Unicef alerta para possibilidade de "explosão" de mortes de crianças na África
Somália possui 386 mil menores precisando de tratamento para má nutrição aguda
Guilherme Resck
Se nenhuma medida for adotada para reverter o risco de mortes de crianças em estado grave de má nutrição e doenças nos países do Chifre da África, o nordeste do continente, ocorrerá uma "explosão em casos de óbitos de menores" na região, segundo a vice-diretora regional do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância no leste e sul africano, Rania Dagash. Ela fez o alerta em entrevista a jornalistas, em Genebra, na 3ª feira (7.jun).
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De acordo com Dagash, a Somália possui 386 mil crianças precisando desesperadamente de tratamento para má nutrição aguda. O número supera o registrado em 2011 (340 mil), quando houve uma crise de fome no país. A taxa local de má nutrição cresceu 15% em apenas cinco meses. Ainda conforme a vice-diretora regional do Unicef, Etiópia, Quênia e Somália somam mais de 1,7 milhão de crianças com quadro grave de má nutrição precisando serem tratadas urgentemente.
Ela explicou que recursos da região se esgotaram por casa da falta de chuva: quatro estações de precipitações não ocorreram em dois anos e, assim, as plantações e os rebanhos morreram. A previsão é que não chova entre outubro e dezembro de 2022 também.
O crescimento da quantidade de crianças em estado grave de má nutrição que precisaram de atendimento hospitalar no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, é outro índice que preocupa o Unicef. Segundo a entidade, Quênia, Somália e Etiópia apresentaram altas de 71%, 48% e 27%, respectivamente.
Nas áreas mais afetadas pela forme no Chifre da África, triplicou o número de mortes nos primeiros três meses de 2022, sendo que muitas delas ocorreram em centros de saúde. O número de lares sem acesso á água própria para consumo na região subiu de 5,6 milhões para 10,5 milhões, entre fevereiro e maio.
O Unicef acrescenta que "a guerra na Ucrânia elevou os riscos de morte para as crianças nos países do Chifre de África". "A Somália, por exemplo, importava 62% do trigo da Rússia e da Ucrânia. Este fornecimento está agora suspenso. A guerra também levou a um aumento no preço dos combustíveis e dos alimentos para esses países".
A entidade afirma precisar de mais de US$ 12 milhões (R$ 58,7 milhões) para socorrer as crianças na região africana nos próximos seis meses. "A agência está enfrentando uma crise de financiamento após receber apenas um terço do apelo para a região", pontua. Para o Unicef, a comunidade internacional precisa se comprometer com a ajuda ao Chifre da África, na reunião do G7 -- grupo das sete maiores economias do mundo, na Alemanha, marcada para este mês.
A agência da ONU fala entender que o encontro focará na Ucrânia, mas afirma ainda que os líderes mundiais "devem se lembrar de outras crises e emergência do globo".
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