Informações conflitantes sobre saúde de Trump provocam incerteza
O vídeo gravado por Donald Trump na noite de sábado teve a intenção de colocar um fim nas informações desencontradas da Casa Branca
Donald Trump trabalhando no hospital Walter Reed Medical Center no Sábado, 3 de Outubro. Reprodução/AssociatedPress
Nova York - Na manhã de domingo (04.out) Donald Trump voltou ao Twitter como o de costume. Às 7h da manhã, horário de Washington (8h em Brasília) o presidente americano começou a tradicional série de postagens. A primeira mensagem de domingo: "Muito obrigado". Trump agradeceu o vídeo que mostra americanos em frente ao hospital onde está internado desde a noite de sexta-feira (02.out), o Walter Reed Medical Center, em Bethesda, Maryland, próximo à capital Washington DC. Na porta do local, uma dezena de pessoas segura bandeiras com os dizeres "Trump 2020, Keep America great" (mantenha a América ótima).
Thank you so much! https://t.co/UL6P5lRjZI
? Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 4, 2020
Horas antes, no sábado a noite (03.out), Donald Trump gravou um vídeo de seu escritório montado no hospital e publicou. Falou por quatro minutos. De paletó, camisa branca, sem gravata, sem o tradicional penteado que deixa a parte do cabelo para trás e com a pele aparentemente mais pálida que o normal, o presidente americano começou agradecendo os profissionais da saúde do hospital onde ele está sendo tratado. "Acho que é o melhor hospital no mundo pelo trabalho incrível que estão fazendo. Vim aqui, eu não estava me sentindo tão bem, eu me sinto bem melhor agora, estão trabalhando duro para que eu possa voltar logo, eu tenho que voltar porque temos que fazer a América grande de novo". Trump afirmou que pretende estar de volta à habitual rotina logo para terminar a campanha que ele começou e disse que foi acometido por algo que afeta milhares de pessoas no mundo. "Estou lutando por estas pessoas, não só nos Estados Unidos mas em todo o mundo". Trump ainda disse: "vamos vencer este coronavírus ou como vocês o queiram chamar", evitando o termo "vírus chinês" usado muitas vezes num passado recente.
Também chamou atenção no vídeo a informação de que Donald Trump espera outras medicações, que segundo ele estarão prontas logo. "Elas fazem milagres, as pessoas me criticam quando falo isso mas temos coisas assim, acontecendo como milagres de Deus". Na sexta-feira, o presidente começou a ser tratado com o antiviral Remdesivir. A informação foi dada pelo médico do presidente Sean Conley que desde o diagnóstico positivo de Donald Trump para Covid19 tem emitido mais de um relatório diário. O ruído sobre o real estado de saúde do presidente americano aconteceu porque depois da coletiva de imprensa dada pela equipe médica no sábado (04.out), o chefe de gabinete da Casa Branca Mark Meadows disse a alguns repórteres que Trump passou momentos "muito preocupantes na sexta-feira" e que "os próximos dois dias seriam determinantes".
O primeiro veículo a divulgar a notícia de que o estado de saúde de Trump era preocupante foi o The New York Times. O jornal americano deu a informação se referindo a uma "fonte familiar à saúde do presidente". Horas depois, o The Washington Post publicou uma longa reportagem confirmando que a fonte é o chefe de gabinete da Casa Branca. As palavras de Mark Meadows eram conflitantes com a do médico do presidente, que afirmou no sábado que Trump estava naquele momento bem. Sean Conley, no entanto, não respondeu a várias perguntas feitas como a temperatura do presidente e se ele usou oxigênio na sexta-feira (02.out). Sobre esta pergunta, o médico disse: "ele não está usando oxigênio agora". Segundo o chefe de gabinete, Trump recebeu oxigênio antes de deixar a Casa Branca, mesmo dia em que teve febre. O aumento da temperatura corporal foi confirmada pelo médico que não especificou qual foi a medição.
O fato de Mark Meadows ter dado informações contrárias às do médico gerou mal estar entre o alto escalão segundo o Washington Post. Horas depois das reportagens afirmando que Trump teria estado crítico, o vídeo do presidente foi publicado. Na noite de sábado (03.out) a Casa Branca divulgou fotos de Donald Trump trabalhando no hospital. Em uma delas ele aparece com mesma roupa do vídeo. Na outra, está apenas com a camisa branca. O último boletim do médico Sean Conley informa que: "o presidente Trump está bem e fez progresso substancial desde o diagnóstico". O relatório informa que no sábado, 3 de outubro, o presidente tomou a segunda dose do antiviral Remdesivir sem complicações, que estava sem febre, sem fornecimento de oxigênio e com saturação sanguínea entre 96 e 98%. Sean Conley afirma que Trump passou o sábado trabalhando e caminhou em sua suíte presidencial montada no hospital. O médico pontua que o presidente não está totalmente fora de perigo (usou a expressão "out of woods") mas que a equipe que o trata está cautelosamente otimista. Segundo Conley, o plano para este domingo (04.out) é continuar a observação da evolução do quadro entre as doses de Remdesivir, monitorando de perto sua condição clínica e dar todo o suporte médico enquanto Trump conduz suas tarefas presidenciais.
Relatório Médico emitido pelo médico do presidente Donald Trump em 3 de Outubro de 2020. Fonte: Casa Branca
No vídeo em que publicou no sábado, Trump afirma que lhe foi oferecida a possibilidade de continuar na Casa Branca mas ele decidiu ser internado longe dali porque "seria muito difícil ficar confinado no andar de cima com tudo acontecendo nos arredores e não poder ir ao Salão Oval, não poder ver nem falar com as pessoas". Ele ainda disse: "Estes são os Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo, eu não poderia ficar lá em cima trancado (...) temos que enfrentar os problemas". O presidente, com 74 anos, disse que a primeira dama, que tem 50 anos de idade, está bem. Melania está na Casa Branca. "Ela é ligeiramente mais jovem que eu, apenas um pouquinho. Sabemos das estatísticas do vírus que afeta mais pessoas a partir de certa idade mas Melania e eu estamos bem". O presidente agradeceu as menagens de apoio que tem recebido vindas de diferentes partes do mundo dizendo "Nunca irei esquecer".
(A foto que ilustra a reportagem nas redes sociais é uma reprodução da Associated Press)