O momento em que a economia abraçou a inclusão: evidenciado pela indicação ao Prêmio Nobel de 2024
"Por que as Nações Falham" oferece uma análise aprofundada sobre as raízes do subdesenvolvimento e das desigualdades econômicas no mundo
Vanessa Reis
*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Este artigo reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do CEID e do INAC. Os artigos têm publicação semanal.
Nos últimos anos, o debate sobre a inclusão da pobreza nas políticas econômicas globais tem ganhado cada vez mais relevância, especialmente com a recente premiação dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia, autores da obra "Por que as Nações Falham", que oferecem uma análise aprofundada sobre as raízes do subdesenvolvimento e das desigualdades econômicas no mundo.
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Ao examinar as instituições políticas e econômicas que moldam o destino das nações, eles destacam que a pobreza não é um fenômeno isolado, mas sim o resultado de fatores estruturais e históricos que devem ser abordados de maneira integrada.
Neste texto, abordarei algumas das teorias desses renomados economistas, como um convite a repensar o caminho para a inclusão da pobreza nas estratégias de desenvolvimento econômico, desafiando abordagens tradicionais e propondo soluções inovadoras para romper o ciclo de exclusão que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo.
Entre as principais hipóteses, destacam-se as explicações geográficas, culturais e de ignorância.
No entanto, Acemoglu e Robinson, em sua obra "Por que as Nações Falham", defendem que são as instituições econômicas e políticas, e não os fatores mencionados, que explicam o sucesso ou o fracasso das nações. A seguir, analisamos essas principais hipóteses.
Hipótese geográfica
Uma das primeiras teorias a tentar explicar a desigualdade entre as nações é a hipótese geográfica. Ela argumenta que a localização geográfica é determinante para o desenvolvimento de um país.
De acordo com essa visão, países situados nos trópicos, como os da África e da América Central, possuem desvantagens naturais, como a prevalência de doenças tropicais e solos inadequados para a agricultura intensiva, o que limita seu crescimento econômico.
Apesar dessa explicação parecer plausível, os autores refutam a ideia de que a geografia seja o principal fator de desenvolvimento.
Eles argumentam que muitos países com condições geográficas adversas conseguiram prosperar devido à implementação de boas instituições econômicas e políticas.
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Hipótese cultural
Outra explicação amplamente difundida é a hipótese cultural, que atribui o sucesso ou o fracasso das nações às suas tradições, valores e crenças.
O filósofo Max Weber, por exemplo, acreditava que a ética protestante foi um dos motores da Revolução Industrial na Europa.
No entanto, os autores ressaltam que essa teoria falha em explicar situações como a da França, um país predominantemente católico, que conseguiu adotar modelos econômicos similares aos de nações protestantes com sucesso.
Além disso, mencionam que países islâmicos ricos, como a Arábia Saudita, não geram diversificação econômica, apesar de sua riqueza petrolífera.
Hipótese da ignorância
A terceira grande teoria é a hipótese da ignorância, que defende que os governantes dos países pobres simplesmente não sabem como transformar suas economias em prósperas.
Segundo essa visão, a falta de conhecimento sobre economia e políticas públicas adequadas seria a principal barreira ao desenvolvimento.
Entretanto, Acemoglu e Robinson contestam essa hipótese, argumentando que muitos líderes sabem o que deveria ser feito, mas optam por políticas que preservam seus próprios interesses e privilégios, mesmo à custa da prosperidade da nação.
Instituições econômicas: inclusivas e extrativas
A teoria central defendida pelos autores se concentra nas instituições econômicas e políticas.
Eles distinguem entre instituições inclusivas e extrativas. Instituições inclusivas incentivam a participação da população na economia, promovendo a inovação, o empreendedorismo e a educação.
Protegem a propriedade privada e oferecem oportunidades iguais para a maioria da população.
Por outro lado, instituições extrativas concentram poder e riqueza nas mãos de uma elite, limitando as oportunidades de progresso para a maioria.
Exemplos notáveis dessa dicotomia podem ser vistos na divisão da Coreia do Norte e Coreia do Sul após a Segunda Guerra Mundial.
Embora ambas compartilhem a mesma cultura e geografia, o sucesso econômico da Coreia do Sul é atribuído a suas instituições inclusivas, enquanto a pobreza da Coreia do Norte decorre de suas instituições extrativas.
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Instituições políticas: inclusivas e extrativas
Da mesma forma, as instituições políticas podem ser inclusivas ou extrativas. Instituições políticas inclusivas promovem a participação pluralista e distribuem o poder de forma mais equitativa.
Por outro lado, instituições extrativas concentram o poder em uma pequena elite, que utiliza esse poder para enriquecer e manter seu domínio sobre a sociedade.
A relação entre instituições políticas e econômicas é crucial, pois instituições políticas inclusivas tendem a gerar instituições econômicas inclusivas, e vice-versa.
Por exemplo, o crescimento econômico é impulsionado por processos de "destruição criativa", em que novas tecnologias e empresas substituem as antigas, mas esse processo só ocorre em sociedades com instituições inclusivas.
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Por que as nações falham hoje?
De acordo com os autores, as nações falham quando possuem instituições extrativas que inibem a inovação e a criação de incentivos econômicos.
Países com essas instituições tendem a experimentar altos níveis de corrupção, guerra civil, expropriações indevidas de capital e falta de investimentos em serviços públicos essenciais, como educação e saúde.
Conclusão
"Por que as Nações Falham" oferece uma análise profunda das causas da prosperidade e do fracasso das nações.
Em vez de culpar a geografia, a cultura ou a ignorância, Acemoglu e Robinson defendem que são as instituições econômicas e políticas inclusivas que proporcionam o desenvolvimento sustentável e equitativo.
Assim, para que as nações alcancem a prosperidade, é essencial que adotem instituições que permitam a participação ativa de todos os seus cidadãos na economia e na política, garantindo oportunidades justas e incentivos adequados ao crescimento.
*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Este artigo reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do CEID e do INAC. Os artigos têm publicação semanal.