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Johnson rebate ex-conselheiro que o acusou de má gestão na pandemia

Premiê britânico afirmou que declarações "não têm nenhuma relação com a realidade"

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Boris Johnson
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O primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse, nesta 5ª feira (27.mai), que as acusações feitas por seu ex-conselheiro Dominic Cummings "não têm nenhuma relação com a realidade". O ministro da Saúde, Matt Hancock, acusado por Cummings de mentir várias vezes sobre a situação da pandemia no país, afirmou que as declarações do ex-colega "não eram verdadeiras".

O premiê e seu ministro foram os principais alvos de Dominic Cummings no depoimento quase 10 horas, na 4ª feira, ao Comitê de Ciência e Tecnologia do parlamento britânico.

Além ter sido o mais importante conselheiro de Boris Johnson até novembro do ano passado, quando se demitiu do governo, ele foi o principal estrategista da campanha do Brexit e do Partido Conservador nas últimas eleições gerais. Cummings é definido pela mídia britânica como uma das figuras de bastidor mais poderosas da história de Downing Street.

"Dezenas de milhares de pessoas morreram sem necessidade." A explosiva frase de Cummings estampou as capas dos principais jornais do país nesta 5ª feira. Ele afirmou também que o premiê não tinha preparo pra lidar com a crise, que resistiu para decretar os lockdowns e que sua indecisão o deixava parecido "com um carrinho de supermercado desgovernado".

As acusações de Dominic Cummings são sérias, mas faltou o que no meio político brasileiro é chamado de "o batom na cueca". O deputado Jeremy Hunt, que preside a Comissão, disse que as declarações de Cummings serão tratadas, por enquanto, como "alegações sem provas".

Não é segredo pra ninguém no Reino Unido que o governo errou. Não é à toa que o país tem um dos maiores índices de mortes em números absolutos - 127.748 - e também um dos piores em termos proporcionais. São 822 vítimas pra cada milhão de habitantes, segundo o site Worldmeters.

Se houve atrasos pra decretar os três lockdowns impostos aos britânicos, não houve grande resistência do público para as restrições. Poucos dias antes do terceiro período de confinamento, uma pesquisa mostrava que 79% concordavam.

Mesmo com um dos piores índices do planeta, a autoestima britânica foi bastante elevada com o inegável sucesso do programa de vacinação: 38 milhões de pessoas - mais de 70% dos adultos do país - já receberam a primeira dose; 24 milhões estão completamente imunizados.

Antes do início da vacinação, em novembro do ano passado, apenas 34% dos britânicos consideravam o desempenho do premiê positivo, segundo pesquisa do instituto YouGov. A aprovação dele cresceu junto com o número de imunizados. Em 10 de maio, já eram 48% os que aprovavam o desempenho de Johnson.

O próprio primeiro-ministro definiu que só no ano que vem haverá uma comissão especial para investigar a atuação do governo britânico durante a pandemia. Os depoimentos e debates nessas comissões são bem menos calorosos do que nas CPI's do Brasil, mas poderiam trazer um estrago que o primeiro-ministro não estava disposto a sofrer.

O jornal The Telegraph, cujo apelido é "Torygraph", em referência a "Tory", como são chamados integrantes e apoiadores do partido de Boris Johnson, estampou na sua manchete de hoje que "Cummings se vinga e põe a culpa em Johnson e Hancock".

A narrativa dos "tories" já está pronta. O governo britânico se defenderá como mais um dos muitos que erraram ao enfrentar um vírus desconhecido e uma crise sem precedentes, mas que acabaram se rendendo à ciência. Nem a frase atribuída a Boris Johnson de que "preferia ver uma pilha de corpos a decretar um novo lockdown" e desmentida por seus assesores reverteu o ânimo dos britânicos.  

A campanha de vacinação, as muitas vidas salvas por ela e a inveja causada aos vizinhos europeus são o último capítulo dessa crise. É como uma novela em que o protagonista tem muitos momentos de vilão, mas acaba se rendendo ao lado do bem. Sem o batom na cueca, essa imagem pode ser a definitiva.  

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