MPF denuncia ex-agentes da ditadura por morte de membro do PCB
Vítima teria sido torturada durante 20 dias em um centro clandestino de repressão, em 1975
Construção aos fundos da chamada Casa de Itapevi, com características de cela improvisada (Ana Carolina Neira/Eder Content)
SBT News
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O Ministério Público Federal (MPF) apresentou uma nova denúncia contra os ex-integrantes do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) Audir Santos Maciel e Carlos Setembrino da Silveira pelo assassinato de Elson da Costa, ex-membro da direção do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O crime teria ocorrido em 1975, durante a ditadura militar (1964-1985).
Segundo o MPF, Audir e Carlos prenderam e torturaram a vítima durante 20 dias - com apoio de outras pessoas já falecidas - em um antigo centro clandestino de repressão, na chamada Casa de Itapevi, região metropolitana de São Paulo, além de terem ocultado o corpo. Este foi incenerado, esquartejado e jogado no Rio Novo, em Avaré (SP), e até hoje seu paradeiro é desconhecido.
O MPF explica que documentos do Exército e um depoimento do ex-analista de informações do DOI-CODI Marival do Canto comprovam o modo como a morte ocorreu. A vítima, que atuava ainda na produção e distribuição do jornal Voz Operária, do PCB, foi presa no dia 15 de janeiro de 1975, em Santo Amaro, distrito da capital paulista. Dois dias antes, militares haviam encontrado a gráfica clandestina usada para a impressão do periódico, no Rio de Janeiro.
Na época do ocorrido, estava em curso a Operação Radar, que pretendia exterminar integrantes do PCB e culminou no assassinato do jornalista Vladimir Herzog também, por exemplo. Participantes dela, Audir comandava o DOI-CODI do II Exército, enquanto Carlos estava entre os responsável pelo funcionamento da Casa de Itapevi, ou Boate Querosene, imóvel que pertencia ao irmão dele e ficava em uma área afastada do município.
Agora, os ex-agentes da ditadura são acusados de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver. O MPF pede que, na condenação, a Justiça Federal considere diferentes fatores agravantes, como o emprego de tortura, o motivo torpe para o crime (perseguição política) e o abuso de poder.
Além disso, a instituição solicitou o cancelamento das aposentadorias e as condecorações dos quais os denunciados dispõem. Para o procurador Andrey de Mendonça, autor da denúncia, a morte de Elson é imprescritível e impassível de anistia, pois constitui crime contra a humanidade.