Talibã proíbe mulheres de praticar esportes
Paquistaneses são vítimas de dois Talibãs: aliados do braço afegão, eles sofrem com um Talibã interno
SBT News
O comando do Talibã confirmou nesta 4ª feira (8.set) que mulheres estão proibidas de praticar esporte no país. "Nessa era digital, haverá fotos e vídeos e as pessoas vão assistir. O Islã e o Emirado Islâmico (Afeganistão) não permitem que mulheres joguem cricket ou outro esporte que as exponham", disse Ahmadullah Wasiq, diretor da comissão cultural do grupo à rede australiana SBS.
Proibidas de praticar esportes, hoje elas foram às ruas novamente na cidade de Herat. Protestavam contra o vizinho Paquistão, que tornou-se o principal aliado político do Talibã. Do outro lado da fronteira, a aliança divide opiniões. Filiado ao ANP, partido de oposição ao primeiro-ministro Imran Khan, Haji Malik diz ao SBT News que o Talibã não mudou. "São perigosos, cruéis, matam as pessoas".
Israr Shah, 24 anos, também pensa assim. O enfermeiro afegão estava em uma das ambulâncias que socorreram as vítimas do atentado terrorista no aeorporto de Cabul, em 26 de agosto. 182 pessoas morreram, entre elas 169 civis afegãos, que tentavam sair do país. "Eles não deixaram que nós levássemos os feridos para o hospital", afirmou o enfermeiro, ainda sem entender o porquê da decisão dos soldados do Talibã.
Depois de um telefonema da mãe, dando conta que ele estava sendo procurado pelos fundamentalistas, Israr decidiu gastar o último dinheiro que tinha pra pagar um contrabandista, que o guiou por uma travessia ilegal pelas montanhas pra chegar ao Paquistão. "Não me sinto seguro nem aqui. Quero ir pra outro país", conta um entre as dezenas de milhares de profissionais qualificados que deixaram o Afeganistão nas últimas semanas.
O Talibã do Paquistão
Do lado de cá da fronteira, há outro grupo, ainda mais radical que aquele que tomou o poder no Afeganistão e que se apresenta como Tehrik-i-Taliban Pakistan ou TTP. A diferença é que um é aliado do governo paquistanês, enquanto o segundo é a principal ameaça à segurança no Paquistão.
O TTP tem alianças conhecidas com a Al-Qaeda e com o Estado Islâmico, grupos que o Talibã afegão diz não apoiar. Mas há controvérsias nessa história. Entre os milhares prisioneiros libertados no avanço dos fundamentalistas no Afeganistão, estão integrantes do TTP.
Em entrevista ao SBT News, o jornalista paquistanês Shamim Sharid, lembra que umas das demandas do Paquistão para o apoio ao Talibã era que o grupo entregasse os militantes do TPP. "O Talibã disse que não permitiria que o solo afegão fosse usado pra atacar o Paquistão, mas não falou nada sobre a prisão desses terroristas", lembra.
Desde 2007, o grupo promoveu centenas de ataques no Paquistão. O último deles foi no domingo passado, em Quetta. Três militares foram mortos em um ataque suicida. O mais traumático deles foi um atentado com bombas e tiros em uma escola militar de Peshawar, em dezembro de 2014 150 pessoas foram mortas. 132 eram crianças.
Entre as vítimas estava Mohammad Shalber, então com 13 anos. O irmão Mohammad Munib foi um dos sobreviventes. Sete anos depois, o paquistanês de 22 anos diz que é difícil ver as diferenças entre o Talibã de um lado e do outro da fronteira e lamenta que o grupo ainda esteja agindo em seu país. "Depois da morte do meu irmão, eu entendi o quanto é difícil perder alguém. Não é só sobre eles (os estudantes assassinados), é sobre o povo do Paquistão. Não deveria haver tanta estupidez. As pessoas estão cansadas".
Veja reportagem do SBT Brasil: