Com 6% da Amazônia, Colômbia desponta como líder na área ambiental
Presidente Ivan Duque está em Londres e teve "liderança global" destacada pelo príncipe William
Sérgio Utsch
Em sua última agenda internacional antes de deixar o governo, o presidente da Colômbia Ivan Duque está em Londres para encontros com autoridades britânicas. No próximo dia 29, os colombianos terão o primeiro turno das eleições que poderão levar ao poder um candidato da esquerda pela primeira vez na história republicana do país.
O senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro é apontado como favorito nas pesquisas e prometeu mudar a maneira como a Colômbia se relaciona com o mundo. As relações com os Estados Unidos poderão ser as mais afetadas. Em Londres, Duque elogiou o acordo comercial firmado entre colombianos e britânicos e afirmou que "seria uma estupidez sem precedentes" romper com políticas que geraram empregos em seu país.
O acordo comercial entre Colômbia e Reino Unido já foi ratificado pela Corte constitucional colombiana e, segundo a presidência do país, deve entrar em vigor nas próximas semanas. Foram adotados os mesmos parâmetros de um acordo comercial que já existia com a União Europeia e que, no caso britânico, perdeu a validade após o Brexit.
Mercosul
A Colômbia não faz parte do bloco econômico da América do Sul e acompanha a espera do Brasil pela implementação do acordo comercial com União Europeia. A aprovação foi anunciada em 2019 e comemorada pelo governo Bolsonaro como a primeira vitória no campo internacional. Três anos depois, no entanto, não há sinais de que o acordo será colocado em prática.
É preciso a aprovação unânime dos parlamentos de todos os países da União Europeia, mas vários deles dizem que isso não vai acontecer enquanto o desflorestamento da Amazônia não for controlado. Em 2021, a floresta teve o pior ano em uma década, segundo dados do Imazon, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. Mais de 10 mil quilômetros quadrados foram destruídos. A devastação aumentou 21% em relação a 2020, ano que já tinha tido o maior desmatamento desde 2012.
Dona da terceira maior porção da floresta (6,95%), depois do Brasil (60,3%) e Peru (11,3%), a Colômbia também sofre com o desflorestamento mas, aos poucos, ocupa o vácuo deixado pelo governo brasileiro no debate sobre meio-ambiente. Em Londres, o presidente Ivan Duque encontrou-se com as principais autoridades do país e até com membros da monarquia, como o Príncipe William.
Ele e o pai, o Príncipe Charles, lideram várias iniciativas globais para proteção da biodiversidade do planeta. A Colômbia tornou-se o primeiro país do mundo a assinar uma declaração do Palácio de Buckingham para incentivar a proteção da fauna e flora. Como é um projeto da monarquia, não tem a força de um tratato internacional, mas dá aos colombianos mais visibilidade nas discussões diplomáticas. "Espero que outras nações sigam a liderança da Colômbia e se comprometam a apoiar o fim do tráfico de animais", disse o Príncipe William.
Liderança global
No encontro que teve com o primeiro-ministro Boris Johnson, Ivan Duque também ouviu do britânico elogios ao papel desempenhado por seu país "por mostrar liderança para o mundo em proteger nossa biodiversidade e nossas florestas". Duque foi um dos políticos sul-americanos mais próximos do governo britânico na organização da Cop-26, a Conferência do Clima realizada em Glasgow no ano passado.
Em viagem que fez a Brasília duas semanas antes do evento, o colombiano tentou convencer o presidente Jair Bolsonaro a participar da Cop e ouviu que "com toda a certeza chegaremos unidos em Glasgow para tratarmos de um assunto muito importante e caro para todos nós: a nossa querida, rica e desejada Amazônia". Bolsonaro acabou não comparecendo à Cop-26, o que limitou a força que o Brasil sempre teve nesse campo de negociação.
Sem o presidente brasileiro, o colombiano acabou se transformando no principal representante da Amazônia em Glasgow, onde se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e vários outros líderes da União Europeia.
A força internacional dos vizinhos do Brasil não tem a ver necessariamente com a figura de Duque, avalia Dawisson Lopes Belém, professor de Política Internacional da UFMG e pesquisador visitante do Centro de Estudos da América Latina da Universidade de Oxford. "A Colômbia se projeta internacionalmente melhor que o Brasil e já está construindo essa projeção há décadas".
Na questão ambiental, o pesquisador avalia que "se o Brasil não projeta o seu peso e tem uma atitude omissa, outro ator vai exercer essa função. E esse ator é a Colômbia". De Londres, o presidente Ivan Duque vai à Turquia, onde encontra-se com o presidente Recep Erdogan, uma das vozes mais influentes na atual crise entre a Rússia e a Otan.
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