Mais um capítulo sombrio no tema imigração ilegal nos Estados Unidos
Denúncia de esterilizações em massa que teriam ocorrido em um centro de detenção na Georgia despertou a atenção do país para um assunto que é tema de campanha
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Foto: Patrícia Vasconcellos
Nova Iorque - Em algumas regiões da cidade é possível falar mais espanhol que inglês no dia a dia. O supermercado nas proximidades do Prospect Park, no Brooklyn, tem um segurança que sempre dá buenos dias. Gentil, ele emenda: "Como te va?". Dois quarteirões dali, uma relojoaria que também vende jóias usadas tem dono de origem iraniana. Ao pegar o item para consertar, nesta manhã, ele contou sua história na hora de entregar o recibo. Disse que chegou aos Estados Unidos com a roupa do corpo há quase 30 anos. Já o mercadinho que vende de tudo e ao menos três salões da mesma rua são de chineses. Nova Iorque é plural. Talvez por isso a notícia de que mulheres imigrantes estariam sendo esterilizadas de forma ilegal em um centro de detenção da Georgia repercutiu tanto aqui.
A notícia ganhou visibilidade depois que a enfermeira Dawn Wooten foi à TV contar a história que já tinha denunciado formalmente esta semana ao Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos através da ONG Project South, com sede em Atlanta. Wooten trabalhou em diferentes momentos em um centro de detenção para imigrantes ilegais de Irwin, cidade no estado da Georgia. A prisão é pública, mantida e coordenada pelo IEC, siglas em inglês para Imigração e Fiscalização Aduaneira, agência federal criada em 2003.
A profissional da área da saúde afirma que recebeu relatos de diferentes mulheres presas de que elas teriam sido submetidas sem necessidade a cirurgias de histerectomia, para retirada do útero. À rede de TV MSNBC, Dawn Wooten disse nesta terça-feira, dia 15 de setembro, que todas as detentas relataram que foram operadas por um mesmo cirurgião chamado por elas de 'o coletor de úteros'. Durante a entrevista ao canal americano, a enfermeira relatou: "Muitas mulheres chegaram até mim e perguntaram: 'Senhora Wooten, fizeram uma histerectomia em mim. Por quê?' E eu não sabia a resposta." Dawn Wooten também afirmou que o centro de detenção alterava relatórios médicos das detentas para que as cirurgias fossem praticadas.
A denúncia formalizada pela ONG Project South com base nos relatos de Dawn Wooten ainda afirma que o centro de detenção na Georgia não separou as detentas infectadas pela covid-19 mantendo todas em um mesmo lugar. A enfermeira afirma que mesmo após a confirmação de casos do novo coronavírus no local, o fato não foi informado ao CDC ? Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
A diretora médica do serviço de alfândegas e imigração dos Estados Unidos Ada Rivera negou as irregularidades e afirmou que o centro de detenção da Georgia fez duas histerectomias com autorização das pacientes.
Após a exibição da entrevista de Dawn Wooten na TV americana, a democrata Nancy Pelosi, líder da câmara dos representantes, disse: "Se é verdade a denúncia sobre o ICE ? incluindo a alegação de histerectomias em massa praticadas em mulheres imigrantes ? isso é um abuso dos direitos humanos". Nancy Pelosi sugeriu que uma investigação seja feita pela OIG, divisão interna de agências federais e estaduais destinada à apuração de atos ilegais cometidos. A deputada novaiorquina Alexandria Ocasio Cortez também falou sobre o tema. Crítica do governo Trump, escreveu nas redes sociais: "depois de uma operação massiva para separação de famílias, abuso sexual de detentas e enjaulamento de prisioneiros infectados com Covid19, temos agora denúncia de histerectomias em grande número". Com a repercussão do caso, manifestantes exibiram em Irwin, na Georgia, cartazes com os dizeres "Extinção do IEC", agência que fiscaliza temas de imigração e aduaneiros.
Imigração nos Estados Unidos em estatísticas
Segundo o último censo americano, feito há dez anos, dos 324 milhões de habitantes dos Estados Unidos contabilizados naquela época, 13,5% nasceram em outro país.
Há uma equivalência entre a população de homens e mulheres e grande parte, 38%, vem da América Latina. Essa porcentagem inclui naturalizados e ilegais. Em relação aos países, o México é o que tem o maior número imigrantes nos Estados Unidos. Em 2010, eram 11 milhões de mexicanos em solo americano. Os chineses somavam 2,2 milhões de pessoas representando o segundo lugar no ranking migratório. Em relação aos naturalizados, os asiáticos ocupavam no último levantamento o topo da lista estando a América Latina em segundo lugar.
Crianças e adolescentes
Ainda segundo o Censo de 2010, de cada quatro crianças e jovens menores de 18 anos nascidos nos Estados Unidos, pelo menos um(a) tem pais estrangeiros.
O Censo americano identificou ainda os estados onde os imigrantes residem em maior número: Florida, Texas, Nova Iorque, California e Nevada
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