Trump não quer, mas muitos votos serão por serviço postal
Publicação de emails e documentos oficiais do serviço postal americano pouco revela sobre a ligação da instituição com Donald Trump
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Nova Iorque - O aviso chegou no formato de um cartão postal. Na frente, a frase ocupava duas linhas: "Se você planeja votar por correspondência, planeje com antecedência". Atrás, o texto dizia que o serviço postal dos Estados Unidos está comprometido em fornecer uma forma segura para entregar a cédula de votação. O passo a passo foi indicado num checklist: "solicite seu voto por correspondência ao menos 15 dias antes das eleições, ao receber a cédula siga as instruções e faça a postagem do seu voto com pelo menos sete dias de antecedência ". A eleição americana está marcada para 3 de novembro. Depois de conferir a correspondência, uma checagem no celular enquanto o elevador não chega. Logo cedo, Donald Trump havia tocado no assunto, mais uma vez. Às 8h da manhã desta quinta-feira (17.set) tweetou: "por causa da nova e inédita quantidade massiva de votos não solicitados que serão enviados aos eleitores ou a qualquer outra coisa este ano, o resultado das eleições de 3 de Novembro nunca poderá ser determinado com precisão. É o que alguns desejam (...) Parem a loucura eleitoral!"
Há semanas o presidente americano critica o fato de muitos estados apoiarem o voto por correspondência este ano. O método é permitido no país e considerado sanitariamente seguro durante a pandemia por evitar aglomerações nos locais de votação. Apesar disso, o presidente americano afirma que o voto por correspondência dará lugar à fraude. Donald Trump chegou a sugerir no dia 3 de Setembro que o eleitor usasse os dois métodos, algo proibido por lei: "mande o voto por postagem com antecedência e depois vá e vote, você não pode deixar que peguem seu voto", disse Trump que frequentemente afirma que desta forma até 'animais e pessoas já falecidas irão escolher um candidato'. A afirmação gerou uma avalanche de críticas uma vez que votar intencionalmente por correspondência e depois presencialmente configura um ato ilegal.
Amplamente divulgada, essa briga ganhou nesta quinta-feira um novo capítulo. Com base na lei de liberdade de informação e a pedido do jornal The Washington Post, a ONG Americana Oversight solicitou ao escritório responsável do Departamento de Justiça acesso aos e-mails e memorandos do serviço postal americano de Março e Abril deste ano que tivessem no conteúdo termos como 'eleições por correspondência, cédulas, Casa Branca, POTUS' (sigla em inglês para presidente dos Estados Unidos).
A busca resultou em dez mil páginas, que estão disponíveis no site da instituição para consulta pública. Com base nos documentos obtidos, a reportagem do Washington Post sugere a intenção de Donald Trump de interferir no funcionamento do Serviço Postal americano mas o conteúdo publicado não revela provas cabais de que isso ocorreu em algum momento. Os documentos demonstram, de fato, uma instituição que claramente lidava, já em Abril, com problemas financeiros. O documento abaixo, por exemplo, é um rascunho de uma carta que nunca foi publicada. Nela, o serviço postal dos Estados Unidos anuncia o "envio histórico de 650 milhões de máscaras em parceria com a Casa Branca como parte da força tarefa contra o novo coronavírus". A entrega das máscaras à população americana nunca aconteceu.
Draft United States Post Office by MArcela Gracie on Scribd
Já o Congresso americano, no dia 3 de Abril deste ano, pediu informações ao serviço postal dos Estados Unidos sobre suas condições financeiras já que "a crise provocada pelo novo coronavírus resultou em um declínio na atividade econômica e comprometeu a habilidade da instituição de prover um serviço essencial a cada americano".
Democratas apoiam o serviço postal americano
Em agosto deste ano, Donald Trump ordenou um corte nos gastos dos serviço postal do país. A ação foi cancelada depois que legisladores democratas pressionaram para que isso não acontecesse afirmando que a retirada de recursos financeiros comprometeria a eleição que será feita em grande parte por correspondência. O candidato democrata à presidência Joe Biden defende o voto por envio postal afirmando que o combate à pandemia deve ser prioridade. Quando o corte nos recursos do serviço postal era uma possibilidade, o site da campanha de Biden e Kamalla Harris chegou a fazer uma campanha de coleta de assinaturas para apoio ao serviço .