O "pensamento do dever": a covid em Londres por uma fonoaudióloga brasileira
Como a paraibana Bárbara foi recrutada para ajudar a capital britânica na pandemia
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Faltavam poucas horas para a virada do ano quando o telefone de Bárbara tocou. Do outro lado da linha, a chefe dela fazia um convite que levaria a paraibana novamente para o epicentro da crise sanitária mais grave já enfrentada pelo NHS, o sistema público de saúde do Reino Unido.
Fonoaudióloga por formação, ela e milhares de profissionais de outras áreas foram recrutados para atuar nas UTIs de pacientes com a covid-19. Bárbara foi treinada para ajudar a fazer a pronação de pacientes em estado grave. No Reino Unido, a técnica envolve pelo menos 7 pessoas: um médico e outros seis profissionais, que se dividem em cada lado da cama. A equipe vira os doentes que estão intubados para melhorar a oxigenação. O movimento é repetido em intervalos de algumas horas. A maioria divide o peso, enquanto o médico segura e monitora o respirador mecânico.
"Eu tinha a possibilidade de dizer não". Mas a brasileira aceitou. "Foi aquele pensamento de dever. Eu já tinha experiência, já tinha feito. Eu já sabia o que fazer". A paraibana trocou o centro de saúde infantil, em Peckham, no sul de Londres pela UTI do Hospital St. Thomas, onde está desde o início do ano. O complexo hospitalar fica em frente ao parlamento britânico. É o mesmo onde o primeiro-ministro Boris Johnson ficou internado no ano passado para se tratar da doença.
Enquanto conversava com o SBT News, o governo do Reino Unido divulgava os números da sexta-feira. Desde 6 de janeiro, em apenas dois dias a contagem não passou de mil mortos. Hoje, foram 1.280. Já são 87.295 pessoas que morreram depois de um exame positivo para a covid-19 até 28 dias antes. No critério em que a doença é mencionada na certidão de óbito, o número de vítimas já passa dos 100 mil.
O Reino Unido é o país europeu com mais peso na tabela mundial de vítimas da pandemia. Estados Unidos (399 mil) e Brasil (207 mil) respondem por quase 30% das mortes. Hoje, o mundo superou a marca de 2 milhões de vítimas. A tragédia poderia ser menor se as lições da primeira onda tivessem sido aprendidas.
A infectologista Rachel Stucchi, da Unicamp, diz que muitos governos acreditaram que o problema tinha sido resolvido depois da primeira onda, mesmo com todas as fartas evidências e alertas apresentados pelos cientistas. "Acreditar que a gente podia abrir mão das medidas de bloqueio e transmissão do vírus: acho que esse foi o principal erro, independente de entender a ciência ou não, (o erro) foi desprezar esse conhecimento".
Além disso, há as novas variantes do vírus, como a que foi identificada na Inglaterra e que, segundo o comitê científico do governo britânico, é até 70% mais transmissível. Estudos preliminares já mostraram que as vacinas são eficientes contra a variante inglesa. A preocupação agora é com as outras duas, encontradas na África do Sul e no Brasil.
A variante brasileira, identificada em 4 passageiros que foram do estado do Amazonas para o Japão, é destaque desde ontem no noticiário da TV britânica. Ainda que não haja evidências conclusivas de que ela é mais transmissível, foi o principal motivo da decisão do Reino Unido de bloquear os voos e a entrada de passageiros de toda a América do Sul, Panamá, Cabo Verde e Portugal.
A fonoaudióloga Bárbara não tem prestado atenção no noticiário. "Eu tento não pensar muito e focar no que eu tenho que fazer". As redes sociais são motivo pra outra preocupação. "Tristeza e raiva ao mesmo tempo", diz a fonoaudióloga sobre a onda de notícias falsas, que ajudam a aumentar a crise que ela vê tão de perto. "Acreditem, existe, eu tô ali vendo pessoas todos os dias em estado crítico. É verdade. Não tem como não acreditar".
Fonoaudióloga por formação, ela e milhares de profissionais de outras áreas foram recrutados para atuar nas UTIs de pacientes com a covid-19. Bárbara foi treinada para ajudar a fazer a pronação de pacientes em estado grave. No Reino Unido, a técnica envolve pelo menos 7 pessoas: um médico e outros seis profissionais, que se dividem em cada lado da cama. A equipe vira os doentes que estão intubados para melhorar a oxigenação. O movimento é repetido em intervalos de algumas horas. A maioria divide o peso, enquanto o médico segura e monitora o respirador mecânico.
"Eu tinha a possibilidade de dizer não". Mas a brasileira aceitou. "Foi aquele pensamento de dever. Eu já tinha experiência, já tinha feito. Eu já sabia o que fazer". A paraibana trocou o centro de saúde infantil, em Peckham, no sul de Londres pela UTI do Hospital St. Thomas, onde está desde o início do ano. O complexo hospitalar fica em frente ao parlamento britânico. É o mesmo onde o primeiro-ministro Boris Johnson ficou internado no ano passado para se tratar da doença.
87 MIL
Enquanto conversava com o SBT News, o governo do Reino Unido divulgava os números da sexta-feira. Desde 6 de janeiro, em apenas dois dias a contagem não passou de mil mortos. Hoje, foram 1.280. Já são 87.295 pessoas que morreram depois de um exame positivo para a covid-19 até 28 dias antes. No critério em que a doença é mencionada na certidão de óbito, o número de vítimas já passa dos 100 mil.
O Reino Unido é o país europeu com mais peso na tabela mundial de vítimas da pandemia. Estados Unidos (399 mil) e Brasil (207 mil) respondem por quase 30% das mortes. Hoje, o mundo superou a marca de 2 milhões de vítimas. A tragédia poderia ser menor se as lições da primeira onda tivessem sido aprendidas.
A infectologista Rachel Stucchi, da Unicamp, diz que muitos governos acreditaram que o problema tinha sido resolvido depois da primeira onda, mesmo com todas as fartas evidências e alertas apresentados pelos cientistas. "Acreditar que a gente podia abrir mão das medidas de bloqueio e transmissão do vírus: acho que esse foi o principal erro, independente de entender a ciência ou não, (o erro) foi desprezar esse conhecimento".
70%
Além disso, há as novas variantes do vírus, como a que foi identificada na Inglaterra e que, segundo o comitê científico do governo britânico, é até 70% mais transmissível. Estudos preliminares já mostraram que as vacinas são eficientes contra a variante inglesa. A preocupação agora é com as outras duas, encontradas na África do Sul e no Brasil.
A variante brasileira, identificada em 4 passageiros que foram do estado do Amazonas para o Japão, é destaque desde ontem no noticiário da TV britânica. Ainda que não haja evidências conclusivas de que ela é mais transmissível, foi o principal motivo da decisão do Reino Unido de bloquear os voos e a entrada de passageiros de toda a América do Sul, Panamá, Cabo Verde e Portugal.
A fonoaudióloga Bárbara não tem prestado atenção no noticiário. "Eu tento não pensar muito e focar no que eu tenho que fazer". As redes sociais são motivo pra outra preocupação. "Tristeza e raiva ao mesmo tempo", diz a fonoaudióloga sobre a onda de notícias falsas, que ajudam a aumentar a crise que ela vê tão de perto. "Acreditem, existe, eu tô ali vendo pessoas todos os dias em estado crítico. É verdade. Não tem como não acreditar".
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