"Stomp" volta aos palcos de Nova York depois de pausa pela pandemia
O premiado e vibrante espetáculo de percussão foi um dos primeiros a retornar ao circuito off-Broadway
Nova York - Na região onde, há um ano, as ruas estavam desertas, luzes e burburinho. Em frente ao Teatro Orpheum, na Segunda Avenida, fila. A grande maioria usava máscara e apresentava aos funcionários do local o comprovante de vacinação contra a covid-19. Condição para que a entrada para o espetáculo fosse liberada. Lá dentro, o palco que por quase um ano e meio esteve vazio ganharia sons e movimento pela primeira vez desde o começo da pandemia. Com as luzes ainda acesas, os artistas entram. Nas mãos de um, uma vassoura. Ele varre e o som ganha ritmo. Outros músicos e atores se juntam. Ao longo de quase duas horas tiram sons de baldes, pás, jornais, sacos plásticos, latas e até pias de cozinha. A água que enche potes e panelas é milimetricamente calculada para produzir notas musicais.
Stomp é um verbo. Pode ser traduzido como pisar de forma pesada e ruidosa. No teatro, as estrelas de Stomp fazem mesmo barulho. Mais que isso. Mostram o que é vida. "Eu e meu marido fomos ao show há dois anos e amamos, então foi um momento muito emotivo voltar e fazer parte da reabertura depois de mais de um ano de silêncio. Eu senti vontade de chorar muitas vezes pelo poder que aquelas pessoas mostraram no palco. Foi maravilhoso", contou Dinara Khairova, fotógrafa russa, moradora de Nova York, que escolheu sentar na primeira fila. Como nos minutos finais do espetáculo os artistas avisam com gestos que o uso de celulares é permitido, ela fotografou alguns momentos mas usou sua máquina. "Sempre procuro guardar comigo eventos memoráveis então levo sempre minha câmera comigo", disse Khairova.
Foi, sim, marcante. Para o público e para os artistas do Stomp. Um deles, brasileiro. Marivaldo dos Santos é da Bahia e faz parte do elenco oficial há 25 anos, desde outubro de 1996. "A emoção é a de ver o público participando e a gente no palco, então é uma coisa que não dá para a gente descrever. Eu estou sentindo, ainda estou no show" disse Marivaldo na porta do teatro poucos minutos depois do fim da sessão de reestreia. "É uma emoção e uma esperança. Você começar um show é uma esperança no geral, no sentido de que vai voltar tudo ao normal". Marivaldo dos Santos foi ao Brasil durante o período mais crítico da pandemia em Nova York. Em Salvador, sua cidade natal, deu o pontapé para a criação do Favellê Music.
"É uma oportunidade para os artistas de lá para que produzam uma música com videoclipe", ele explica. Nos meses em que passou na Bahia, na pausa forçada do teatro, se dedicou ainda ao projeto social Quabales - sua criação há dez anos que oferece a 350 crianças e adultos oficinas para criação de instrumentos com material reciclado e aulas de música. "Voltei e vi todos aqui [em Nova York] sem máscara e estranhei", nos contou o artista brasileiro pouco antes de ser parado por um espectador que assistiu o show e pediu um autógrafo. A vacinação avançada nos Estados Unidos contra o novo coronavírus fez as autoridades sanitárias declararem que o uso da proteção da boca e do nariz só é necessária para não imunizados. Quem já tomou todas as doses da vacina contra a covid-19 há pelo menos 14 dias pode dispensar o uso. A máscara segue obrigatória nos Estados Unidos no transporte público. Nos teatros, a definição das regras cabe a cada organizador do evento. No caso de Stomp, a comprovação da imunização é obrigatória.
Broadway: a última etapa da reabertura de Nova York
A volta dos teatros e musicais é parte da última etapa de reabertura da cidade de Nova York. A maioria dos shows do circuito Broadway tem volta marcada para o começo de setembro. Stomp deu o pontapé inicial. Foi vibrante e marcou. "Estou de coração aquecido porque é um show com muita interação e vemos o público", disse Kayla Cowart, artista da Flórida. Ao SBT News, Kayla contou que nos meses de pausa do teatro se dedicou à música. "Foi bom porque me ajudou agora na volta". Alan Asuncion, que por vários momentos divertiu a plateia por seu personagem cômico, sorria na saída do teatro ao lado das filhas, que foram prestigiar a volta do grupo.
O co-criador do espetáculo Stomp Luke Cresswell disse ao SBT News que os ensaios para a volta duraram nove dias. "Tudo estava guardado na memória", disse o inglês e percussionista autodidata nascido em Brighton. Foi lá que Cresswell criou, em 1994, o show premiado que tira sons de objetos da vida cotidiana. "Sinto um alívio por termos conseguido voltar aos palcos e também muito orgulhoso. É difícil. Eu sinto que algumas pessoas estão tensas sobre ir ao teatro. Outras querem ir, então temos que ver como vai ser daqui para a frente, mas foi fantástico", ele disse.
Horas depois do show que marcou a volta do grupo, todos já estavam reunidos novamente. Desta vez, na Times Square. Ali, nas primerias horas da quinta-feira, 21 de Julho, fizeram uma apresentação ao vivo em rede nacional para um canal de TV americano. Os sons que reverberam no teatro ecoaram nas ruas de Nova York para lembrar a todos - aos que passavam ali e aos que os assistiam à distância - que a arte existe para isso. Nos tocar de forma tão intensa para nos lembrar que das coisas mais simples e cotidianas tiramos força e sorrisos para tocar a vida mesmo em uma pandemia.
Veja reportagem do SBT Brasil:
