Oficial explica retirada de tropas no 8/1 e admite "mensagem infeliz" sobre invasão
Major Flávio Alencar também afirmou que foi escalado "verbalmente" de última hora para conter os golpistas
Henrique Bolgue
O major da Polícia Militar do Distrito Federal, Flávio Silvestre de Alencar, admitiu o envio de uma mensagem a um grupo de policiais em que supostamente teria incentivado a invasão do Congresso e disse que sua prisão é fruto de uma "narrativa". A mensagem foi enviada em 20 de dezembro em um grupo chamado "Oficiais PMDF" e dizia: "na primeira manifestação é só deixar invadir o Congresso".
"Aquele grupo em que foi postado aquela mensagem infeliz, era um grupo que não era um grupo institucional, era um grupo lúdico, debatia várias coisas, brincadeira. Aquela mensagem foi postada no dia 20 de dezembro, nem imaginávamos que teria o 8 de janeiro. Em nenhum momento essa mensagem foi dita para questionar eleições, questionar urnas eletrônicas. O cerne do comentário, que era uma brincadeira - no final tem um kkk - o cerna da discussão era o fundo constitucional do DF. O intuito daquela brincadeira foi assim, 'sem o fundo constitucional a polícia pode ser sucateada e pode ser invadido o Congresso'. Uma brincadeira infeliz, para mim um grande mal entendido", disse Alencar.
Ele foi ouvido nesta 5ª feira (3.jul) na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF que investiga as ações de bolsonaristas radicais, em 8 de janeiro de 2023 e em 12 de dezembro de 2022.
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Alencar foi preso duas vezes pela Polícia Federal. A última, em 23 de maio, quando foi alvo da operação Lesa Pátria, em decorrência dos desdobramentos dos atos golpistas. Ele está preso preventivamente e diz que a motivação seria pelo "mal entendido" sobre a mensagem e sobre sua participação nos atos. Atualmente o major é investigado e não foi indiciado.
No depoimento desta 5ª na CPI, Alencar também explicou o motivo pelo qual teria saído de frente da linha de frente dos golpistas na descida à frente do Congresso. De acordo com o major, no momento da quebra da barreira, ele teria ido em resgate a outros policiais que já estavam abaixo do Congresso. Outro motivo era que precisava buscar novas munições de baixa letalidade que, segundo ele, estariam acabando.
"Vocês vão ver nas reportagens que eu faço aceno com a mão. Esse aceno com a mão não é para tirar a linha de choque, eu não dei essa ordem, como algumas reportagens, de forma equivocada falaram e mim. Estou fazendo esse aceno para as viaturas entrem no comboio para que a gente possa entrar no Congresso e resgatar os policiais militares feridos e o comandante geral", afirma Alencar.
No depoimento ele disse que explicou o ocorrido para o então interventor do DF, Ricardo Capelli.
Última hora
Alencar também contou que foi chamado somente "verbalmente" para o policiamento da Esplanada no dia 8 de janeiro e que havia "muito pouco" efetivo para conter os golpistas.
Alencar declarou que na 4ª feira anterior à invasão recebeu um "folder" do seu superior (coronel Casimiro) que dizia "Tomada de poder pelo povo", mas que a inteligência da polícia iria se planejar para o domingo. Mesmo assim, o major afirma que foi escalado somente "verbalmente" pelo coronel Casimiro no sábado à noite, e que sua missão era fazer a "distribuição" do policiamento na Esplanada. Ele destacou que foi a primeira vez em 16 anos de serviço que foi escalado dessa maneira. "Realmente me chamou a atenção", afirmou.
O major considerou dque o efetivo de cerca de 100 policiais era "muito pouco" para a manhã do dia 8 de janeiro. O último efetivo que foi disponibilizado à ele chegou por volta das 13h, com 70 policiais. No total, 311 policiais militares fizeram parte da ação naquele dia.
O relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), defendeu o major e considerou que houve um "acomodamento" da corporação no começo do ano, depois do sucesso no policiamento para posse presidencial do dia 1 de janeiro. Hermeto chamou os invasores de "bandidos" e disse que seu relatório final irá enfatizar a responsabilização dos superiores dos policiais.
Novas convocações
Na sessão desta 5ª feira (3.jul), os deputados do DF também aprovaram a convocação do ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, que já depôs na CPMI sobre os atos no Congresso Nacional. Também aprovaram convites ao general Carlos José Penteado e do major José de Paula Pereira, militar do gabinete institucional durante as invasões.
Os deputados distritais também aprovaram pedidos de informações para a Agência Brasileira de Inteligência e compartilhamento de informações da CMPI do 8 de janeiro, do Congresso Nacional.
Próximos depoimentos
Entre os destaques deste mês estão os depoimentos de Anderson Torres, ex-ministro de Jair Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do DF (10/08), do ajudante de ordens do ex-presidente Mauro Cid (24/08). Os depoimentos acontecem às 10h das 5ª feiras e podem ser acompanhadas pelo YouTube da Câmara Legislativa.
Na última reunião em 29 de junho, a CPI ouviu George Washington de Oliveira Sousa, condenado por planejar atentado a bomba no aeroporto de Brasília. Ele se recusou a responder a maior parte das perguntas, mas confessou a intenção de cometer o atentado.