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Como um atacante da Inglaterra driblou o governo para militar contra a fome
Marcus Rashford, jogador do Manchester United, lidera campanha para manter alimentação de estudantes carentes nas escolas
SBT News
• Atualizado em
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Se política fosse um jogo de futebol, o time de Boris Johnson estaria em desvantagem no placar e sem muito moral pra encarar a torcida. Nesta 6ª feira (23.out), um jogador do Manchester United voltou a furar a defesa do governo e aumentou a pressão sobre o primeiro-ministro.
Marcus Rashford, 22 anos, que também é atacante da seleção inglesa, lidera uma campanha para que as escolas do país não interrompam o fornecimento de alimentação para estudantes carentes. Mais de 2 milhões de crianças da Inglaterra estão inscritas no programa do governo. 900 mil foram incluídas depois do início da pandemia, segundo o think tank Food Foundation, que formula políticas públicas de alimentação.
O primeiro duelo de Rashford com o governo foi em junho, quando ele marcou o primeiro gol contra o time de Boris Johnson. A campanha do jogador forçou o primeiro-ministro a recuar na decisão de não fornecer vales-alimentação a estudantes carentes durante as férias de verão.
"Nem sei o que dizer. Vejam o que a gente pode fazer quando nos juntamos", comemorou o jogador nas redes sociais. Ele tem 8,9 milhões de seguidores no Instagram, 3,6 milhões no Twitter, e 6,3 milhões no Facebook. E agora tem também a Ordem do Império Britânico, a terceira mais importante condecoração da Família Real. Ele foi agraciado pela Rainha Elizabeth II no início do mês.
Com a medalha no peito, ele voltou a campo por conta da iminência de mais um período de férias. Mais articulado, Boris Johnson armou bem a defesa. No Parlamento, conseguiu derrotar a "moção Rashford", apresentada pelo Partido Trabalhista, que estenderia o vale-alimentação de 15 libras por semana (equivalente a R$ 109) até a páscoa do ano seguinte, quando terminam as férias escolares. Foi uma vitória fácil na noite de 4ª feira: 322 a 261. Um porta-voz do governo disse que "não é função das escolas oferecer comida para os alunos regularmente".
Mas Rashford não estava convencido e ainda tinha tempo pra virar o jogo. O recesso de outono começa em 2 de novembro em boa parte das escolas.
Ele voltou ao ataque e, desde a última 5ª feira (22.out), milhares se juntaram a ele. A campanha recebeu apoio de instituições, empresários, esportistas, jornalistas e até mesmo de cidades e distritos administrados pelo Partido Conservador de Boris Johnson, como o de Kensignton, um dos mais ricos do país. Até donos de pubs se apresentaram pra distribuir alimentação para crianças em suas comunidades.
O país dizia sim ao que o governo disse não. "Estou impressionado com as notícias de pequenas negócios se juntando à campanha. Generosidade, gentileza, unidade, essa é a Inglaterra que eu conheço", comemorou o já dono da partida. A petição que ele apresentou para que comida seja fornecida durante o período escolar já tem mais de 500 mil assinaturas.
Ele sabe o que representa essa vitória. Na infância pobre, em Manchester, no norte da Inglaterra, já tinha sentido no estômago a dor de ser golpeado pela fome. O menino Marcus Rashford dependia da comida fornecida pelo governo para ter o que comer. Em uma entrevista à BBC, em junho, revelou que houve momentos em que não havia comida suficiente em casa e que precisava recorrer aos amigos: "Eles entendiam a minha situação. E era possível ir até a casa deles pra comer alguma coisa".
O jornalista Fred Caldeira, do Esporte Interativo, mora em Manchester. Cobre Rashford no time e na seleção. Fred faz questão de lembrar que o jogador tem apenas 22 anos, mas já "é um dos principais atacantes de sua geração e pode ser um dos grandes nos próximos 10 anos". Além dos dribles e das finalizações, o jornalista diz que o atacante "precisa desenvolver um pouco mais de confiança no poder de decisão dele", ainda que considere o nível de futeboll dele "alto para a pouca idade".
Se no campo falta um pouco mais de confiança, no combate à fome ele está decidido. "Isso não é política. É humanismo". Hoje, Rashford e a mãe foram a uma das milhares de instituições no Reino Unido que distribuem comida para famílias carentes. Ele já estava ciente do barulho e das críticas, mas disse que vai fazer marcação cerrada até sentir melhoras para aqueles que precisam: "Isso é o que é importante pra mim. Então, eu não ligo para as críticas". Acuado, o governo ainda não arriscou um contra-ataque.
Marcus Rashford, 22 anos, que também é atacante da seleção inglesa, lidera uma campanha para que as escolas do país não interrompam o fornecimento de alimentação para estudantes carentes. Mais de 2 milhões de crianças da Inglaterra estão inscritas no programa do governo. 900 mil foram incluídas depois do início da pandemia, segundo o think tank Food Foundation, que formula políticas públicas de alimentação.
O primeiro duelo de Rashford com o governo foi em junho, quando ele marcou o primeiro gol contra o time de Boris Johnson. A campanha do jogador forçou o primeiro-ministro a recuar na decisão de não fornecer vales-alimentação a estudantes carentes durante as férias de verão.
"Nem sei o que dizer. Vejam o que a gente pode fazer quando nos juntamos", comemorou o jogador nas redes sociais. Ele tem 8,9 milhões de seguidores no Instagram, 3,6 milhões no Twitter, e 6,3 milhões no Facebook. E agora tem também a Ordem do Império Britânico, a terceira mais importante condecoração da Família Real. Ele foi agraciado pela Rainha Elizabeth II no início do mês.
Com a medalha no peito, ele voltou a campo por conta da iminência de mais um período de férias. Mais articulado, Boris Johnson armou bem a defesa. No Parlamento, conseguiu derrotar a "moção Rashford", apresentada pelo Partido Trabalhista, que estenderia o vale-alimentação de 15 libras por semana (equivalente a R$ 109) até a páscoa do ano seguinte, quando terminam as férias escolares. Foi uma vitória fácil na noite de 4ª feira: 322 a 261. Um porta-voz do governo disse que "não é função das escolas oferecer comida para os alunos regularmente".
Mas Rashford não estava convencido e ainda tinha tempo pra virar o jogo. O recesso de outono começa em 2 de novembro em boa parte das escolas.
Ele voltou ao ataque e, desde a última 5ª feira (22.out), milhares se juntaram a ele. A campanha recebeu apoio de instituições, empresários, esportistas, jornalistas e até mesmo de cidades e distritos administrados pelo Partido Conservador de Boris Johnson, como o de Kensignton, um dos mais ricos do país. Até donos de pubs se apresentaram pra distribuir alimentação para crianças em suas comunidades.
O país dizia sim ao que o governo disse não. "Estou impressionado com as notícias de pequenas negócios se juntando à campanha. Generosidade, gentileza, unidade, essa é a Inglaterra que eu conheço", comemorou o já dono da partida. A petição que ele apresentou para que comida seja fornecida durante o período escolar já tem mais de 500 mil assinaturas.
Ele sabe o que representa essa vitória. Na infância pobre, em Manchester, no norte da Inglaterra, já tinha sentido no estômago a dor de ser golpeado pela fome. O menino Marcus Rashford dependia da comida fornecida pelo governo para ter o que comer. Em uma entrevista à BBC, em junho, revelou que houve momentos em que não havia comida suficiente em casa e que precisava recorrer aos amigos: "Eles entendiam a minha situação. E era possível ir até a casa deles pra comer alguma coisa".
O jornalista Fred Caldeira, do Esporte Interativo, mora em Manchester. Cobre Rashford no time e na seleção. Fred faz questão de lembrar que o jogador tem apenas 22 anos, mas já "é um dos principais atacantes de sua geração e pode ser um dos grandes nos próximos 10 anos". Além dos dribles e das finalizações, o jornalista diz que o atacante "precisa desenvolver um pouco mais de confiança no poder de decisão dele", ainda que considere o nível de futeboll dele "alto para a pouca idade".
Se no campo falta um pouco mais de confiança, no combate à fome ele está decidido. "Isso não é política. É humanismo". Hoje, Rashford e a mãe foram a uma das milhares de instituições no Reino Unido que distribuem comida para famílias carentes. Ele já estava ciente do barulho e das críticas, mas disse que vai fazer marcação cerrada até sentir melhoras para aqueles que precisam: "Isso é o que é importante pra mim. Então, eu não ligo para as críticas". Acuado, o governo ainda não arriscou um contra-ataque.
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