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Saiba como é ser um correspondente internacional

Saiba como é ser um correspondente internacional
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Por Rafael Carvalho

Ser correspondente internacional de uma emissora de televisão não é tarefa fácil para qualquer jornalista. O repórter do SBT Jacques Gomes Filho, que está desde maio nos Estados Unidos, conta com exclusividade ao site SBT como é a profissão de jornalista em outro país.

Ele já trabalhou em quase todos os países da América Latina - com exceção apenas das Guianas e Suriname -, algumas ilhas do Caribe, Europa e Estados Unidos. Em 1999, morou seis meses em Paris, na França, onde fez alguns freelas, e este ano desembarcou na terra do Tio Sam após uma passagem pelo México para cobrir o início do surto da Gripe Suína. “Devo ficar por aqui até a volta à ativa da nossa colega Yula Rocha [que está de licença maternidade], em setembro”, conta o jornalista.

Nas próximas linhas, Jacques Gomes Filhos fala da distância da família, do dia-a-dia de trabalho de um correspondente internacional, das dificuldades de morar em outro país e dos momentos marcantes de sua carreira.


Como você lida com a distância da família?
Já faz quatro anos consecutivos que moro sozinho e vivo fora do Brasil. Nem sempre é fácil lidar com essa distância, mesmo morando em cidades como New York e Buenos Aires, tão próximas - física e culturalmente - das nossas terras. A tecnologia ajuda bastante a encurtar as distâncias com meus seres queridos, especialmente minha família. Falo com eles mais de uma vez por semana e muitas vezes nos vemos e trocamos mensagens através da internet. A saudade aperta mais quando aparecem sequências de viagens por coberturas diversas, como aconteceu agora há pouco com minha ida à Gary, Indiana, cidade natal de Michael Jackson. Sinto como se o movimento e a distância intensificassem o tempo e a solidão. Mas como amo o que faço, também tiro muito prazer e companhia do próprio ofício. Aprender a lidar consigo mesmo é uma grande aprendizagem dessa profissão.

Como é seu dia-dia de trabalho aí nos EUA? Você é pautado pela direção de jornalismo no Brasil?
Os dias variam muito, mas uma coisa não muda: tem que acordar cedo e ler os principais jornais do país. No papel, mesmo, só o The New York Times e o Wall Street Journal, além das revistas Newsweek e TimeOut NY. Os demais são as versões on-line, que, em geral, vêm bem completas e sempre mais atualizadas. Aliás, como nosso fechamento acontece à noite, é fundamental ficarmos conectados aos sites informativos para acompanhar a evolução das matérias ao longo do dia - quais vão ganhando força e relevância, quais vão perdendo. Isso tudo acompanhado pelos colegas da redação, que estão sempre próximos graças, mais uma vez, à internet. Desde cedo avaliamos juntos quais os assuntos mais interessantes do dia, trocando informação de um lado e de outro, buscamos sempre fatos que aproximem a matéria dos brasileiros. Uma vez definido o assunto, é sair para a rua atrás das histórias e seus personagens.

Qual a maior dificuldade em morar a trabalho em outro país?
A maior dificuldade talvez seja a chegada em outro país, seja ele qual for. Porque a gente se acostuma, aprende a trabalhar no lugar, conhece pessoas, boas fontes de informação. Mas como tudo isso leva um tempo para se construir, o começo é sempre mais difícil. Uma vez que a network esta montada o trabalho deslancha. Conhecer com propriedade a língua e saber se mover pelas cidades também é fundamental. Ainda não morei em lugares realmente diferentes do Brasil, como a China ou algum país da África ou do Oriente Médio. Ai, sim, creio que a adaptação deve levar mais tempo. Porque existem códigos culturais que vão muito além da língua bem falada. É preciso saber a maneira de abordar uma pessoa na rua, de entrar na casa de alguém quando é convidado, de agradecer a comida, por exemplo. Coisas em que nem pensamos quando estamos no Brasil, porque já fazem parte de nossos hábitos. Mas que fora do país podem fazer a diferença entre conseguir ou não uma boa matéria.

Você esteve na selva colombiana, onde entrevistou guerrilheiros das FARC. Como foi essa experiência?
Visitar um acampamento das FARC foi mais que uma ótima experiência profissional. Na verdade, foi uma grande experiência pessoal, talvez a mais arriscada e enriquecedora de minha vida até agora. Depois de mais de 4 meses de contatos, consegui convencer o então porta-voz e número 2 da guerrilha a nos receber. Na época, Raúl Reyes coordenava as negociações para trocar os reféns que as FARC mantinham na selva por guerrilheiros presos pelo governo da Colômbia. Viajei por 20 dias. Muitas vezes era levado de uma vila a outra, sempre muito pobres, na fronteira com o Equador, para "despistar" os serviços de inteligência colombiano. Foi uma entrega total a um assunto que sempre me fascínou nestes 11 anos que trabalho pela América Latina. Tive muita sorte: consegui chegar ao acampamento, entrevistar Raúl Reyes, e levar, com exclusividade, aos telespectadores do SBT um assunto que dominou os noticiários de todo o mundo.

Já houve momentos em que teve medo ou correu risco em alguma reportagem?
Sem dúvida. O momento de maior risco foi a própria cobertura das FARC. O medo só veio meses depois, com a morte do Raúl Reyes. Porque ali dentro da selva me sentia seguro. Afinal, estava ao lado de um homem mais procurados do mundo, que há 30 anos vivia na ilegalidade, rodeado de homens para protegê-lo. No mínimo ele sabia como se esconder, eu pensava. A fragilidade e o medo só vieram depois, quando soube da morte dele e de outros 19 guerrilheiros, ali, mesmo, numa área bem próxima àquele acampamento em fiquei por 4 dias.
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