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Plano do PCC de execuções funcionou duas vezes contra agentes no PR

Tática de monitoramento de Moro é idêntica à usada em 2016 e 2017 contra funcionários de presídio

Plano do PCC de execuções funcionou duas vezes contra agentes no PR
presidio
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O engenhoso estratagema do PCC para sequestrar e cometer atentados contra o senador Sérgio Moro (União-PR), com monitoramento dos alvos e locação de imóveis próximos, aquisição ou aluguel de armamento pesado, montagem de "cofres" para armas, carros blindados, mensagens cifradas, foi exitoso em pelo menos outros dois crimes contra autoridades cometidos no Paraná, em 2016 e 2017, pela facção.

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Naquele ano de 2016, o endurecimento de regras para lideranças das facções que atuam no sistema penal no governo Michel Temer (MDB) - após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) - levou o PCC a reagir com ataques às autoridades no país. Três agentes penais federais foram executados brutalmente nesses planos de retaliação. 

Um dos crimes foi em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e os outros dois no Paraná, onde fica a Penitenciária Federal de Catanduvas, um dos cinco presídios federais de regime diferenciado. Ao todo, são cinco unidades, para onde passaram a ser transferidos e isolados alguns dos líderes do PCC e de outras facções. Além do Paraná, elas estão em Brasília  (DF), Campo Grande (MS), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).

No Paraná, as vítimas foram o agente penal Alex Belarmino Almeida Silva, que tinha 36 anos, executado com 23 tiros, dentro do carro, um quilômetro após sair de casa, por quatro membros do PCC, em 2 de setembro de 2016; e a psicóloga Melissa de Almeida Araújo, de 37 anos, assassinada com dois tiros de fuzil na cabeça, dentro do carro, na frente da filha de dez meses e do marido, quando chegava em casa, em um condomínio, por quatro homens da facção, em 25 de maio de 2017.  

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Agentes penais cobram justiça no caso Melissa, executada em 2017 | Senappen/Divulgação

As apurações da PF nos dois casos mostraram esquemas idênticos de estratégia de ação do PCC e que também foram observados no plano para ataques e sequestros ao ex-ministro da Justiça e atual senador Sérgio Moro. No caso atual, o esquema foi desmontado pela polícia com a deflagração da Operação Sequaz, na 4ª feira (22.mar), depois de quase dois meses de apuração.

Tanto na execução de Silva como de Melissa, o grupo do PCC alugou imóveis no Paraná, próximos das residências das vítimas, monitorou por cerca de dois ou três meses os passos dos vigiados, levantou armamento com outros membros da facção, arrumou carros, locais de armazenamento das armas, desenhou rotas de fuga e áreas de risco. Os assassinos do agente foram condenados em 2021 e 2022.

No caso de Melissa, os cinco acusados do PCC começaram a ser julgados neste ano no Tribunal do Júri, na 13ª Vara Federal de Curitiba. O crime é atribuído a Roberto Soriano, o Tiriça, uma das principais lideranças da facção e diretamente envolvido nos planos de resgate a Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola - outra liderança da facção.

Projeto M2

Alertada pelo Ministério Público de São Paulo sobre o plano de ataques revelado por um informante, em fevereiro, a PF passou a monitorar quatro telefones dos criminosos e descobriu um plano avançado, que estaria em execução desde setembro de 2022. 

Havia contabilidade do PCC, desde valores gastos com compra de armas, transportes, imóveis alugados para execução do monitoramento e dos crimes, armamento compartilhado, documentos falsos, carros blindados, levantamento de câmeras nos locais, carro clonado da polícia, entre outros.

Na decisão que autorizou a PF a prender 11 membros do PCC e fazer buscas e apreender material em 24 endereços, a juíza destacou a semelhança dos casos, para justificar a necessidade de ação.

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"Importante ressaltar que os dados levantados pela Autoridade Policial nestes autos denotaram a adoção do modo de operação da facção muito semelhante àqueles observados nos homicídios de Alex Belarmino Almeida Silva e Melissa de Almeida Araújo, agentes penitenciários federais lotados na Penitenciária Federal em Catanduvas/PR", destacou a juíza Gabriela Hardt, no despacho que autorizou a Operação Sequaz.

"A apuração de tais crimes demonstrou que a ordem de execução para o assassinato dos dois foi determinada por membro da alta hierarquia do Primeiro Comando da Capital - PCC que estava custodiado dentro do Sistema Prisional Federal."

Nos três crimes do PCC alvos da PF, houve levantamento prévio sobre os alvos, locais, armamento pesado compartilhado, uso de drones, documentos falsos, carros blindados, carro clonado, entre outras semelhanças.

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Denúncias

O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal trabalham na análise do material apreendido e cruzam com os dados levantados anteriormente para oferecer denúncia criminal, nas próximas duas semanas, contra os presos da Operação Sequaz. Foram recolhidas provas em 24 endereços, em quatro estados (São Paulo, Curitiba, Mato Grosso do Sul e Rondônia) e no Distrito Federal.

O inquérito da PF foi aberto em 3 de fevereiro, após o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP de São Paulo compartilhar os dados das investigações. Além de Moro, outras autoridades seriam alvos.

Crimes que devem ser denunciados:

  • Extorsão mediante sequestro - 12 a 20 anos de prisão (24 a 30 anos se resulta morte); 
  • Organização criminosa - 3 a 8 anos de prisão;
  • Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e proibido - 2 a 4 anos e 3 a 6 anos de prisão e multa

Ao determinar a prisão de 11 investigados do PCC, a juíza federal de Curitiba Gabriela Hardt destaca que a "reiteração das condutas dos investigados ao longo de 8 meses (no mínimo), mais uma vez, demonstra que se a expressão "personalidade voltada para o crime" existe no Direito, ela se consubstancia nos principais investigados" da Sequaz.

"RESTRITA05"

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Mas quem são as principais lideranças do plano do PCC contra Moro? O SBT News consultou os documentos do inquérito e de outros processos para mostrar quem são os principais alvos do MPF e da PF.

"RESTRITA05" era o nome do grupo de cinco ou seis lideranças que estavam no comando do plano de ataques em Curitiba, que segundo a PF começou a ser executado em setembro de 2022. 

Os líderes do plano do PCC contra Moro seriam cinco integrantes de um grupo da facção denominado por eles de "sintonia restrita", responsáveis por operações sensíveis como ataques, sequestros e assassinatos de autoridades, execuções de ex-membros entre outras.  

As apurações mostraram que o plano estava em execução avançada. Havia registro de contabilidade do PCC, desde valores gastos com compra de armas, transportes, imóveis alugados para execução do monitoramento e dos crimes. 

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Janeferson, o Nefo, e sua mulher, Aline Paixão | Reprodução

Sob proteção da Justiça, em um processo contra o PCC em São Paulo, ele revelou no início do ano que Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, estava coordenando a operação. 

Também conhecido como NF ou Dodge, Nefo seria o coordenador do plano, que incluía outros nomes importantes do PCC, comandava a equipe de monitoramento dos passos de Moro e família, em Curitiba - o senador é identificado pelo codinome Tokio nas mensagens e registros do PCC. 

Em conversas com uma de suas mulheres, Aline Paixão, Nefo estava também em videoconferência com os parceiros do plano e a PF registrou algumas das imagens. Nelas é possível ver Forjado, Guinho, Rê, e El Sid (que usa um telefone com DDI da Bolívia).

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Apesar de Nefo ser o principal nome da célula do PCC chamada sintonia restrita, o integrante mais graduado da facção acusado no plano é Patric Uelinton Salomão, o Forjado.

"Todos são criminosos conhecidíssimos no meio policial e desfrutam de postos elevadíssimos na organização criminosa PCC, sendo que esse grupo foi identificado até o momento como "Restrita 05", composta por cinco integrantes conhecidíssimos da orcrim PCC no Brasil, inclusive Patric, vulgo Forjado", registra a PF.

Recém saído do sistema penitenciário, Forjado é o mais graduado membro do PCC. Ele é considerado membro do topo da facção, os chamados "sintonia dos 14" ou "sintonia final". Estava preso na Penitenciária Federal de Brasília e retornou para São Paulo, onde foi colocado em liberdade em fevereiro.

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Para o delegado Martin Purper, do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise) da PF de Cascavel (PR), "há indícios de que o grupo "05 novo" seja dos integrantes da célula da restrita 05 do PCC, o qual tem Nefo como um dos líderes".

Um membro ativo no plano sob comando de Nefo era Reginaldo Oliveira de Sousa, o Rê. Fora dos presídios, ele atuaria em uma célula responsável pelas execuções e sequestros. Nefo e Ré foram presos pela PF, na Sequaz. O primeiro estava na região de Campinas, no interior de São Paulo, e o segundo, na Baixada Santista, litoral paulista.  

Outro cabeça no plano foi Valter Lima Nascimento, o Guinho, que foi preso em janeiro por policiais da Rota, em São Paulo. Ele é homem de confiança de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, um dos cabeças do PCC, que coordenava o tráfico internacional de drogas de fora dos presídios e foi preso em 2020, em um hotel de luxo, em Moçambique, África.

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O então ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou na época, em redes sociais, que a prisão do traficante, que estava há 21 anos foragido, foi um "golpe poderoso" no PCC. A operação foi uma parceria entre a PF, a polícia antidrogas norte-americana DEA (Drug Enforcement  Administration) e o Departamento de Polícia de Moçambique.

Circuito-fechado

A PF destaca que os membros do PCC para "não serem descobertos", usavam um "circuito fechado" com a troca de telefones quase que semanalmente a fim de evitar as possíveis interceptações telefônicas e rastreamento.

As sintonias são como setores do PCC, comandados por membros da facção, que cuidam de diferentes áreas, do tráfico de drogas, da lavagem de dinheiros, dos sequestros e execuções. Forjado não foi preso na Sequaz, os policiais não o localizaram.

As análises do material apreendido nos endereços de Nefo, sua mulher, e dos outros líderes da "Restrita05" devem dar pistas para a PF. 

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