Publicidade
Jornalismo

Invasão russa à Ucrânia é ponto de inflexão na história

Conflito entra na sua segunda semana sem perspectiva de um fim próximo. Negociações de cessar-fogo fracassaram

Imagem da noticia Invasão russa à Ucrânia é ponto de inflexão na história
refugiados cruzam ponte para sair da Ucrânia
• Atualizado em
Publicidade

Nesta 5ªfeira (10.mar), completa duas semanas da invasão russa à Ucrânia. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ao menos 516 civis, incluindo 37 crianças, já morreram desde 24 de fevereiro, quando as primeiras cidades foram bombardeadas. Negociações de um possível cessar-fogo entre as duas nações, que aconteceu na Turquia, entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov, e o ucraniano, Dmytro Kuleba, fracassaram. 

Sem perspectivas de um fim próximo, o conflito deve redimensionar o cenário geopolítico europeu e global e, embora ainda estejamos no meio dele, irá trazer uma série de impactos para as relações internacionais, avalia o professor e vice-coordenador do curso de graduação em relações internacionais da FGV, Pedro Brites.

+ Leia as últimas notícias sobre a guerra na Ucrânia

+ Diário da Guerra 15: siga as últimas informações sobre o ataque à Ucrânia

"É cedo ainda para a gente dizer que tipo de transformação esse conflito vai trazer, mas com certeza ele vai ser um ponto de inflexão muito significativo em vários sentidos. Podemos observar isso como efetivamente um reflexo da multipolaridade, ou seja, você não tem mais os Estados Unidos capazes de controlar as relações internacionais como era há 20 anos. Então, você vai ter ações mais deliberadas de outros atores, como é o caso da Rússia, mas também temos outros polos, como a China por exemplo, que são significativos dentro do sistema Internacional e mais do que isso, acho que a gente vai ter que ver como isso vai impactar nas próprias relações europeias e da própria posição que a Rússia vai ter depois desse conflito. Isso tudo com certeza vai redimensionar um pouco como observamos o cenário geopolítico europeu e global nesses últimos 20 anos".

O fato de envolver uma grande potência como a Rússia e o conflito estar ocorrendo no continente europeu explica o ineditismo de sanções estarem sendo aplicadas com tanta velocidade e por atores que, até então, eram neutros, ou não tinham interesse em se posicionar em conflitos, como empresas privadas.

Até o momento, empresas como Apple, McDonalds, Ferrari, Starbucks e Shell, já anunciaram a suspensão total ou parcial de suas operações na Rússia. Bancos russos também foram cortados do sistema Swift de transferência internacional. Além disso, Suíça e Finlândia, que têm uma tradição histórica de neutralidade, se posicionaram contra a invasão do território ucraniano. 

A globalização e impactos comerciais negativos podem explicar esse posicionamento até então inédito, segundo Brites.

" O fenômeno da globalização de forma mais ampla trouxe maior relevância para atuação dessas companhias privadas e empresas transnacionais que exercem um papel crucial nesse processo de internacionalização do capital", explica o professor, que detalha: "o impacto que as ações da Rússia tiveram e o que isso pode gerar da própria capacidade dessas empresas de continuarem mantendo os seus negócios acabam também as obrigando a se posicionarem, de se manifestarem, né? É claro, muitas delas, dependendo do setor, têm mais alinhamento ou não com as potências ocidentais, e isso também as conduz a terem posições mais assertivas frente a ação russa na Ucrânia."

Sanções em larga escala, no entanto, podem dificultar o fim do conflito. Sem espaço para diálogo e diplomacia, dificilmente os atores concordarão em desistir de suas demandas, no caso da Rússia, de que a Ucrânia se comprometa em nunca integrar a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e que reconheça a independência das regiões separatistas de Donbass. 

"Isso é a grande questão, o quanto ainda vai existir algum espaço de manobra para negociação. Me parece hoje que a própria Ucrânia tenta fazer isso estabelecendo negociações com a Rússia nesse sentido, mas eu diria que num primeiro momento a ação foi tão forte que ela de certa forma não deixava a Rússia, talvez até empurrasse, a continuar sua ação militar. Então, existe essa grande questão: você precisa dar uma resposta dura, uma resposta que corresponda os interesses das potências ocidentais, mas ao mesmo tempo precisa deixar algum espaço para que a Rússia possa dar um passo para trás se ela precisar, se ela quiser, se ela tiver a possibilidade, mas hoje a gente ainda não vê isso com muita clareza", comenta o especialista.

No entanto, a resposta ao atual conflito não representa um ponto de inflexão na diplomacia de forma geral, opina Brites. Para o professor, a resposta é mais um resultado da dimensão do evento e a preocupação dos atores envolvidos é do que pode ocorrer caso a resposta à Rússia não seja forte o suficiente.

"A preocupação que eu diria é a seguinte: 'Ok, se você não dá uma resposta muito forte agora em relação à Rússia, o que pode acontecer nas próximas vezes que alguma dessas outras grandes potências, como a Rússia, como a China, como a Índia, se sentirem ameaçadas? O que que elas vão fazer no seu entorno? Elas vão ter uma resposta similar que a Rússia está tendo na Ucrânia? Então, de certa forma é uma indefinição de como vai se responder esses novos desafios que parecem surgir no horizonte do sistema internacional", finaliza.

Publicidade

Últimas Notícias

Publicidade
Publicidade