou que os migrantes deixam suas casas por terem perdido tudo para a "crise climática" e para ainsegurança alimentar. E outro fator da migração são violência e criminalidade em comunidades.
Dados da ONU indicam que das 69 economias que estão passando por choques alimentares, energéticos e financeiros, 19 estão na região da América Latina e Caribe.