Navio que naufragou em 1915 é encontrado na Antártica; conheça a história
O 'Endurance' afundou enquanto seu comandante, o explorador Ernest Shackleton, tentava atravessar o Polo Sul a pé
Karyn Souza
O lendário navio "Endurance", que naufragou em 1915, foi encontrado por uma equipe de buscas, há mais de 3 mil metros de profundidade, na Antártica. A descoberta foi anunciada, nesta 4ª feira (11.mar), pela instituição inglesa Falklands Maritime Heritage Trust (FMHT), que patrocinou a expedição "Endurance22".
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Comandando pelo explorador Ernest Shackleton, o "Endurance" afundou no Mar de Weddell, ao leste da Península Antártica, enquanto o seu capitão tentava realizar um feito histórico: a primeira travessia a pé do Polo Sul.
Devido às condições extremas, tentativas anteriores de encontrar o navio naufragado já haviam fracassado, apesar de sua localização ter sido determinado, há mais de 100 anos, pelo capitão Frank Worsley, que chefiava a tripulação do 'Endurance'. A embarcação foi encontrada, nos dias atuais, a cerca de 6 quilômetros da posição descrita por Worsley.
A missão "Endurance22", que foi organizada por um fundo das Ilhas Malvinas", usou de alta tecnologia marítima para, desta vez, obter sucesso na busca pelo navio. Dentre os equipamentos, estavam veículos subaquáticos, com câmeras de alta definição, e scanners de ponta para rastrear o fundo mar. A operação partiu da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 5 de fevereiro, e durou cerca de duas semanas até obter sucesso.
Segundo o arqueólogo marinho Mensun Bound, que fez parte da expedição, o "Endurance" foi o "melhor naufrágio de madeira" que ele já viu. O especialista explicou que, apesar dos anos no fundo do mar, a embarcação apresenta pouca deterioração do casco, e tem a aparência semelhante àquela fotografada por Frank Hurley, que registrou a Expedição Imperial Transatlântica chefiada por Ernest Shackleton, em 1914.
The ship was found at a depth of 3,008m, about 7.5km southwards of the coordinates recorded by #Endurance skipper Frank Worsley. @Endurance_22 used Saab Sabertooth submersibles provided by @Ocean__Infinity to make the discovery and conduct the subsequent survey. pic.twitter.com/7PNXY7QtUX
? Jonathan Amos (@BBCAmos) March 9, 2022
Durante a varredura do local, foram encontrados no naufrágio itens pessoais dos marinheiros, como botas, e até mesmo as louças usadas nas refeições da tripulação.
De acordo com o FMHT, o "Endurance" é considerado um monumento histórico e, por isso, está sob proteção do Tratado Antártico; por isso, nada foi retirado do local durante a expedição.
A lendária, e quase trágica, história do "Endurance"
Em agosto de 1914, a Expedição Imperial Transatlântica deixou a costa da Inglaterra a bordo do "Endurance", um navio relativamente pequeno para os padrões da época, porém, feito de madeira muito resistente e com a estabilidade de três lemes. A missão de seu comandante era fazer história: realizar a inédita travessia a pé do continente gelado, região que ele já havia tentado acessar em outras duas oportunidades.
A aventura de Ernest Shackleton e seus 27 marinhos (além dos animais a bordo), começou a dar errado em dezembro de 1914, quando a embarcação encalhou na geleira do Mar de Weddell. Os tripulantes chegaram a tentar romper a barreira gelada e abrir, com a ajuda de picaretas, um caminho para retornar ao mar aberto, sem sucesso.
Por nove meses, o grupo de exploradores ficou ali, dentro do "Endurance", vivendo em meio à vastidão branca e congeladnde de 30 graus negativos, esperando que, em algum momento, o caminho se abrisse. O que não aconteceu. Em outubro de 1915, a embarcação não resistiu à pressão da geleira ao seu redor, e seu convés começou a se partir. Assim, o grupo se viu obrigado a abandonar o navio e montar seu acampamento no gelo.
Mais meses se passaram, equanto Shackleton e seus homens tentavam sobreviver, agora não somente ao clima extremo, mas também à falta de alimento e às doenças; condições que dificultavam, cada vez mais, a tafera de retornar ao continente.
Até que, finalmente, em março de 1916, um gelo começou a ficar mais fino e um canal se abriu, permitindo que o grupo remasse, em seus barcos salva-vidas, de volta ao mar aberto. A tripulação só foi chegar em terra firme, a ilha de Elephant em abril daquele daquele ano, depois de 497 dias à deriva. Dali, com a maior parte dos homens relativamente abrigados, partiu uma pequena expedição em busca de resgate - que só conseguiu voltar com ajuda quatro meses depois.
Somente depois de 22 meses, Ernest Shackleton e seus 27 anos conseguiram voltar para a Inglaterra. E, apesar de nunca ter efetivamente chegado ao continente gelado, e enfrentado todas as adversidades possíveis na luta pela sobrevivência, a Expedição Imperial Transatlântica voltou completa, sem nenhuma baixa.
Os registros fotográficos de Frank Hurley e os diários de viagem dos tripulantes se tornaram artefatos históricos e hoje ficam guardados na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.