Governança climática e o papel dos Conselhos de Administração
Prevenção e mitigação de tragédias, sem negacionismos e greenwashing
As catástrofes climáticas tornaram-se uma triste realidade, não são mais um enredo de filme de ação hollywoodiano. Ao longo de 2023, somente no Brasil, ocorreram 12 eventos climáticos extremos. Não estamos falando de fatos isolados.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), os desastres naturais quintuplicaram e causaram prejuízos de mais de US$ 3 trilhões, gerando impactos socioeconômicos de curto, médio e longo prazo, pois a recuperação pós-quebra do ciclo econômico não é rápida; em alguns casos, os danos são irreversíveis.
Ampliar a discussão sobre governança climática é uma questão fundamentalmente importante para empresas, governos e sociedade civil, à medida que os impactos das mudanças se intensificam.
A prevenção e a mitigação de tragédias climáticas exigem uma abordagem multifacetada que abrange diversas áreas, desde a redução de emissões de gases de efeito estufa até o fortalecimento da resiliência de comunidades vulneráveis.
No mais recente Relatório de Riscos Globais 2024, elaborado pelo World Economic Forum, os riscos ambientais são consistentemente classificados entre os dez principais riscos a longo prazo.
Enquanto o setor privado destaca esses riscos como prioridades de longo prazo, a sociedade civil e o governo os veem como mais urgentes a curto prazo.
A divergência sobre a urgência desses riscos, especialmente sobre a perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas, contribui para que planos efetivos transnacionais sejam implementados, aumentando o risco de perda de oportunidades importantes de intervenção.
A questão central é que muitas economias não estão preparadas para lidar com os impactos não lineares das mudanças climáticas, que já estão acontecendo, expondo a lenta capacidade de adaptação da sociedade e das empresas.
As empresas e os conselhos de administração desempenham um papel imprescindível na agenda de governança climática por dois motivos simples:
- O impacto financeiro em decorrência das interrupções operacionais e danos físicos; e
- O fato de só poderem fazer negócios no planeta Terra, ainda.
No entanto, é essencial evitar negacionismo e greenwashing, para que as ações sejam eficazes e garantam uma abordagem responsável e transparente.
Apesar do crescimento do movimento “backlash” ambiental -- reação global contra as políticas climáticas, a dinâmica do mundo real impõe a necessidade de uma transição para uma economia mais sustentável.
Em qualquer cenário, as empresas e as lideranças reconhecem o clima como mais um risco empresarial a gerir, que abrange quase todos os ativos econômicos, trazendo também oportunidades substanciais.
Para que possam avançar de forma estruturada nessa agenda as empresas devem ter um mapeamento abrangente dos riscos climáticos que enfrentam ou possam a vir enfrentar, considerando as mudanças regulatórias, eventos climáticos extremos, transição para uma economia de baixo carbono e mudanças no hábito dos consumidores.
E consequentemente evitar os riscos relacionados ao greenwashing, para isso é preciso ter um entendimento claro do que é essa prática — fazer alegações enganosas ou exageradas sobre suas práticas ambientais, ou impacto ambiental, com o objetivo de atrair clientes ou melhorar sua reputação sem realmente implementar mudanças significativas.
É necessário fazer um letramento ambiental, principalmente para os conselheiros; compromisso com a transparência e implementação de políticas internas para prevenir o greenwashing.
Isso inclui a divulgação de informações financeiras relevantes, como análises de cenários climáticos e a integração de riscos climáticos nos relatórios anuais de sustentabilidade.
Os conselhos de administração têm a responsabilidade de estabelecer políticas e diretrizes que orientem as operações das organizações em direção à sustentabilidade ambiental.
Isso inclui a integração da gestão de riscos climáticos nas estratégias de negócios, a adoção de práticas de produção e consumo sustentáveis e o investimento em tecnologias limpas e energias renováveis.
Ter um conselho com diversidade de backgrounds, como, por exemplo, membros com experiência em sustentabilidade e mudança climática, garantindo que possuam a expertise necessária para entender e abordar eficazmente essas questões complexas.
Em resumo, uma governança climática sólida requer uma abordagem extensiva que integre a identificação e gestão de riscos climáticos, evite o greenwashing e garanta que os Conselhos de Administração estejam bem informados e engajados na liderança da empresa em direção à sustentabilidade.
Ao adotar uma abordagem proativa e transparente para a governança climática, as empresas podem não apenas mitigar os riscos associados às mudanças climáticas, mas também aproveitar as oportunidades emergentes para inovação e liderança de mercado sustentável.
É construir hoje a composição da economia em 2040, 2050... Essa escala de mudança requer planejamento de transição no qual o objetivo seja tão importante quanto a forma e o percurso.
A ética deve ser premissa para a continuidade dos negócios e até da humanidade, estamos provando o remédio amargo da descrença e da procrastinação da agenda climática.
*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Este artigo reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do CEID e INAC. Os artigos têm publicação semanal.