Mundo
Na pandemia, um Oscar de tom intimista com a forma do glamour
Os organizadores foram exitosos em realizar uma cerimônia segura para os convidados e atraente para o público em casa
Patrícia Vasconcellos
• Atualizado em
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Nova York - Foi diferente. As poltronas do Dolby Theatre, a casa da entrega do Oscar nas últimas décadas, vazias. Ali, um dos apresentadores caminhou pelo auditório em um plano sequência até a entrada do teatro para anunciar o ganhador da estatueta do Prêmio Humanitário. Dali, chamou o outro condutor que estava longe. Bem longe... De outro teatro vazio, em Seul, na Coréia do Sul, Bong Joon-ho, primeiro diretor estrangeiro a vencer a categoria no ano passado com o premiado "Parasita", Bong Joon-ho anunciou o vencedor na categoria deste ano. Vencedora. Cloé Zhao estava em Los Angeles e foi eleita pela Academia melhor diretora por "Nomadland", longa metragem que conta a história de uma viúva americana que passa a viver em uma van depois de perder a casa e o marido durante a crise econômica de 2008 que atingiu os Estados Unidos. Usando um vestido longo de tecido leve de cor creme e tênis, de tranças e sem maquiagem, a chinesa nascida em Pequim e naturalizada americana que vive na Califórnia disse: "sempre encontrei bondade nas pessoas que cruzam meu caminho. Isso (mostrando a estatueta) é para qualquer pessoa que tem coragem em se apoiar no bom e no bem não importa o quão difícil seja atingir seu objetivo"
A festa do Oscar um ano após o começo da pandemia teve um tom emotivo e intimista. A grande maioria dos convidados se reuniu na maior estação de trens de Los Angeles, a Union Station. O local não deixou de receber passagerios durante o evento que aconteceu simultaneamente em diferentes pontos do local. Salas da estação foram adaptadas com pequenos palcos, mesas e cadeiras onde os indicados e seus convidados se acomodaram com certa distância. Nenhum usava máscara. Isso porque a organização do evento exigiu que todos fizessem três testes para detecção da Covid19 durante a semana. Para estar ali, foi preciso provar que o resultado nas três ocasiões foi negativo. Os indicados que não puderam viajar por restrições sanitárias entre os países devido ao novo coronavírus, participaram com transmissão ao vivo, a distância.
Questões técnicas e estruturais a parte, o Oscar 2021 também foi inédito na seleção. Pela primeira vez não houve a obrigatoriedade de exibição em salas de cinema para que os filmes fossem indicados. Dessa forma, muitas produções entraram na competição com estréia apenas em tevês a cabo ou "streaming" por serviços pagos de TV ou internet. Nos discursos dos vencedores e entre os premiados, o Oscar 2021 ainda reforçou uma tendência já presente no ano anterior. Muitas premiações das 23 categorias foram baseadas em temas atuais, da realidade, como o combate ao racismo evidenciado nos últimos meses pelas manifestações do movimento Black Lives Matter - em português, Vidas Negras importam. Um tema que veio à tona em produções como "Judas e o Messias Negro" que teve estréia no Brasil neste domingo, 25 de Abril. O filme conta a história da ascensão e queda do ativista e líder do Panteras Negras, movimento da década de 60 que foi investigado e combatido pelo FBI. Daniel Kaluuya ator e roteirista britânico que interpretou Fred Hampton, o jovem ativista, ganhou a estatueta de melhor ator coadjuvante. "Deus, aconteceu, realmente estou aqui" disse Kaluuya em um discurso emocionado falando diretamente para a mãe e a irmã que estavam no local em Los Angeles.
Com locais menores o tom intimista prevaleceu no anúncio do prêmio de melhor atriz coadjuvante. "Brad Pitt, finalmente te conheço, muito prazer" disse a atriz sul coreana Yoon Yeo-jeong, de "Minari" anunciada pelo astro hollywoodiano. Yoon Yeo-jeong fez um discurso bem humorado e parecia realmente surpresa. "Talvez isso seja uma gentileza dos americanos com uma sul coreana". Ao fim, já com a estatueta em mãos, saiu do palco com a ajuda de Brad Pitt e nos bastidores os dois emendaram uma conversa espontânea.
As apresentações ao vivo musicais dos indicados por melhor canção fizeram falta. As performances, nesta versão de pandemia, foram gravadas e exibidas na hora anterior ao começo da entrega das estatuetas quando os apresentadores das TVs americanas entrevistavam os atores na chegada ao tapete vermelho. Vencedora da categoria melhor música, a jovem americana H.E.R agradeceu presencialmente pelo prêmio da canção "Fight for you" do filme "Judas e o Messias Negro". Daí veio um momento inédito nas entregas do Oscar. As estrelas presentes na pequena sala foram convidadas a interagir com um DJ que levou o microfone até as mesas para que os atores adivinhassem o nome da música numa espécie de festa caseira. Houve espaço para dança informal e muitas risadas.
Ao fim, a categoria mais esperada: "Nomadland" ganhou como melhor filme. Chloé Zhao que havia estado no palco momentos antes para receber a estatueta de melhor direção, voltou para mais um prêmio. Desta vez, a chinesa discursou emocionada. A produção, que mistura ficção e documentário por mesclar atores a personagens reais, nômades, que vivem em traillers no interior dos Estados Unidos conquistou a estatueta de ouro mais desejada. Um prêmio esperado mas não tão óbvio já que na lista estavam grandes produções como "Mank", que conta a história por trás do roteiro do filme Cidadão Kane. "Nomadland" levou ainda o prêmio de melhor atriz. A ganhadora foi Frances Louise McDormand que, assim como Chloé Zhao, também recebeu a estatueta de cara lavada, sem qualquer maquiagem. Ao discursar, MacDormand disse: "eu amo meu trabalho. Obrigada por saberem disso".
Anthony Hopkins ganhador da estatueta de melhor ator pelo filme "Meu pai" não compareceu à cerimônia nem esteve presente para transmissão remota como outros indicados. JOaquin Phoenix que anunciou os indicados disse apenas: "Antony Hopkins agradece o prêmio". Horas depois, em sua página do Instagram, Hoppkins publicou um vídeo gravado no país de Gales, onde está. Com montanhas e um visual verde ao fundo disse: "aos 83 anos eu não esperava isso. Estou realmente honrado e quero prestar meu tributo à Chadwick Boseman que foi levado de nós muito cedo". Anthony Hopkins fez a homenagem Boseman, morto no ano passado por complicações de um câncer. O americano que faleceu aos 43 anos também foi indicado na categoria melhor ator pela interpretação em "A voz Surpema do Blues".
Em um ano em que a pandemia confinou milhares de pessoas em casa, exibindo celebridades ao redor do mundo em suas salas de estar em transmissões televisivas, a cerimônia do Oscar trouxe uma impressão parecida de vida cotidiana apesar do glamour ter estado presente na forma. Nas falas, o foco eram os desafios do dia a dia como a segregação de classes ou racial, a busca pelo que faz sentido após tragédias consecutivas, a luta por uma causa. Na estação de trem adaptada de Los Angeles, os astros de Hollywood - que por décadas foram vistos ou sentidos como seres inatingíveis - se aproximaram da realidade. Vieram de outros países, de diferentes origens. Falaram e foram vistos como gente cotidiana mesmo vestidos com roupas de gala.
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A festa do Oscar um ano após o começo da pandemia teve um tom emotivo e intimista. A grande maioria dos convidados se reuniu na maior estação de trens de Los Angeles, a Union Station. O local não deixou de receber passagerios durante o evento que aconteceu simultaneamente em diferentes pontos do local. Salas da estação foram adaptadas com pequenos palcos, mesas e cadeiras onde os indicados e seus convidados se acomodaram com certa distância. Nenhum usava máscara. Isso porque a organização do evento exigiu que todos fizessem três testes para detecção da Covid19 durante a semana. Para estar ali, foi preciso provar que o resultado nas três ocasiões foi negativo. Os indicados que não puderam viajar por restrições sanitárias entre os países devido ao novo coronavírus, participaram com transmissão ao vivo, a distância.
Questões técnicas e estruturais a parte, o Oscar 2021 também foi inédito na seleção. Pela primeira vez não houve a obrigatoriedade de exibição em salas de cinema para que os filmes fossem indicados. Dessa forma, muitas produções entraram na competição com estréia apenas em tevês a cabo ou "streaming" por serviços pagos de TV ou internet. Nos discursos dos vencedores e entre os premiados, o Oscar 2021 ainda reforçou uma tendência já presente no ano anterior. Muitas premiações das 23 categorias foram baseadas em temas atuais, da realidade, como o combate ao racismo evidenciado nos últimos meses pelas manifestações do movimento Black Lives Matter - em português, Vidas Negras importam. Um tema que veio à tona em produções como "Judas e o Messias Negro" que teve estréia no Brasil neste domingo, 25 de Abril. O filme conta a história da ascensão e queda do ativista e líder do Panteras Negras, movimento da década de 60 que foi investigado e combatido pelo FBI. Daniel Kaluuya ator e roteirista britânico que interpretou Fred Hampton, o jovem ativista, ganhou a estatueta de melhor ator coadjuvante. "Deus, aconteceu, realmente estou aqui" disse Kaluuya em um discurso emocionado falando diretamente para a mãe e a irmã que estavam no local em Los Angeles.
Com locais menores o tom intimista prevaleceu no anúncio do prêmio de melhor atriz coadjuvante. "Brad Pitt, finalmente te conheço, muito prazer" disse a atriz sul coreana Yoon Yeo-jeong, de "Minari" anunciada pelo astro hollywoodiano. Yoon Yeo-jeong fez um discurso bem humorado e parecia realmente surpresa. "Talvez isso seja uma gentileza dos americanos com uma sul coreana". Ao fim, já com a estatueta em mãos, saiu do palco com a ajuda de Brad Pitt e nos bastidores os dois emendaram uma conversa espontânea.
As apresentações ao vivo musicais dos indicados por melhor canção fizeram falta. As performances, nesta versão de pandemia, foram gravadas e exibidas na hora anterior ao começo da entrega das estatuetas quando os apresentadores das TVs americanas entrevistavam os atores na chegada ao tapete vermelho. Vencedora da categoria melhor música, a jovem americana H.E.R agradeceu presencialmente pelo prêmio da canção "Fight for you" do filme "Judas e o Messias Negro". Daí veio um momento inédito nas entregas do Oscar. As estrelas presentes na pequena sala foram convidadas a interagir com um DJ que levou o microfone até as mesas para que os atores adivinhassem o nome da música numa espécie de festa caseira. Houve espaço para dança informal e muitas risadas.
Ao fim, a categoria mais esperada: "Nomadland" ganhou como melhor filme. Chloé Zhao que havia estado no palco momentos antes para receber a estatueta de melhor direção, voltou para mais um prêmio. Desta vez, a chinesa discursou emocionada. A produção, que mistura ficção e documentário por mesclar atores a personagens reais, nômades, que vivem em traillers no interior dos Estados Unidos conquistou a estatueta de ouro mais desejada. Um prêmio esperado mas não tão óbvio já que na lista estavam grandes produções como "Mank", que conta a história por trás do roteiro do filme Cidadão Kane. "Nomadland" levou ainda o prêmio de melhor atriz. A ganhadora foi Frances Louise McDormand que, assim como Chloé Zhao, também recebeu a estatueta de cara lavada, sem qualquer maquiagem. Ao discursar, MacDormand disse: "eu amo meu trabalho. Obrigada por saberem disso".
Anthony Hopkins ganhador da estatueta de melhor ator pelo filme "Meu pai" não compareceu à cerimônia nem esteve presente para transmissão remota como outros indicados. JOaquin Phoenix que anunciou os indicados disse apenas: "Antony Hopkins agradece o prêmio". Horas depois, em sua página do Instagram, Hoppkins publicou um vídeo gravado no país de Gales, onde está. Com montanhas e um visual verde ao fundo disse: "aos 83 anos eu não esperava isso. Estou realmente honrado e quero prestar meu tributo à Chadwick Boseman que foi levado de nós muito cedo". Anthony Hopkins fez a homenagem Boseman, morto no ano passado por complicações de um câncer. O americano que faleceu aos 43 anos também foi indicado na categoria melhor ator pela interpretação em "A voz Surpema do Blues".
Em um ano em que a pandemia confinou milhares de pessoas em casa, exibindo celebridades ao redor do mundo em suas salas de estar em transmissões televisivas, a cerimônia do Oscar trouxe uma impressão parecida de vida cotidiana apesar do glamour ter estado presente na forma. Nas falas, o foco eram os desafios do dia a dia como a segregação de classes ou racial, a busca pelo que faz sentido após tragédias consecutivas, a luta por uma causa. Na estação de trem adaptada de Los Angeles, os astros de Hollywood - que por décadas foram vistos ou sentidos como seres inatingíveis - se aproximaram da realidade. Vieram de outros países, de diferentes origens. Falaram e foram vistos como gente cotidiana mesmo vestidos com roupas de gala.
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